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Universidade Federal de Goiás
Sons de 73

SONS DE 73

Em 23/08/24 13:47. Atualizada em 29/10/24 17:45.

Estreias e festivais marcam ano de ouro da MPB

Maurício Vasconcelos Furtado*

1973. Morre Pixinguinha. Com o desejo de recordar um ano excepcional de discos, fiz uma resenha saudosista de músicas de alta qualidade, em comparação com a atualidade, registrando uma queda abissal do padrão musical. Os festivais de música foram os formadores desse acervo.

Pacientemente, reuni todos eles em 33 rpm durante grande intervalo de tempo, para ter a possibilidade de uma análise mais rigorosa.

Cabe aqui ressaltar dois álbuns preciosos de dez anos antes:

 

Sons de 73

Getz/Gilberto
Artista: Stan Getz e João Gilberto apresentando Tom Jobim e Astrud Gilberto
Gravadora: Verve Records (V6-8545)

 

 

 

 

 

 

 

 

Gravado em Nova York em 18 e 19 março de 1963, alcançou quatro estrelas e meia no DownBeat em 1964.

 

Sons de 73

The Composer of Desafinado, Plays
Artista: Tom Jobim, Edson Machado e outros
Gravadora: Verve Record (V6-8547)

 

 

 

 

 

 

 

 

Gravado em Nova York em 19 e 10 maio de 1963, alcançou cinco estrelas no DownBeat em 1963 (o articulista pede desculpas ao leitor por não dar mais estrelas). Foi lançado no Brasil com o título Antônio Carlos Jobim, pela Elenco.

 

1973 também foi o ano de lançamento de "A Palo Seco", na voz de Belchior:

 

Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos lhe direi
Amigo eu me desesperava 
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 73
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente
Eu grito em português

 

A canção está nos álbuns Belchior (1973), Alucinação (1976), do mesmo autor, e Ave Noturna (1975), de Fagner. A expressão "a palo seco" é dissecada no soberbo poema homônimo de João Cabral de Melo Neto.

 

Sons de 73

Elis
Artista: Elis Regina
Gravadora: Philips

 

 

 

 

 

 

 

 

Chamuscada devido à sua participação nas comemorações do sesquicentenário da Independência, promovido com alarde pela ditadura militar, esse álbum teve baixa vendagem.

Ouvindo atualmente, sem mágoas, apresenta-se como obra de relevo que contém vários sambas clássicos, quatro músicas dos iniciantes João Bosco e Aldir Blanc, e destaque para a magnífica interpretação de "Folhas Secas" (Nelson Cavaquinho e Guilherme Brito).

No ano seguinte, a redenção de uma das seis maiores cantoras do Brasil foi tirada do limbo por Tom Jobim, com sua opus magnum, Elis e Tom, tendo sido o documentário lançado recentemente.

 

Sons de 73

Luiz Gonzaga Jr.
Artista: Gonzaguinha
Gravadora: Odeon

 

 

 

 

 

 

 

 

Neste álbum de estreia, o autor e cantor desafia obras ora muito realistas ora muito românticas. Surpreendentemente, não há registros dos músicos e arranjadores.

Destacam-se duas músicas: "Comportamento Geral" (registrada em compacto simples em 1972), que instiga o ouvinte a uma postura crítica, e "Insônia", que é a obra-prima do disco.

 

Sons de 73

Calabar
Artista: Chico Buarque
Gravadora: Philips

 

 

 

 

 

 

 

 

Trilha sonora da peça "Calabar", do autor com Ruy Guerra, contém músicas de grande expressividade e beleza, com arranjos de Edu Lobo.

Obra fortemente censurada, tendo a capa sido eliminada e trocada por outra, na qual aparece a ridícula: Chico Canta. A original, criada por Regina Vater, tem a fotografia de um muro negro e a pintura por cima do nome Calabar, escrito em branco.

Naquele ano, 14 músicas de Chico foram censuradas. Destaque para "Tatuagem" e "Bárbara".

 

Sons de 73

O Banquete dos Mendigos
Artista: Vários
Gravadora: RCA

 

 

 

 

 

 

 

 

Organizado por Jards Macalé no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, gravado ao vivo com participação de vários artistas.

 

Sons de 73

Phono 73
Artista: Vários
Gravadora: Phonogram

 

 

 

 

 

 

 

 

Patrocinado pela gravadora, gravado ao vivo com participação de vários artistas contratados por ela. Obra que remete ao tempo dos festivais, com a citada obra anterior.

 

Leia também:
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* Maurício Vasconcelos Furtado é professor aposentado da Universidade Federal de Goiás (UFG). Esta coluna é dedicada a José Eduardo Moraes e José Carlos Ortêncio.

 

Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do Jornal UFG.

Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas