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Universidade Federal de Goiás
Lilian Sais

Lilian Sais participa do circuito de poesias da Faculdade de Letras

Em 26/07/24 13:10. Atualizada em 07/08/24 13:54.

Poeta apresentou a obra "Palavra Nenhuma" dedicada à memória de seu pai

 

Lilian Sais

"Palavra Nenhuma", plaquete (livro curto de produção artesanal) de Lilian Sais, foi apresentada no circuito de poesias da FL (Foto: Evelyn Parreira)

 

Eduardo Bandeira 

O circuito Poesia Recente, promovido pela Faculdade de Letras (FL) da Universidade Federal de Goiás (UFG), recebeu na quarta-feira (24/7) a poeta e romancista Lilian Sais para a apresentação de sua nova plaquete – livro curto de produção artesanal –, "Palavra Nenhuma". O trabalho reúne poemas dedicados à memória de seu pai. A iniciativa foi organizada pelo diretor da FL, Jamesson Buarque, juntamente com as professoras Tarsilla Couto e Rose Carreira.

Como homenagem à artista, o grupo de vocalização poética Corpo de Voz, dirigido pelo professor Jamesson, interpretou as poesias da plaquete. A performance também contou com a locução da professora Tarsilla Couto. As poesias de "Palavra Nenhuma" transmitem de forma sensível e honrosa as memórias que Lilian Sais possui de seu pai.

Para Lilian, sua nova plaquete tem uma conexão profunda com seu romance ficcional "O Funeral da Baleia", que é dedicado à sua mãe e apresenta um personagem, Artur Pereira, inspirado em seu pai. No fim do romance, após o teto da casa desabar, Artur se deita e conta as estrelas, uma imagem que se relaciona com um presente mencionado em "Palavra Nenhuma", o telescópio.

 

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Lilian Sais

Poeta Lilian Sais e sua obra "Palavra Nenhuma", que reúne poemas dedicados à memória de seu pai (Foto: Evelyn Parreira)

 

Reverberar o luto

Na recente obra, a metáfora de navegação pelos astros é reforçada pelas escolhas vocabulares nos poemas, como o uso do verbo considerar, que tem na sua etimologia, considerare, o significado de "observar os astros" para navegação. Assim, "Palavra Nenhuma" é uma continuação da investigação sobre masculinidade iniciada em "O Funeral da Baleia". Além disso, embora rompa com os temas de deboche e humor de seus trabalhos anteriores, a autora acredita que a nova obra mantém momentos bem-humorados.

Após a leitura das poesias, Lilian participou de uma sessão de perguntas e respostas, onde compartilhou mais detalhes sobre sua história, seu processo criativo e a relação com seu pai. Ela revelou que, para escrever, costuma fazer experimentos aleatórios, como mudar a fonte das palavras, e descreveu a sensação de estranhamento positivo ao ouvir sua obra lida por outras pessoas.

A autora revelou ainda que, ao longo de seu fluxo de escrita é que decide se um projeto será uma coletânea de poesias ou um livro de prosa. Lilian comentou que pensou especificamente no luto em relação ao pai, mas destacou: "Eu gostava da ideia de que fosse uma coisa que reverberasse com as pessoas e que acompanhasse um pouco elas também nas suas perdas. Mas se a gente consegue fazer isso ou não, a gente só sabe quando as pessoas começam a ler e falar".

 

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Lilian Sais

A autora participou de uma sessão de perguntas e respostas, onde falou de seu processo criativo e a relação com seu pai (Foto: Evelyn Parreira)

 

A poeta, o pai e os navios

Lilian Sais compartilhou que, enquanto trabalhava há mais de um ano em um livro sobre diferentes tipos de embarcações, com um tom e dicção distintos dos de sua plaquete, recebeu a notícia da morte de seu pai. Na época, ela fazia parte de um grupo de escrita com Paulo V. Santanna e Ismar Tirelli Neto. Dois dias após a morte de seu pai, ela enviou um e-mail ao grupo informando sobre o motivo de sua ausência. Começou assim: "Há dois dias perdi meu pai". Após enviar o e-mail, teve a ideia de que isso poderia ser o início de um poema, embora não planejasse escrever sobre o luto novamente, já que o havia feito anteriormente no romance "O Funeral da Baleia". Ela vê a escrita como uma ferramenta útil para elaborar a realidade e decidiu escrever.

Quando retornou à oficina duas semanas depois, Ismar sugeriu delicadamente que redirecionassem o foco das investigações para o tema do luto, o que Lilian achou uma atitude gentil e aceitou, apesar de não estar certa se era uma boa ideia. Ela estava tão imersa na pesquisa sobre embarcações que, naturalmente, seus poemas sobre o pai e a perda acabaram incorporando figurações marítimas.

A conexão com o tema se fortaleceu quando, ao resolver questões burocráticas relacionadas ao falecimento, ela soletrou seu nome: "Lilian com n de navio". O episódio resgatou a memória de que seu pai costumava soletrar seu nome dessa forma. Essa associação levou Lilian a perceber que carregava um navio dentro de seu nome e a desenvolver um projeto de poemas que relacionavam ela, seu pai e os navios.

Incentivo à leitura

Lilian explicou que constrói seus livros em torno de uma ideia de efeito, para ajudar a organizar o tom, a dicção e a unidade do projeto. Após a morte de seu pai, ela começou a escrever projetos orientados por diferentes noções de efeito. Por exemplo, enquanto escrevia "Palavra Nenhuma", também trabalhava no romance "A Cabeça Boa", com ideias norteadoras distintas: o primeiro foi construído para ser uma homenagem bonita ao pai, enquanto o segundo visava ser intrigante e divertido, estimulando discussões entre os leitores.

Para a professora Tarsilla Couto, a vinda da poeta Lilian Sais incentiva a leitura da produção literária recente, seja de Goiás, seja do Brasil, e é uma das formas permanentes de conquista de novos leitores e de formação continuada de leitores. "Gosto muito de presenciar e mediar o contato entre as pessoas. Trazer a Lilian Sais para dentro da universidade é promover esse contato: poemas, gentes, inquietações, curiosidades, admirações – tudo ferve, tudo pode em um encontro como esse. Surgem leituras imprevistas, pesquisas são gestadas, e até mesmo novos escritores podem nascer assim. É muito produtivo, vivo, cheio de desdobramentos".

Tarsilla compartilha que, quando se formou em Letras, saiu da graduação tendo lido apenas duas poetas mulheres: Cora Coralina e Cecília Meireles. "Mas isso não significa que as mulheres não escrevessem. Significa que elas não eram publicadas, que não tinham recepção acadêmica e pouca circulação editorial". Isso está mudando graças a algumas transformações da mentalidade ocidental – são transformações lentas, produzem reações conservadoras, mas são reais.

Fonte: Secom UFG

Categorias: literatura Arte e Cutura FL