Diálogos interdisciplinares
Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás
ANO VII – Nº 65 – MARÇO – 2014
Diálogos interdisciplinares
Programa de extensão realiza ações em escolas públicas, incentivando escolhas saudáveis para a promoção da saúde
Texto: Júlia Mariano | Foto: Júlia Mariano e Ana Maria Antunes
Crianças participantes da Adedonha Saudável durante as atividades do projeto de extensão
“Quem gosta de brócolis?”
“O brócolis é um vegetal que parece uma arvorezinha. Ele é muito gostoso, nutritivo e uma excelente fonte de ferro, sendo classificado como alimento regulador. Vocês sabem o que é um alimento regulador? É o alimento que tem, em sua composição, elementos que judam nas várias funções do nosso organismo, como é o caso dos minerais. O ferro, que é um mineral, ajuda a transportar o oxigênio no nosso sangue. O brócolis, além de ter ferro, tem outros elementos importantes para nossa saúde. Você quer ter energia para correr e brincar durante todo o recreio? Então, coma brócolis!”
Com essa ação na Rádio Saúde, estudantes da UFG iniciam mais um dia de trabalho com os alunos do ensino fundamental na Escola Municipal João Braz, localizada no bairro São Judas Tadeu, nas imediações do Câmpus Samambaia. Essa atividade faz parte do programa de extensão Construindo diálogos interdisciplinares entre universidade-comunidade-escola-agentes de saúde: ampliando a formação de multiplicadores da promoção da saúde do escolar, que trabalha temas relacionados à saúde dos estudantes e engloba projetos de extensão vinculados ao Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e à Escola de Música e Artes Cênicas (Emac).
Em 2008, com a participação das professoras Maria Hermínia Domingues, da Faculdade de Educação (FE), e Estelamaris Tronco Mônego, da Faculdade de Nutrição (Fanut), foi criado o projeto que deu origem ao programa. À época, com poucos professores e alunos envolvidos, o projeto realizava atividades voltadas exclusivamente à educação alimentar e nutricional em apenas uma escola de educação infantil. Com o intuito de ser contemplado no edital do programa de extensão universitária (Proext), do Ministério da Educação (MEC), ele foi reformulado, ampliando as áreas de atuação e de alcance. Outras escolas passaram a ser atendidas por uma equipe multidisciplinar, atuando em diversas vertentes, com acadêmicos dos cursos de Biologia, Biomedicina, Ecologia e Análise Ambiental, Enfermagem, Musicoterapia, Nutrição, Odontologia e Pedagogia.
As mudanças foram bem-sucedidas: desde 2010, o projeto tem sido aprovado anualmente nos editais do MEC e, a partir de 2014, passou a ser um programa de extensão, por englobar três projetos. “Conseguimos estabelecer um diálogo interdisciplinar, ao trabalhar com o conceito ampliado, já que a saúde depende de aspectos multissetoriais”, explica a professora Nusa Silveira, do ICB, que atua no projeto desde o princípio, tendo sido sua coordenadora até 2013.
Integrantes do programa servem sucos naturais. Entre os ingredientes, beterraba, couve, limão e laranjas participantes da Adedonha Saudável durante as atividades do projeto de extensão
Como funciona?
Neste ano, o programa atenderá às demandas da Secretaria de Educação, atuando em um número maior de escolas. Anualmente, antes de iniciar as atividades, é realizado um diagnóstico nas instituições, para levantar as necessidades existentes. A partir de então, é estabelecido um cronograma. A professora da Emac e atual coordenadora do programa, Sandra Rocha do Nascimento, defende o método de escutar primeiro as pessoas envolvidas no ambiente escolar antes de apresentar projetos de intervenção: “Precisamos entrar na escola para conhecer a demanda e, assim, diminuir as resistências em relação às propostas que vêm de fora”, explica.
Os temas trabalhados são vinculados à proposta do Programa Saúde do Escolar, do MEC, e são discutidos na escola de forma diferenciada. Além da alimentação saudável, são abordados assuntos apontados pelas equipes do Programa Saúde da Família (PSF) e outros percebidos por meio do diagnóstico, como exemplo, desperdício de alimentos, reciclagem de lixo, saúde reprodutiva, abuso de drogas e preservação do meio ambiente. Para atrair a atenção dos alunos, tudo isso é trabalhado de forma lúdica e com experiências musicoterapêuticas. Rádio saúde, adedonha saudável, passa a bola e boliche são algumas atividades que o grupo realiza.
“A Musicoterapia permite entender o que está além do visível. Ela percebe as relações, o modo como as pessoas enfrentam as problemáticas ou as situações do dia a dia e, ao mesmo tempo, dilui as resistências, permitindo que sejam trazidos à tona temas que, às vezes, são complicados de serem discutidos dentro da escola, por serem constrangedores, complexos e conflituosos, como: violência escolar, bullying, drogas e sexualidade”, explica Sandra Rocha.
Escolhas saudáveis são discutidas e estimuladas durante atividades lúdicas
Aprendizagens
Segundo Nusa Silveira, participar desse programa de extensão possibilita que os alunos sejam formados para atuar de maneira efetiva na comunidade, contribuindo com a transformação do indivíduo e do meio social, não agindo de forma restrita ao ambiente universitário. “Os alunos adquirem, ao longo do semestre, outras compreensões sobre como trabalhar educação e saúde, deixando para trás aquele padrão de aula expositiva e com datashow, trabalhando, a partir de então, com formatos mais interativos.”
Daniela Lopes de Oliveira, estudante de Musicoterapia, encara o programa como um campo prático para vivenciar os conteúdos aprendidos de forma teórica, como a terapia comunitária. Nágila Mendes Fernandes, também estudante de Musicoterapia, garante que o projeto mudou sua vida acadêmica: “Com essas intervenções, estou trabalhando a prática da Musicoterapia e percebo como a música faz diferença. Às vezes só a linguagem verbal não chama tanto a atenção das crianças”.
Grace Kelly de Sousa Lovi, estudante do curso de Nutrição, aponta a relevância de se trabalhar com as crianças, uma vez que os hábitos são formados na infância. Além disso, segundo ela, “as crianças são interessadas e receptivas, o que torna o nosso trabalho gratificante”. Para Bruna Alves de Morais, acadêmica de Nutrição, o fato do trabalho ser realizado de forma integrada com as crianças, os educadores, as erendeiras e os pais – por meio de visitas domiciliares – faz com que hábitos saudáveis sejam consolidados.
Além de ser um campo de aprendizado prático para estudantes da UFG e de atender às demandas da comunidade, o programa tem proporcionado oportunidades para que as experiências vividas sejam expostas e discutidas em artigos apresentados em congressos regionais e nacionais, como o Congresso Brasileiro de Extensão Universitária.
Nesta Edição
Categorias: interdisciplinar escolas públicas alimentação saudável Extensão
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