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Universidade Federal de Goiás
Sons de 73

SONS DE 73

Em 04/10/24 15:19. Atualizada em 31/10/24 11:12.

A diversidade sonora dos rincões brasileiros

Maurício Vasconcelos Furtado*

1973. Morre Pixinguinha. Com o desejo de recordar um ano excepcional de discos, fiz uma resenha saudosista de músicas de alta qualidade, em comparação com a atualidade, registrando uma queda abissal do padrão musical. Os festivais de música foram os formadores desse acervo. Pacientemente, reuni todos eles em 33 rpm durante grande intervalo de tempo, para ter a possibilidade de uma análise mais rigorosa.

 

Das Terras do Benvirá

Das Terras do Benvirá
Artista: Geraldo Vandré
Gravadora: Phonogram

 

 

 

 

 

 

 

 

Retomando a carreira depois de inúmeros incidentes, surge como um álbum típico de sua atuação musical. Obras de um conjunto de conotação menos guerreira, mas de qualidade inferior ao seu padrão anterior – o gigante "Canto geral".

 

Se Você Jurar

Se Você Jurar
Artista: Ismael Silva
Gravadora: RCA

 

 

 

 

 

 

 

 

Álbum no qual um dos dez maiores sambistas do Brasil canta seus grandes sucessos. No lado A, os do passado, como "Antonico", "Nem é bom falar", "Se você jurar", entre outros, compostos por gigantes. No lado B aparecem músicas mais recentes.

Um poeta do povo refinadíssimo e influenciador de Chico Buarque e Paulinho da Viola. Samba puro, sem jaça. Muito emocionante.

 

Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua

Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua
Artista: Sérgio Sampaio
Gravadora: Phillips

 

 

 

 

 

 

 

 

Também perseguido pela censura, o compositor e cantor apresenta uma obra instigante, sendo destaque a música título, da qual os censores não entenderam a mensagem desafiadora.

 

Pare de Tomar a Pílula

Pare de Tomar a Pílula
Artista: Odair José
Gravadora: Phonogram

 

 

 

 

 

 

 

 

Inicialmente seu aparecimento no mundo musical aconteceu em pequenas festas e barzinhos em Morrinhos (GO) no fim dos anos 1970. A rádio Morrinhos FM ficou como incentivo de colegas e conterrâneos a procurar outras plagas e, nesse LP, cutucou a censura com a música que lhe dá título.

Junto com a "Vou tirar você deste lugar" (1970), conseguiu reunir a parte conservadora da sociedade , a igreja e o estado repressor, contra sua postura. Disco amplamente retirado das lojas, assim como o cantor e seu repertório foram proibidos em rádios.

O autor/cantor foi ameaçado de ficar de molho na prisão depois de sua apresentação na Phono 73 com Caetano Veloso, cantando seu grande sucesso. Uma pérola do estilo brega foi seu conceito com o público-alvo.

 

Zabumba Caruaru Vol. II

Zabumba Caruaru Vol. II
Artista: Bandinha de Pífano
Gravadora: CBS

 

 

 

 

 

 

 

 

Em época de surgimento de vários cantores e cantoras do Nordeste, bem como de compositores e instrumentistas, surgem do anonimato pequenos conjuntos e bandas em gravações agradáveis como esse disco, que identifica-se com a riqueza musical da região.

Acrescente-se a essa situação a profusão de discos lançados naquela década pelos nordestinos e com a espetacular presença que paira majestosamente sobre todos, de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Sivuca.

Até o percussionista catarinense Airto Moreira gravou nos Estados Unidos o disco “Seeds on the ground”, com Sivuca e outros nordestinos, nunca lançado no Brasil.

 

Índia

Índia
Artista: Gal Costa
Gravadora: Phillips

 

 

 

 

 

 

 

 

Apresentação das fotografias das capas externas e internas muito insinuante e arrojada. O repertório é muito irregular, com músicas instigantes e outras a desejar. Músicos de primeiríssima linha ordenam o conjunto melódico com uma percussão frenética.

Regravar obras musicais requer muita cautela, como a que dá título ao disco. Mesmo sendo recriado pelo maestro Rogério Duprat, a cantora foi audaciosa, pois a gravação original (1951), com Cascatinha e Inhana, é definitiva. Inhana exprime o melhor agudo de nossa música.

Um disco menor de sua carreira, pois ela cantando Caymmi e Ary Barroso é fulgurante.

 

Quem é Quem

Quem é Quem
Artista: João Donato
Gravadora: Odeon

 

 

 

 

 

 

 

 

O executivo que dirigia a gravadora na época não quis editar o disco porque se mostrava “indefinível”. Porém o músico já conhecia Marcos Valle nos Estados Unidos e no Brasil, que exigiu sua produção imediata.

Cercado por grandes arranjadores citados e músicos não identificados, seguem-se músicas que mexem com o emocional e o ritmo musical de cada um. O swing do músico escancara a malemolência brasileira principalmente em “Arj” e em “Amazonas”.

 

A Música Livre de Hermeto Pascoal

A Música Livre de Hermeto Pascoal
Artista: Hermeto Pascoal
Gravadora: Phonogram

 

 

 

 

 

 

 

 

Multi-instrumentista notável em vários álbuns anteriores, com outros também notáveis, como Geraldo Vandré e com o maravilhoso Quarteto Novo, com quem que gravou apenas um disco – uma obra-prima brasileira.

O disco transparece a liberdade musical de forma envolvente e agradável. Música nordestina? Qual? “O gaio da roseira” sacode até Toronto com seu balanço e sua musicalidade.

 

Música Popular do Nordeste

Música Popular do Nordeste 1
Artista: Vários
Gravadora: Discos Marcus Pereira

 

 

 

 

 

 

 

 

O publicitário Marcus Pereira patrocinou como brinde de sua agência para os clientes um parentesco conjunto de quatro LPs abrangendo a autenticidade da música nordestina. Os felizardos presenteados alardearam em críticas efusivas nos grandes jornais e revistas do país. Resultado: lançamento comercial com imenso sucesso, com patrocínio próprio.

Trabalho primoroso e profundo, sem perder a imagem cultural. O empreendimento deu sequência ao mapeamento musical do Sul, Centro-Oeste e Norte. Um documento geral da música feita pelo povo, inigualável em termos de expressão. Para escutar e arquivar para novas gerações. Soberbo.

 

Das Barrancas do Rio Gavião

Das Barrancas do Rio Gavião
Artista: Elomar
Gravadora: Phillips

 

 

 

 

 

 

 

 

Fora do contexto musical da época, por desinteresse de gravadoras ou mesmo devido à singularidade da obra, o disco comove pela singeleza e autenticidade musical do cantor/compositor. De grande originalidade, funde ecos das artes medievais à cantoria popular. Viriam depois outras mais profundas, como “Auto da Caatinga”.

 

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* Maurício Vasconcelos Furtado é professor aposentado da Universidade Federal de Goiás (UFG). Esta coluna é dedicada a José Eduardo Moraes e José Carlos Ortêncio.

 

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Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas