Geógrafos e a análise do Estado Social em destaque
Conheça os pesquisadores da UFG por trás do Observatório do Estado Social Brasileiro
Carolina Melo
Quando o vírus SARS-CoV-2 chegou em terras brasileiras, o país já estava em meio a uma crise que se manifestava pelo desemprego, pela deterioração da renda e ameaça constante de privatização dos serviços públicos. Foi, então, com o aprofundamento da crise gerada pela pandemia que a importância do Estado Social se reafirmou, com a urgência dos serviços públicos de Saúde, da suplementação de renda, e com as pesquisas e serviços realizados pelas universidades públicas. Os pesquisadores da UFG que já lidavam, antes, com a temática, passaram a analisar o momento em meio à pandemia e a reafirmar a necessidade de restituição do Estado Social.
A criação do Observatório do Estado Social Brasileiro, vinculado ao Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da UFG, passou a contribuir, assim, com a análise científica da atualidade. Tendo como objetivo acompanhar a evolução das políticas públicas do Brasil por meio da materialização dos dados e indicadores da Saúde, do Trabalho, da Renda, Previdência, Assistência Social e da Educação, o Observatório foi criado para suprir a falta de informações sobre a intervenção do Estado e para acompanhar os destinos das políticas públicas do País. Em meio ao atual cenário, o portal vem fornecendo análises sobre o papel do Estado no combate à pandemia. “É papel do Observatório, portanto, tentar comunicar que a erosão do Estado nesse momento em nada contribui para a superação da crise”, afirma o professor do Iesa, Tadeu Alencar Arrais.
Vinculados ao projeto, os professores da UFG, Tadeu Arrais e Adriano Rodrigues de Oliveira, trazem na sua biografia pessoal e acadêmica o poder de transformação dos serviços públicos oferecidos pelo Estado. Em 1988, ainda com 15 anos de idade, Tadeu trabalhava de carteira assinada como servente na Construção Civil. Trinta e dois anos depois, ocupa o cargo de professor efetivo da UFG e de pesquisador bolsista de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sua trajetória tem a marca das instituições públicas de ensino. “A minha formação nasceu do encontro do mundo do mercado formal na Construção Civil com as instituições públicas de ensino. A experiência na escola pública, e depois na Universidade, somou-se às experiências de trabalho. E a percepção ingênua sobre a cidade a partir da construção civil começou a mudar. Talvez isso tenha influenciado, por exemplo, o gosto pela pesquisa urbana, pelo planejamento urbano, e pela geografia da cidade”.
Os olhares do professor Tadeu Arrais inicialmente fitaram a cidade do alto dos edifícios em obras, entre colunas e concretos, até se direcionarem, dentro dos espaços universitários, para o interesse nas linhas de pesquisa dos Estudos Urbanos e, depois, do Estado Social e das políticas públicas. A cidade, pela atual perspectiva do olhar do pesquisador, é mirada pelo ponto de vista da habitação e do saneamento, “que tem tudo haver com o atual momento”. Também é percebida pela relação da cidade com as políticas de recomposição e transferência de renda monetária. “A gente vive um período de erosão da renda, e viveremos ainda durante esse ano inteiro”.
Não diferente, professor Adriano Oliveira tem toda a sua formação vinculada ao acesso à Educação pública e às bolsas de estudo. “Minha trajetória, da graduação ao doutorado, é marcada pela importância da Universidade pública. Se não fosse ela, hoje não seria um professor universitário”. Durante a graduação e o mestrado em Geografia, professor Adriano foi beneficiado pela bolsa permanência, bolsa de iniciação científica e de mestrado. “O amparo institucional foi fundamental para que pudesse me dedicar integralmente à pesquisa, seja no nível de iniciação científica, seja no mestrado e, posteriormente, no doutorado”. O doutorado, feito com o auxílio da bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), permitiu a experiência do estágio sanduíche na Universidade de Toulouse, no sul da França, conta o professor.
Filho de camponeses, a origem rural familiar impulsionou o interesse pelos temas de pesquisas do professor Adriano Oliveira. Com os pais vivendo no campo até 2009, como meeiros, tendo uma trajetória de vida dedicada ao trabalho rural e sendo beneficiados pela aposentadoria rural, o pesquisador, ao longo de sua formação, buscou entender o campo brasileiro e a questão agrária como elemento fundante e, mais, quais políticas públicas viabilizam a permanência do homem no campo. “Toda minha trajetória tem uma aliança entre minha herança camponesa e minha preocupação, na academia, com as possibilidades de construção de condições mais dignas de vida ao homem e à mulher do campo”.
Assim como chama atenção professor Adriano, ao entrelaçar o caminho de sua formação acadêmica com a sua origem familiar e com a história de seus pais, que hoje vivem com o auxílio da aposentadoria rural, ele também está falando sobre as políticas públicas do Estado que compõem a agenda do Observatório do Estado Social Brasileiro. “Então em alguma medida é isso que vai delineando a minha trajetória de pesquisa”, afirma.
Observatório
Os caminhos pessoais e acadêmicos dos pesquisadores da UFG, Tadeu Arrais e Adriano Oliveira, permitiram o encontro dos interesses e agendas de pesquisa. O Observatório do Estado Social Brasileiro vem unindo, portanto, os dados, informações, análises e levantamentos da aplicação de políticas públicas no território brasileiro, entre elas, Bolsa Família, aposentadoria rural, previdência urbana e Benefício de Prestação Continuada (BPC). O projeto foi concretizado em 2019 com o financiamento do CNPq e ganha novos contornos de análises com a pandemia. “Especialmente agora, nós vivemos um período de necessária intervenção do Estado, primeiro para gerar emprego, segundo para gerar renda. E também para as políticas de transferência de renda direta e indireta”, afirma professor Tadeu.
Assim como explica Adriano Oliveira, o Observatório é resultado de um esforço de se pensar a “ossatura” do Estado “nas suas diferentes políticas públicas”, sejam direcionadas ao campo, à cidade, por meio da adaptação rural, urbana, por meio da comercialização de produtos, acesso à alimentação escolar. “Há toda uma miríade de temas que compõem essa ossatura de dados que hoje estão disponibilizados no Observatório do Estado Social Brasileiro e que dialogam com a pandemia e de como a sociedade brasileira se estruturou o passado”.
Breve currículo dos pesquisadores
Tadeu Pereira Alencar Arrais - Possui graduação (1997) e mestrado em Geografia (2002) pela Universidade Federal de Goiás e doutorado em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (2005) e Pós-Doutorado na UFC (CE). É professor Associado da Universidade Federal de Goiás e integra o corpo docente do programa de pesquisa e pós-graduação em geografia (doutorado e mestrado). É Editor do Boletim Goiano de Geografia e integra o Conselho Editorial da revista Mercartor, da Revista da ANPEGE e do Boletim Campineiro de Geografia. Tem publicado regularmente artigos sobre a problemática urbano e regional em periódicos especializados na área de geografia, além de livros sobre geografia urbana e geografia de Goiás. É Coordenador da Rede Goiana de Pesquisa em Desenvolvimento Regional e Análise da Informação Geográfica. Atualmente desenvolve pesquisa financiada pelo CNPq sobre os impactos das transferências de renda (Bolsa Família, Aposentadoria Rural e Benefício de Prestação Continuada) na economia dos municípios brasileiros. Contemplado em 2013 com Bolsa de Produtividade do CNPq, Nível 2, com renovação para Produtividade em Pesquisa 1D, em 2016.
Adriano Rodrigues de Oliveira - Possui graduação (2000), mestrado (2003) e doutorado (2010) em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de Presidente Prudente - SP. É líder do Grupo de Estudos e Pesquisas Trabalho, Território e Políticas Públicas (TRAPPU) vinculado ao Laboratório de Estudos e Pesquisas das Dinâmicas Territoriais (LABOTER), pesquisador colaborador do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Dinâmica Regional e Agropecuária (GEDRA) da FCT/UNESP/SP. Fez estágio sanduíche na Université de Toulouse - Le Mirail (França) entre os meses de setembro de 2008 e fevereiro de 2009. Atualmente é Professor Associado da Universidade Federal de Goiás (UFG). É professor nos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Geografia, Câmpus Samambaia de Goiânia/GO. Atualmente é vice-diretor do Instituto de Estudos Socioambientais (IESA) da UFG (Gestão 2018-2021). Tem experiência na área de Geografia Humana, com ênfase em Geografia Agrária, atuando principalmente nos seguintes temas: políticas públicas, associativismo, agricultura camponesa, agroecologia e desenvolvimento rural.
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Fonte: Secom UFG
Categorias: Bastidores da Ciência Iesa Institucional