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Universidade Federal de Goiás
Sons de 73

SONS DE 73

Em 11/10/24 13:54. Atualizada em 11/10/24 14:45.

Uma década de timbres únicos e marcantes

Maurício Vasconcelos Furtado*

1973. Morre Pixinguinha. Com o desejo de recordar um ano excepcional de discos, fiz uma resenha saudosista de músicas de alta qualidade, em comparação com a atualidade, registrando uma queda abissal do padrão musical. Os festivais de música foram os formadores desse acervo. Pacientemente, reuni todos eles em 33 rpm durante grande intervalo de tempo, para ter a possibilidade de uma análise mais rigorosa.

 

Carmem Costa

30 Anos Depois
Artista: Carmem Costa
Gravadora: RCA

 

 

 

 

 

 

 

 

Seleção de sambas notáveis, faz o ouvinte sentir a sonoridade envolvente com orquestras opulentas e a voz de uma cantora que não perdeu a potência vocal. Compare com os anos 1950.

 

Walter Franco

Ou Não
Artista: Walter Franco
Gravadora: Continental

 

 

 

 

 

 

 

 

Na verdade, o álbum original tem uma capa branquíssima com uma mosca pretíssima no meio. Ao abrir a capa dupla, duas folhas branquíssimas e ao fim outra folha idêntica com a inscrição no meio: ou não. Que contraposição!

Obra instigante e transgressora, que nem a implacável censura da época conseguiu desvendar. "Me deixe mudo" e "Cabeça" são peças musicais e poéticas para uma extraordinária tempestade cerebral, sem precisar de drogas quaisquer.

Em tempo. Duas músicas desta composição foram regravadas por Chico Buarque no "Sinal Fechado" e Jards Macalé no "Contrastes", respectivamente "Me Deixe", "Mudo" (1974) e "Cachorro Babucho" (1977).

 

Celly Campello

Celly Campello
Artista: Celly Campello
Gravadora: Philips

 

 

 

 

 

 

 

 

Tributo ao nosso rock que se iniciou com músicas românticas e de uma leveza juvenil. Os severos roqueiros dirão que é uma postura alienada, mas a agradável Celly tornara o mundo menos brutal. Idiossincrasias à parte, é muitíssimo melhor que o mundo do vírus da covid.

 

Raul Seixas

Krig-Ha Bandolo
Artista: Raul Seixas
Gravadora: Philips

 

 

 

 

 

 

 

 

"Sou baiano de Queinquinhém, meia hora de mula e doze de trem / Que o mel é doce eu tenho dúvidas, mas que parece doce eu afirmo plenamente".

Essas pérolas ditas, entre outras, depois da última música do disco, foram suprimidas na transcrição para o CD. E daí? Dá-se um jeito… Como?

A bem da verdade, o álbum é um transgressor musical, às vezes romântico, e outras, crítico mordaz da realidade pesada da época, atingindo o ápice com "Ouro de tolo". De onde se ouve: "Que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado, macaco, pipoca, acho tudo isso um saco". Que em dias mórbidos atuais seria: "Nada engraçado, Lula, Bolsonaro, tudo isso um saco".

Imagine isso no pavoroso 73, obra única e pessoal, sem o (depois) oportunista Paulo Coelho, que virou guru dos endinheirados e alienados. Obra-prima de Raul Seixas, do tempo que sumia gente sem terremoto.

 

Clementina de Jesus

Marinheiro Só
Artista: Clementina de Jesus
Gravadora: Odeon

 

 

 

 

 

 

 

 

A música título do álbum é de domínio público, mas Caetano Veloso aflige sua autoria. Primeiro disco da senhora intérprete dos ancestrais, comove até a medula pela sinceridade, vivência e autenticidade, e também pelo timbre único que externa no seu canto.

 

Moacir Santos

The Maestro
Artista: Moacir Santos
Gravadora: Blue Note/Copacabana

 

 

 

 

 

 

 

 

Disco de estreia do grande músico e arranjador nos Estados Unidos, traz ao ouvinte a sensação de grande musicalidade instrumental com um swing próprio e até dançante.

Certas faixas que o trazem cantando torna a obra menor e é recorrente a sensação de ouvir e citar sua opus magnum, "Coisas", de 1965, de grande influência musical entre os inumeráveis epígonos.

 

Caetano Veloso

Araçá Azul
Artista: Caetano Veloso
Gravadora: Philips

 

 

 

 

 

 

 

 

Um ponto fora da curva, esta obra discrepante de sua própria trajetória musical, com o músico mergulhado nas profundezas de suas raízes musicais nordestinas e sobretudo baianas.

Elaborado extremamente à vontade por seu autor e cantor (?), chegou ao ouvinte como uma transgressão de difícil audição. Segundo informações veiculadas na época, foram devolvidas cerca de 30 mil cópias às lojas.

Com bastante paciência, neste mundo atual, cada vez mais imediatista e fugaz, é preciso reouvi-lo. Virou realidade fonográfica de difícil aquisição.

 

Luiz Melodia

Pérola Negra
Artista:
Luiz Melodia
Gravadora: Philips

 

 

 

 

 

 

 

 

Sem dúvida, uma obra-prima do autor/cantor e também da MPB. Encantador, de musicalidade inebriante, com voz envolvente, músicos entrosados e letras apaixonadas e apaixonantes.

Até hoje o álbum que mais ouvi depois do incontornável "The Composer of Desafinado Plays" do maestro Tom Jobim. Mas aí é uma outra história, não é maestro José Eduardo Moraes?

 

João Gilberto

João Gilberto
Artista:
João Gilberto
Gravadora: Verve/Polygram

 

 

 

 

 

 

 

 

Conhecido como álbum branco do cantor/não cantor, interpreta com seus maneirismos sambas de qualidade, como "É preciso perdoar", de obscuros autores.

Com a digitação atual, que atinge até a alma das pessoas, programe-se para não ouvir "vindo", um mantra repetido à exaustão. Aliás, ouça para nunca mais… E a detestável interpretação arembepiana de "Avarandado"? Ufa!

 

Lupicínio Rodrigues

Dor de Cotovelo
Artista:
Lupicínio Rodrigues
Gravadora: Rosicler

 

 

 

 

 

 

 

 

Primeiro álbum do compositor gaúcho que encanta o ouvinte com doze obras-primas de sua autoria, sendo sua ótima dicção e timbre inigualáveis.

A cada audição, uma dúvida. Qual é melhor? O conjunto instrumental que o acompanha, as músicas ou sua voz? Claro que a sintonia dos três fatores. Aconchegante e de um lirismo estupendo.

 

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* Maurício Vasconcelos Furtado é professor aposentado da Universidade Federal de Goiás (UFG). Esta coluna é dedicada a José Eduardo Moraes e José Carlos Ortêncio.

 

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Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas