Apenas 29% do Chaco Argentino é seguro para a onça-parda
Em sua segunda etapa, pesquisa com participação da UFG integra, nos modelos de distribuição da espécie, áreas de conflito entre o predador e a comunidade local
Puma concolor, também conhecido por onça-parda, leão-da-montanha ou suçuarana, é um felino nativo das Américas (Foto: Wolves201)
EM SÍNTESE:
- Pesquisa no Chaco Seco mostra que só 29% da área é segura para onças-pardas.
- Conflitos ocorrem pela falta de presas naturais e ataques a animais de criação.
- Estratégias de conservação visam proteger habitats e reduzir conflitos com humanos.
Carolina Melo
Após mapear a distribuição da onça-parda no Chaco Seco argentino, em meio à perda de vegetação nativa, uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ecología Regional (IER), de Tucumán (Argentina), em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), deu mais um passo para compreender a sobrevivência da espécie na região. Desta vez, os pesquisadores investigaram como ocorre a convivência entre o animal e a população local, identificando as áreas de conflito e caça. Com o novo dado, foi possível perceber que apenas 29% da região é segura ao predador. O estudo também contou com a colaboração da Universidade Humboldt de Berlim.
O modelo ecológico da primeira etapa da pesquisa foi elaborado para identificar as áreas mais adequadas à onça-parda no Chaco Seco, com base na estrutura da paisagem e em registros de armadilhas fotográficas. Como resultado, percebeu que não só a quantidade de vegetação nativa remanescente interfere na presença da onça-parda, mas também o tipo de ocupação humana ao redor das manchas de habitat. Se a matriz é caracterizada por agricultura, a onça-parda tende a ocorrer mais do que nas áreas circundadas por pastagem. Agora, na segunda fase do estudo, os pesquisadores se aproximaram dos moradores das fazendas, comunidades crioulas e pequenos proprietários para observar os padrões de coexistência com o animal. Para isso, estimaram o grau de tolerância dos humanos em relação à presença do predador.
A presença da onça-parda nas áreas habitadas pode ocorrer em função da escassez das presas naturais nas vegetações nativas cada vez mais restritas, o que leva a espécie a buscar alternativas mais acessíveis, como animais de criação: ovelhas e cabras. "Por falta de recursos, a espécie acaba se direcionando para esses locais. E, como forma de retaliação, a comunidade tende a caçar o predador", afirma um dos autores da pesquisa, o professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, André Luis Regolin.
De acordo com o estudo, essa dinâmica de convivência levanta questões importantes sobre manejo e conservação, além de estratégias para minimizar os conflitos, como a proteção dos rebanhos e a preservação dos habitats naturais da onça-parda.
Leia também: Pesquisa mapeia presença da onça-parda no Chaco Seco da Argentina
Principais categorias de paisagem que definem a coexistência entre humanos e pumas no Chaco Seco Argentino (Fonte: Nanni et al., 2024)
Áreas de conflito
A pesquisa, coordenada por Sofía Nanni, do IER de Tucumán, incorporou dados de 120 entrevistas semiestruturadas com os moradores da região para entender a variação da ocupação do território e a tolerância humana à presença da onça-parda. Os dados foram complementares à pesquisa anterior e permitiram identificar, por exemplo, que alguns locais, considerados adequados para o animal devido à predominância de vegetação nativa, também são zonas de alto risco por causa dos conflitos frequentes.
"Tratam-se, portanto, de sumidouros. As áreas do ponto de vista da estrutura do habitat são boas para a onça-parda, mas quando se observa a camada social se identifica o risco para a sua existência", explica o professor da UFG, André Luis Regolin. O estudo fez o levantamento das áreas adequadas e de risco, com cruzamento de informações sobre a coexistência humana, em relação às três estruturas: o habitat, o corredor de conexão entre as manchas de habitat e a matriz. A Universidade Federal de Goiás foi responsável por fazer a modelagem do habitat.
De acordo com o estudo, as áreas de habitat adequadas e seguras à existência da onça-parda cobrem 29% do Chaco Argentino, enquanto sumidouros atrativos, ou seja, regiões adequadas, mas arriscadas ao predador, representavam 12%. Das áreas seguras para a espécie, quase 98% estão localizadas fora de áreas protegidas pela legislação do país.
Pesquisa em andamento
As estratégias de conservação da onça-parda na região, de acordo com a pesquisa, devem ser realizadas por meio de três frentes: proteção de habitats seguros e áreas de movimento; restauração da paisagem em áreas degradadas e melhoria da qualidade das matrizes para aumentar a conectividade ecológica; e mitigação da depredação de cabras e ovelhas em sumidouros e áreas de movimento inseguras. Essa última estratégia já estimulou a terceira etapa da pesquisa, que está em andamento. "Queremos entender como isso pode ser realizado, junto com a população local", explica o professor da UFG.
O objetivo principal do estudo é contribuir para o desenvolvimento de sistemas de proteção à onça-parda, que apontam para manutenção das espécies nas regiões habitadas, enquanto se busca a redução dos impactos negativos da presença do predador nas comunidades locais. "De forma mais geral, mostramos como a integração de habitats e modelos de risco de conflito pode revelar oportunidades e desafios para a coexistência humano-carnívoro além das áreas protegidas", afirma o estudo.
Para mais informações, acesse o artigo completo Mapping opportunities and barriers for coexistence between people and pumas in the Argentine Dry Chaco.
Quer divulgar sua pesquisa ou projeto de extensão?
Preencha aqui o formulário.
Receba notícias de ciência no seu celular
Siga o Canal do Jornal UFG no WhatsApp
Comentários e sugestões
jornalufg@ufg.br
Política de uso
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal UFG e do autor.
Fonte: Secom UFG
Categorias: Conservação Ciências Naturais ICB Destaque