Fotos da exposição "É covardia deixar retroceder, cuidado em liberdade, na luta eu vou viver", do Museu da Saúde Mental em Goiás (Foto: Divulgação)

 

Carolina Melo

Para facilitar o acesso às informações históricas sobre a relação da sociedade goiana com a luta antimanicomial, o Museu da Saúde Mental em Goiás reúne um vasto acervo de fotografias, vídeos, produções científicas e entrevistas com personalidades importantes vinculadas à militância no estado e à reforma psiquiátrica brasileira. Ele é um museu digital, aberto e popular cujo repositório mantém um fluxo contínuo de contribuições, e também recebe relatos dos visitantes virtuais sobre suas experiências com a saúde mental na região.

O museu é fruto do projeto de extensão Memória da Saúde Mental em Goiás da Universidade Federal de Goiás (UFG) e da parceria com o Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC-UFG), o Museu Antropológico da UFG, o Fórum Goiano de Saúde Mental e o Coletivo Desencuca.

"É importante destacar que os projetos nascem do movimento social, e a ideia é garantir a discussão e a visibilidade aos direitos humanos das pessoas com demandas de saúde mental e, portanto, ao direito ao cuidado e à liberdade", afirma a professora do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (Iptsp/UFG) e coordenadora do projeto de extensão, Larissa Arbués.

 

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Obra que compõe a Mostra de Arte Insensata, realizada em novembro de 2012 no Museu Antropológico (Foto: Divulgação)

 

Violação de direitos humanos

De acordo com a professora da UFG, o histórico é marcado pela violação dos direitos humanos, que refletem "os preconceitos de nossa sociedade". Assim como alerta Larissa Arbués, o termo "manicômio" está presente nos vínculos sociais e na memória social e simboliza relações excludentes, opressoras e que apartam o sujeito que se porta diferente na sociedade.

"Ao atualizar o termo, ele não diz mais respeito somente ao espaço fechado para onde as pessoas eram levadas para tratamentos e apartadas do convívio social, como são os hospitais psiquiátricos e clínicas. As instituições totais (manicomiais) ainda existem, mas tem se transformado ao longo do tempo. Ainda temos que lutar pela ampliação e qualificação de uma rede de cuidados em liberdade, territorial e includente. A exclusão social ainda está presente, infelizmente. Portanto, a luta antimanicomial hoje é pelo enfrentamento das barreiras de preconceito e exclusão", explica.

A finalidade do espaço virtual é ser uma espécie de vitrine das produções da luta antimanicomial. "Com a ajuda dos princípios da nova museologia, utilizamos a memória para que o passado de violação de direitos não seja esquecido e para que se continue a lutar por um novo modelo de sociedade", afirma a professora da UFG.

De acordo com as informações do museu virtual, os princípios da nova museologia buscam a partir da memória promover a redução das injustiças e desigualdades sociais, combater preconceitos e fortalecer a dignidade e a coesão social.

 

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I Mostra Itinerante de Arte Insensata apresentou produção artística desenvolvida nas unidades de saúde em forma de exposição (Foto: Divulgação)

 

Projeto

O projeto Memória da Saúde Mental foi concebido em 2014, no âmbito do Fórum Goiano de Saúde Mental, e se ampliou e institucionalizou em 2019 como projeto de extensão da UFG, com o objetivo de ser um espaço de interlocução, sistematização e visibilidade do histórico e da memória da saúde mental em Goiás.

Entre seus eixos de ação estão a conservação, guarda e apoio a salvaguarda de documentos históricos da saúde mental em Goiás; a visibilidade da memória da saúde mental em Goiás por meio do Museu da Saúde Mental, de exposições temporárias e mostras itinerantes abertas ao público; e a formação, educação e divulgação acadêmica com estímulo à produção e publicação de textos e realização de eventos sobre a Luta Antimanicomial e a Reforma Psiquiátrica em Goiás.