
Quem é o leitor do Jornal UFG?
Pesquisa avaliou presença da comunicação pública da ciência no veículo e traçou perfil de seu público
Da Redação
Levantar os mecanismos utilizados pelo Jornal UFG para comunicar a ciência produzida na instituição. Com essa perspectiva a jornalista e editora do Jornal UFG Kharen Stecca conduziu sua pesquisa de mestrado intitulada A Comunicação Pública da Ciência no Jornal UFG: análise de conteúdo e estudo de recepção. A pesquisa foi apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás (FIC/UFG) em fevereiro de 2025 e trouxe uma análise do conteúdo do veículo e também uma pesquisa de recepção com seus leitores sobre as reportagens, buscando aprimorar essa importante ponte entre a academia e a sociedade.
O estudo, orientado pelo professor Tiago Mainieri de Oliveira (FIC) e coorientado pelo jornalista Luiz Felipe Fernandes Neves, partiu do interesse da pesquisadora, também jornalista da Secretaria de Comunicação (Secom) da UFG, em compreender o processo de construção da comunicação pública da ciência (CPC) por meio do veículo de comunicação da própria Universidade. A pesquisa se propôs a analisar como o Jornal UFG, desde sua criação em 2006, evoluiu de um instrumento de comunicação organizacional para um veículo de divulgação científica, e como o público leitor interno e externo à UFG percebe e interpreta os conteúdos relacionados à ciência.
Para isso, a pesquisadora adotou uma metodologia quali-quantitativa, combinando a análise de conteúdo das publicações do Jornal UFG com um estudo de recepção junto aos seus leitores. Essa etapa empírica envolveu a aplicação de questionários on-line, a realização de grupos focais e entrevistas com diferentes segmentos do público.
A análise de conteúdo focou em uma amostra de sete textos sobre pesquisas da UFG, selecionados de diferentes fases da história do jornal, considerando aspectos como sua repercussão pública junto à imprensa e à comunidade. Para avaliar a presença de elementos da divulgação científica e a aderência ao conceito de comunicação pública da ciência, foram criadas categorias de análise baseadas em referenciais da Sociologia da Ciência, como a motivação da pesquisa, a explicação da técnica, a ciência como produto social, a valorização da expertise do cientista, o tempo de desenvolvimento da pesquisa, a contextualização social e o financiamento.
Matérias analisadas
Foram selecionadas sete matérias para uma análise prévia do conteúdo de ciência produzido pelo Jornal UFG. Os textos foram escolhidos de forma a representar uma amostra de reportagens de grande repercussão na imprensa e com muitos acessos no Jornal UFG, em sua fase digital. Foram utilizadas dez categorias que analisaram informações sobre como a pesquisa foi feita, se apresentava fonte de financiamento, se mostrava a produção realizada com a colaboração de diversos pesquisadores, se mostrava personagens, entre outras peculiaridades, de forma a bem informar o leitor da reportagem.
Entre os achados da análise de conteúdo, a pesquisa identificou que o Jornal UFG consegue mostrar o processo científico por trás das pesquisas e destacar a importância do fomento.
Dados qualitativos
Uma parte fundamental da pesquisa dedicou-se a ouvir diretamente o seu público leitor. Por meio de um questionário on-line, a pesquisa buscou traçar o perfil de quem consome o conteúdo do jornal universitário e entender suas percepções sobre a divulgação científica realizada pelo veículo.
O questionário, aplicado durante o mês de setembro de 2024, obteve respostas de 151 participantes. A divulgação teve o apoio da Secom da UFG, incluindo matérias no próprio Jornal UFG, envio por WhatsApp e e-mail marketing.
A análise das respostas revelou, de acordo com a pesquisa, um perfil bem definido do público que acessa o Jornal UFG:
- Predominância de vínculo com a Universidade: a maioria dos leitores possui alguma ligação com a UFG, sendo técnicos administrativos, professores e estudantes os grupos mais representativos. Mesmo entre aqueles com vínculos menos contínuos, como aposentados e estudantes egressos, o índice de leitura é maior do que entre o público sem nenhuma ligação com a instituição. Isso indica que, apesar do interesse da sociedade, o alcance do jornal ainda é majoritariamente interno.
- Maior faixa etária e grau de instrução: a pesquisa aponta que o Jornal UFG atinge um público com maior faixa etária e um elevado grau de instrução.
- Acesso via diversos meios: os leitores acessam o Jornal UFG principalmente pelo site e por redes sociais, além de e-mail, WhatsApp e indicação de amigos e colegas.
O que o público pensa sobre o Jornal UFG e a divulgação científica?
As perguntas do questionário buscaram entender como os leitores percebem o papel do Jornal UFG e o que valorizam em suas publicações sobre ciência:
- Reconhecimento de ciência e informação institucional: a maioria dos respondentes identifica informações sobre ciência (81,3%) e informações institucionais (75,9%) como os tipos de conteúdo presentes no Jornal UFG. Mas ainda há uma percepção de que o jornal é predominantemente institucional (42%), embora boa parte dos pesquisados reconheçam que ele realiza tanto divulgação científica quanto institucional.
- Interesse na participação do leitor: uma parcela significativa dos leitores acredita que o jornalismo pode construir conteúdo com a participação do público. Quando instruídos a sugerir como ampliar essa participação, os participantes sinalizaram com a criação de canais acessíveis e em diversos formatos, como redes sociais, enquetes, pesquisas de opinião e espaços para comentários.
- Valorização de elementos na divulgação científica: os leitores apontaram os elementos que consideram mais importantes em textos sobre pesquisa:
* Por que a pesquisa foi feita (77%)
* Contexto social ou econômico da pesquisa (78,8%)
* Explicação da técnica da pesquisa (69%)
* Caminho de produção da pesquisa (56,6%)
* Resultados da pesquisa (54,9%)
* Papel dos pesquisadores envolvidos
* Tempo que a pesquisa levou para ser feita
* Como a pesquisa foi financiada
- Percepção do processo científico e humanização: a maioria dos leitores percebe nos textos elementos que mostram o caminho de produção da pesquisa (64,3% sim; 31,3% em parte) e reconhece a humanização da ciência (62,2% sim; 32,4% em parte), ou seja, a apresentação da pesquisa como fruto do trabalho de várias pessoas.
- Preferência pelo formato online: a maioria dos leitores (40,2%) não vê necessidade de retomar a versão impressa do Jornal UFG.
Uma das perguntas do questionário pediu para que os leitores citassem as matérias do Jornal UFG de que se lembravam. O resultado foi bastante interessante, segundo a pesquisadora.
"Percebemos, por meio da nuvem de palavras produzida com as respostas [veja abaixo], várias questões que nos levam a crer que o jornal não só divulga bem os conteúdos de ciência, mas que ele conversa com o cotidiano das pessoas entrevistadas. Elas lembram de assuntos que tiveram grande repercussão. Prova disso é que textos analisados em nossa dissertação estão entre os mais citados. Mas também lembram de assuntos que impactaram diretamente sua vida privada, como matérias que falam de assuntos ligados aos cursos com os quais as pessoas têm afinidade ou a questões como doenças com as quais elas convivem. Perceber que o Jornal UFG está inserido na realidade desses leitores é algo grandioso para nós, jornalistas deste veículo", afirma a pesquisadora.
Palavras que remetem às matérias mais lembradas pelos leitores (Imagem: Reprodução)
Implicações para o Jornal UFG
Os resultados do questionário ofereceram um panorama deste público para a equipe do Jornal UFG. A pesquisa demonstra um público leitor engajado e com interesse em ciência, mas também aponta para a necessidade de ampliar o alcance do veículo para além dos muros da Universidade.
A pesquisadora ressalta que uma das percepções mais importantes nas falas do público foi a valorização dos elementos que contextualizam a pesquisa e explicitam o processo científico: "Essa informação mostra o quão é importante que o texto traga esses subsídios para a formação de um público leitor realmente engajado e que possa exercer sua cidadania com um pensamento crítico e informado", avaliou.
Com essas informações, ela ressalta que a equipe precisa ter claro a importância desses elementos na construção da comunicação, com o fim de aprimorar essa abordagem.
Grupo focal e entrevistas
Nos grupos focais e entrevistas, os participantes trouxeram reflexões importantes. Houve um debate sobre a necessidade de contextualizar a contribuição social das pesquisas, inclusive da área de Humanas, para além da mera utilidade ou do fascínio por grandes temas. Também foi discutida a importância de explicar as técnicas e procedimentos de forma acessível, possivelmente com links para informações mais detalhadas.
"A necessidade de mostrar a ciência como um produto social, envolvendo diferentes grupos e conhecimentos, foi um tema bastante discutido nos grupos e também nas entrevistas", avalia a pesquisadora.
A questão do financiamento da pesquisa também gerou discussões, com a preocupação de que a sociedade compreenda que os recursos são destinados à pesquisa em si e não ao enriquecimento pessoal dos cientistas. "Os participantes se preocuparam com questões como mostrar o que significam na prática valores altos e também como esse dinheiro será revertido para a comunidade", comenta.
Além disso, foi ressaltada a importância de divulgar pesquisas mesmo sem financiamento, mostrando os diferentes cenários em que a ciência é construída no Brasil.
Nas considerações finais, Kharen Stecca conclui que o Jornal UFG se configura como um veículo peculiar de comunicação pública da ciência por estar inserido no contexto institucional da Universidade. A pesquisa aponta para a necessidade de situar o jornal em um terreno próprio de produção de conteúdos científicos da UFG e sugeriu a criação de redes sociais para o veículo, trabalhando em conjunto com os perfis oficiais da Universidade, para fortalecer sua identidade na divulgação científica.
"Esta ação já é uma realidade desde o segundo semestre de 2024, quando os primeiros resultados da pesquisa foram divididos com a equipe. Foi criado o canal no WhatsApp e o perfil no Instagram", ressalta a jornalista.
A pesquisadora acredita que o estudo contribui com um panorama detalhado sobre a comunicação pública da ciência no Jornal UFG, mas também para o campo de estudos de recepção na divulgação científica brasileira. "A pesquisa realizada ainda foca bastante no emissor e não no receptor", afirma.
Para a jornalista, os resultados do estudo fornecem subsídios importantes para aprimorar as estratégias de comunicação da ciência nas universidades, buscando uma maior participação e engajamento da sociedade com o conhecimento científico produzido dentro de seus muros.
Leia as outras matérias desta série de reportagens:
Jornal UFG no foco da pesquisa científica
História do Jornal UFG: do institucional à divulgação científica
Jornalismo científico como estratégia de combate à desinformação
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Fonte: Secom UFG
Categorias: divulgação científica Humanidades Fic Secom Especial