
Universidades constroem memórias em tempos de efemeridade
Palestra da professora e pesquisadora Margarida Kunsch celebra 50 anos do curso de Relações Públicas da UFG
Auditório lotado para o evento que marcou 50 anos do curso de Relações Públicas da UFG (Foto: Carlos Siqueira/Secom UFG)
Kharen Stecca
Construir e guardar memórias segue sendo um importante trabalho das instituições diante de uma sociedade cada vez mais efêmera. Com o desafio de discutir esse tema, a professora titular emérita da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Margarida Maria Krohling Kunsch, foi a convidada para uma palestra realizada em comemoração ao aniversário de 50 anos do curso de Relações Públicas da Universidade Federal de Goiás (UFG). A aula também marcou o início do ano letivo na graduação e na pós-graduação da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC).
Margarida Kunsch é uma referência bastante conhecida por profissionais e pesquisadores que trabalham com comunicação pública, comunicação institucional e também com a comunicação das universidades. A pesquisadora é pioneira nos estudos dessa área. A palestra com o tema "Relações Públicas: memória, sociedade em transformações, desafios e esperanças" abordou como é possível que as instituições guardem memórias diante da fugacidade da informação digital e da modernidade líquida, temas que vêm sendo amplamente discutidos por filósofos, sociólogos e comunicadores, tornando-se matéria de destaque para os profissionais em Relações Públicas.
Algoritmos e discriminação
Kunsch abordou o impacto dos algoritmos na desigualdade e na discriminação, a partir de estudos de Cathy O'Neil no livro "Algoritmos de destruição em massa". Ela destacou que a avalanche de informações (big data) e os algoritmos podem, por exemplo, por meio de dados coletados nas redes, identificar uma pessoa que tente obter um financiamento ou um outro serviço e restringir seus direitos. "Algoritmos podem levar a decisões discriminatórias, perpetuando desigualdades, o que é uma ameaça aos princípios democráticos", afirmou.
A professora também destacou filósofos contemporâneos, como o coreano Byung-Chul Han, que fala sobre esse momento de sociedade, e o espanhol Manuel Castells, que explora o poder da informação e das redes. Foram abordados os desafios de combater a desinformação nas redes sociais e a necessidade de tornar as plataformas digitais mais regulamentadas. Ela alertou para o impacto do excesso de informações não confiáveis que "contamina a formação de opinião em bases verdadeiras". Kunsch salientou que, em um ambiente efêmero onde informações falsas se propagam rapidamente, a construção de memórias coletivas precisas e confiáveis torna-se um desafio ainda maior.
A palestrante também falou da evolução da profissão de Relações Públicas, que no início do século XX era muito mais tática e no século XXI é bem mais estratégica e envolvida com os negócios, indo muito além de meramente "publicar informações". Em seguida, ela elencou grandes questões de preocupação das Relações Públicas na atualidade, como as questões ambientais, sociais e de diversidade. Também lembrou a necessidade de os profissionais estarem em contínua formação, baseados em informações científicas sólidas.
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"A universidade extrapola os muros do saber para interagir com o cidadão utilizando todos os meios de comunicação" (Foto: Carlos Siqueira/Secom UFG)
"Nova universidade"
Kunsch também sublinhou em sua fala que, na década de 1990, as assessorias de imprensa das universidades eram pequenas e estavam mais a serviço da promoção política do reitor do que de um trabalho efetivo de divulgação científica e de aproximação com a sociedade, mas que isso tem mudado: "a universidade contemporânea é apresentada como uma 'nova universidade' no contexto da sociedade global e sem fronteiras, que extrapola os muros do saber para interagir com o cidadão utilizando todos os meios de comunicação".
Para ela, a universidade de hoje é inclusiva e preocupada com as minorias, a diversidade e os segmentos sociais mais necessitados, abrindo espaços para uma maior participação em seus quadros funcionais nas áreas de ensino, pesquisa, cultura, extensão e internacionalização. A comunicação desempenha um papel crucial na divulgação dessas iniciativas e na promoção dessa imagem da universidade.
Kunsch também enfatizou que a universidade é uma instituição perene e um centro de memória essencial na história da civilização. "Como entidade pública, a universidade tem entre suas funções assegurar o direito de acesso a todas as informações sobre sua origem, trajetória e funcionamento, reafirmando sua importância estratégica na construção de saberes e da cidadania. A assessoria de comunicação tem um papel fundamental em garantir essa transparência e o acesso à informação", afirmou.
A celebração de eventos como os 50 anos do curso de Relações Públicas da UFG, para a pesquisadora, é uma forma de valorizar e preservar a memória da universidade, não apenas em documentos, mas de forma dinâmica e reconhecendo o papel das pessoas que construíram essa história. A assessoria de comunicação é central na organização e divulgação dessas celebrações. "A universidade, quando dinamizada e vivenciada pela comunidade, cresce", afirmou. Ela também destacou o papel das universidades durante a pandemia: "pesquisadores universitários foram frequentemente chamados pela grande imprensa, demonstrando a importância da universidade como fonte de conhecimento".
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Mesa de abertura marcou os 50 anos do curso de Relações Públicas e início do ano letivo na FIC/UFG (Foto: Carlos Siqueira/Secom UFG)
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Fonte: Secom UFG
Categorias: Comunicação Institucional Fic Notícia 6