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Universidade Federal de Goiás
Feminismo

No dia da mulher, UFG debate feminismo acadêmico

Em 08/03/22 08:30. Atualizada em 08/03/22 09:07.

Programa Enredos Digitais recebe Cecília Maria Bacellar Sardenberg

Carolina Melo

As mulheres não querem flores, apenas. Querem, sobretudo, respeito igualitário à sua existência tanto no âmbito público, quanto no privado. E nesse dia 8 de março, que marca a atuação política e militante da mulher no mundo, a Universidade Federal de Goiás (UFG) discute o “feminismo acadêmico”. Expressão que, segundo a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Cecília Maria Bacellar Sardenberg, “vem há tempos sendo utilizada” em referência à produção teórica feminista e também ao feminismo que se pratica no espaço acadêmico. A professora é a convidada do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos (PPGIDH) da UFG para discutir o tema no Programa de Extensão Enredos Digitais.

O fazer feminista na Ciência e na universidade, para Cecília Sardenberg, “não só é possível como se faz necessário, seja como crítica ao androcentrismo nas ciências, seja no tocante à desconstrução das práticas e estruturas patriarcais acadêmicas”. O debate levantado pela docente nunca deixou de ser atual. Como o Jornal UFG já relatou, apesar de as mulheres sempre estarem presentes na construção do conhecimento científico, desde os seus primórdios, a falta de representantes femininas nas narrativas históricas sobre a ciência ilustra a realidade de enfrentamento daquelas que decidiram se enveredar para a carreira científica.

Quando se trata do feminismo acadêmico, conforme expõe a docente da UFBA, entra-se no campo de formação e produção acadêmica, mas também de ativismo político. “Creio ser equivocado pensar esse campo como algo contrário ao ativismo político, uma vez que ele abre espaço para a reprodução e transformação dos feminismos, para a formação de novas gerações de feministas”, diz. Mesmo lançando luz às tensões entre os estudos e o ativismo feminista no Brasil ou mesmo na América Latina como um todo, a professora chama a atenção para o fato de o feminismo acadêmico ser “um importante ‘braço’ do ativismo feminista”. 

Cecília Sardenberg
Cecília Maria Bacellar Sardenberg (Foto: arquivo pessoal)

“Tenho mais de 45 anos de vida acadêmica e posso afirmar, com toda convicção, que fazer feminismo acadêmico no Brasil implica lutas constantes para garantir a legitimidade e espaço para o desenvolvimento de nossos cursos, estudos, pesquisas e atividades de extensão universitária”.

Se ser mulher e fazer ciência desde sempre foi uma postura política no Brasil, o cenário se tornou desafiante após “o golpe de 2016 contra o governo Dilma” e a entrada, em 2019, de um “governo retrógrado, antifeminista, anticientífico, em guerra com as universidades e com o que definem como ideologia de gênero”, analisa Cecília. “Por isso mesmo, temos um papel fundamental na luta contra o Estado que ora se volta contra os feminismos e, em especial, contra os estudos de gênero, incentivando uma onda de backlash contra nossas conquistas, contra nosso trabalho ou mesmo contra a nossa existência”.

Apesar de preocupada com o atual momento do país e “com o avanço do do fundamentalismo religioso” nas esferas de poder, a professora Cecília chama a atenção para a importância de se articular frentes de batalha e de defesa dos estudos realizados por mulheres na academia e também de defesa da democracia. “Trata-se de um momento de retrocesso no tocante às conquistas no plano dos direitos humanos e sociais — de verdadeira ameaça à democracia —, como também de ameaça ao desenvolvimento da cultura e da ciência e tecnologia. Precisamos articular frentes de batalha para defendermos a continuidade de nossos estudos e defendermos a democracia em nosso país. Sem esquecer as questões que nos afetam, mais especificamente, enquanto mulheres. Dentre elas, nossa luta no que tange ao enfrentamento da violência de gênero contra mulheres – inclusive a violência política de gênero -, quanto pelos nossos direitos sexuais e reprodutivos”.

Curiosidade: dia 8 de março, uma data das mulheres antes de 1911

Mesmo o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, ter quase sempre como referência a morte de 130 operárias carbonizadas em um incêndio em uma fábrica tèxtil de Nova York em 1911, intelectuais feministas resgatam a origem da data antes desse episódio e que remete, na verdade, ao histórico de manifestações trabalhistas de mulheres operárias na Europa e nos Estados UNidos nas primeiras décadas do século XX.

Para se ter ideia, conforme apresenta a professora da UFBA, Cecília Sardenberg, em agosto de 1910, por exemplo, “Clara Zetkin, uma liderança socialista na Alemanha, trouxe para a reunião da Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas a proposta de criação de uma “jornada de manifestações” para denunciar” as terríveis condições enfrentadas pelas mulheres operárias, a começar pela jornada de trabalho de mais de 16 horas. “Não propunha uma data específica, mas, em tempo, tomou-se o 8 de março (23 de fevereiro no antigo calendário russo) como dia para tal manifestação. Esse dia correspondeu a uma grande manifestação de mulheres operárias na Rússia, contra a fome e a Primeira Guerra Mundial, tornando-se um dos primeiros movimentos que levaram à revolução russa contra o czarismo”.  

“Por muito tempo, essa data só era comemorada nos países socialistas, como um dia de celebração da ‘mulher heróica e trabalhadora’.  Em 1975, quando da celebração do Ano Internacional da Mulher pela ONU, o 8 de março foi oficializado como Dia Internacional da Mulher, marcado como dia de celebração das conquistas e da definição das lutas das mulheres em prol de sociedades mais justas, mais igualitárias. Não é o que o comércio transformou em dia de dar flores, mas sim uma data que marca uma jornada de lutas contra as desigualdades de gênero que ainda estruturam nossa sociedade”

Leia a entrevista de Cecília Maria Bacellar Sardenberg na íntegra

Assista a live do Programa de Extensão Enredos Digitais, que discute Feminismo Acadêmico

Mais informações:

Ser mulher e fazer ciência

 

Fonte: Secom UFG

Categorias: destaque 8 de março Dia Internacional da Mulher Institucional