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Universidade Federal de Goiás
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Laboratório da UFG desenvolve teste focado em cosméticos infantis

Em 07/08/24 10:25. Atualizada em 07/08/24 16:31.

Modelo é fruto de parceria com o Grupo Boticário e avalia potencial de ardência ocular de cosméticos para bebês

William Correia

Uma nova proposta de teste na área de métodos alternativos ao uso de animais em pesquisa foi descrita na edição de junho do periódico científico Toxicology in Vitro, em artigo assinado por pesquisadores vinculados ao Laboratório de Ensino e Pesquisa em Toxicologia In Vitro (Tox In) da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás (FF/UFG) e ao Grupo Boticário.

O trabalho propõe um modelo de ensaio pré-clínico cujo intuito é avaliar o potencial de ardência nos olhos provocado por produtos químicos e cosméticos desenvolvidos para bebês. Em outras palavras, a ideia é que o teste batizado de "sens-ocular" sirva como uma espécie de termômetro para mensurar a capacidade de uma formulação provocar irritação nos olhos, antes mesmo dos testes em voluntários, aumentando a segurança do processo.

Para se chegar a essa possibilidade que simula de maneira satisfatória a reação do corpo humano, a alternativa foi empregar o uso de uma linhagem específica de células cultivadas em laboratório que foram importadas. Essas células possuem o receptor TRPV1, conhecido pela alta permeabilidade a íons de cálcio frente a algumas substâncias que produzem dor. Assim, após aplicar os produtos testados nas células estudadas, quanto mais íons elas apresentarem, maior será a indicação de ardor provocado pelas substâncias.

A professora Marize Valadares, que é coordenadora do Tox In e autora correspondente do artigo, menciona que, embora o modelo desenvolvido até aqui já seja interessante, o uso do ensaio poderá levar a novas perspectivas com o tempo. "À medida que formos criando um banco de dados robusto, será possível verificar como o teste se comporta e eventualmente associá-lo à inteligência artificial, a ponto de até, quem sabe, substituir integralmente os ensaios clínicos".

Outra oportunidade futura de exploração diz respeito ao emprego do teste para avaliar produtos para peles sensíveis, tendo em vista que muitos dos receptores presentes nos olhos também estão no reconhecido maior órgão do corpo humano. Foi graças a esse potencial e ao histórico bem-sucedido do trabalho desenvolvido pelo Tox In, onde todas as atividades foram realizadas, que, há cerca de três anos, o Grupo Boticário se envolveu no estudo, aportando R$ 200 mil, além de apoiar tecnicamente o projeto.

O produto resultante desse trabalho feito totalmente em parceria deverá ser utilizado em breve pelo setor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da própria companhia, a princípio, por um período de exclusividade de dois anos. Depois, a ideia é que o ensaio seja disponibilizado sem qualquer ônus às demais marcas e fabricantes, mesmo que haja potencial para depósito de um pedido de patente e margem de exploração comercial.

A opção pelo não depósito de soluções capazes de minimizar o sofrimento animal é uma filosofia assumida pelo Tox In, que, na prática, abre mão de lucrar em prol da causa. "Existem laboratórios que patenteiam métodos, é algo normal, mas, nesses casos, queremos deixar disponível a toda a comunidade", diz Marize. A medida é particularmente importante porque ajuda a modernizar o cenário nacional de P&D neste setor, já que, atualmente, testes semelhantes só são feitos fora do país, com altos custos.

Além da professora Marize, assinam também o artigo outros pesquisadores com vínculo junto ao Tox In. São eles: professor Artur Christian da Silva (vencedor do Prêmio Lush 2022, o maior do mundo no ramo de métodos alternativos ao uso de animais em pesquisa); Maria Cláudia Passos, cuja participação no estudo data da época em que fazia iniciação científica; e Lara Brito, autora principal que também carrega a curiosidade de ter um projeto pré-incubado no Centro de Empreendedorismo e Incubação (CEI) da UFG, a Bio Tiers. Do Grupo Boticário, assinam Andrezza Canavez, Carolina Catarino e Desiree Cigaran Schuck.

 

Leia também: Pesquisa da UFG vence prêmio que incentiva alternativas ao uso de animais em pesquisa

 

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Carolina Catarino e Marize Valadores em evento em que apresentaram modelo "sens-ocular" (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Congresso Mundial no Brasil

Vale lembrar que a atuação do Tox In, que integra o Centro de Pesquisas LIFE, localizado dentro do Parque Tecnológico Samambaia (PTS) da UFG, já rendeu reconhecimento ao próprio grupo de estudos. Em 2018, a unidade venceu a categoria Treinamento e Educação do Prêmio Lush, com o projeto intitulado "Disseminando métodos alternativos no Brasil e na América do Sul: educação e treinamento para a substituição de animais na Ciência".

É também por conta dessa reputação construída ao longo de anos que a professora Marize, uma das maiores autoridades na área de alternativas à experimentação animal, foi escolhida para ser co-chair – uma espécie de liderança – do 13º Congresso Mundial de Métodos Alternativos nas Ciências da Vida. O evento será realizado pela primeira vez no Brasil, em 2025, na cidade do Rio de Janeiro.

Acesse aqui o artigo completo, intitulado "Sens-ocular model: Cell-based assay to evaluate eye stinging potential of chemicals and baby cosmetic formulations" (Modelo sens-ocular: ensaio baseado em células para avaliar o potencial de ardência ocular de produtos químicos e formulações cosméticas para bebês, em tradução livre).

Fonte: PRPI

Categorias: Inovação Ciências Naturais FF Destaque