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Universidade Federal de Goiás
Agrotóxicos

Exposição a agrotóxicos pode estar associada a maior incidência de câncer entre trabalhadores rurais goianos

Em 24/10/23 18:13. Atualizada em 12/12/23 16:21.

Predisposição genética, abuso de álcool e cigarro e pouca utilização de EPIs aumentam o risco da doença

Texto: Luiz Felipe Fernandes
Fotos: Carlos Siqueira

O câncer é uma doença multifatorial, com causas genéticas, ambientais e relacionadas ao estilo de vida. Em Goiás, trabalhadores rurais com predisposição genética para o desenvolvimento de tumores e com histórico de uso excessivo de álcool e tabagismo enfrentam uma ameaça ainda mais grave: a exposição a agrotóxicos. É o que indicam estudos realizados no Laboratório de Mutagênese (LabMut) do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Uma pesquisa recente comparou o perfil de 59 trabalhadores que fizeram ou fazem tratamento contra o câncer no Hospital Araújo Jorge, em Goiânia, com o de 83 agricultores saudáveis. Thays Milena Alves Pedroso, que desenvolveu o estudo no doutorado em Genética e Biologia Molecular da UFG, explica que foram levantados dados socioeconômicos, informações sobre hábitos pessoais e rotina de trabalho, e coletadas amostras de sangue e mucosa oral.

 

Leia também: Agrotóxicos provocam lesão no DNA de trabalhadores rurais goianos

 

Agrotóxicos

Thays Pedroso pesquisou a exposição ocupacional aos agrotóxicos no doutorado em Genética e Biologia Molecular

 

Um primeiro dado que chama a atenção é o fato de essas pessoas em tratamento serem provenientes justamente de cidades com intensa atividade agrícola. Thays explica que Goiânia encabeça a lista porque muitos trabalhadores rurais, mesmo residentes no interior do estado, fornecem endereços provisórios da capital. Entretanto, municípios como Silvânia, Rio Verde, Jataí, Goianésia, Itapuranga e Formosa aparecem na sequência.

Outra característica observada nos questionários e nas visitas que as equipes do laboratório fazem nas propriedades rurais é a pouca ou inexistente utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). "Quando nós pensamos em vias de exposição, esse é um fator de risco para a saúde desses trabalhadores", alerta a pesquisadora. Entre os produtos citados pelos agricultores estão os agrotóxicos glifosato e atrazina, o herbicida 2,4-D e o fungicida priori xtra. Segundo os pesquisadores do LabMut, substâncias proibidas e clandestinas também são comumente observadas nas propriedades.

Thays explica que fatores culturais, educacionais e econômicos influenciam a pouca adesão aos EPIs. Segundo ela, estudos em outros países de clima tropical mostram que as altas temperaturas desestimulam o uso de macacão, avental, luvas e óculos de proteção. Além disso, há pouca informação e treinamento. Já em pequenas propriedades rurais, o trabalhador não tem sequer recursos financeiros para adquirir os equipamentos.

Câncer e exposição

Outro indicativo da relação entre a exposição aos agrotóxicos e o desenvolvimento de câncer está nos tipos de tumores identificados. A coordenadora do LabMut, Daniela de Melo e Silva, que orientou a pesquisa de Thays, conta que cânceres raros na população em geral, como os linfomas Hodgkin e não Hodgkin (que atingem as células do sistema linfático) e o mieloma múltiplo (que se origina na medula óssea), são frequentes entre os trabalhadores.

Já a incidência de tumores de cabeça e pescoço (boca, língua, laringe e faringe), além da exposição, estão relacionados aos hábitos de vida. Laura de Sousa Lopes e Miller Caldas Barradas, que dão continuidade ao estudo nos mestrados em Genética e Biologia Molecular e em Ciências Ambientais, respectivamente, relatam que a falta do EPI e o uso abusivo de bebida alcoólica e cigarro são situações frequentes nas propriedades rurais.

 

Agrotóxicos

Há dez anos pesquisadores do LabMut estudam danos genéticos em trabalhadores expostos a agrotóxicos

 

Lesões no DNA

Em 2019, uma pesquisa do LabMut verificou que trabalhadores rurais que atuavam na aplicação de agrotóxicos em lavouras do Sudeste e Sudoeste de Goiás apresentavam 4,5 vezes mais lesões no DNA que pessoas que não exerciam essa atividade. Os resultados foram obtidos a partir da análise de sangue e mucosa oral de 200 trabalhadores.

Os exames foram comparados aos de um grupo controle também composto por 200 indivíduos da mesma faixa etária, gênero e estilo de vida, mas que não tinham contato com os agrotóxicos. Dessa forma, foi possível estabelecer uma relação direta entre as lesões no DNA e a exposição a essas substâncias. Além disso, verificou-se que os danos são maiores quando a coleta é feita no período de pulverização de agrotóxicos nas lavouras.

 

Leia as outras matérias da série Alerta no Campo:

Sem informação, trabalhadores rurais com câncer procuram atendimento em estado grave
Pesquisadores da UFG querem incluir exames preventivos para trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos

Fonte: Secom UFG

Categorias: Alerta no campo Pesquisa LabMut ICB Ciências Naturais