Indígenas Iny Karajá reencontram pertences culturais na Europa
Missão do Museu Antropológico da UFG foi à Alemanha e Inglaterra conhecer artefatos do século XIX
Sokrowe, líder indígena Iny Karajá, observa artefato preservado em coleção no Museu Britânico, em Londres (Foto: MA/UFG)
Da Redação, com informações do Museu Antropológico
Uma equipe de pesquisadores do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (UFG) realizou uma segunda missão acadêmica em Berlim e Londres, entre os dias 14 e 26 de setembro. Participaram da missão os líderes indígenas Iny Karajá da aldeia Santa Isabel do Morro, na Ilha do Bananal (TO), Sokrowe e Ixyse.
O objetivo foi promover o reencontro dos líderes com objetos históricos de sua cultura, alguns datados de 1888, como os aproximadamente 500 exemplares da coleção do etnógrafo Paul Ehrenreich, preservados no Museu de Etnologia de Berlim. A visita também buscou firmar parecerias para os projetos comunitários dos Iny Karajá relacionados ao patrimônio cultural, meio ambiente e educação.
Em Berlim, o diretor do Museu Antropológico da UFG, Manuel Ferreira Lima Filho, e as lideranças Iny Karajá foram convidados a participar da Semana da Amazônia, promovida pela Embaixada Brasileira/Itamaraty.
O evento reuniu lideranças como Davi Kopenawa, Alessandra Korap e Leandro Munduruku, e destacou questões urgentes, como os impactos do desmatamento, queimadas, garimpo, agronegócio e seca dos rios, que afetam diretamente os territórios indígenas, entre eles a Ilha do Bananal.
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Sokrowe e Ixyse integraram missão do Museu Antropológico da UFG, que estuda as materialidades do grupo Iny Karajá (Foto: MA/UFG)
Objetos históricos
Na etapa em Londres, a equipe realizou uma reunião de trabalho na reserva etnográfica do Museu Britânico, onde Sokrowe e Ixyse reencontraram objetos históricos de seu povo, coletados em expedições ao Rio Araguaia.
Embora a coleção Iny Karajá do Museu Britânico não se destaque pela quantidade de peças, a raridade e o valor histórico de alguns artefatos são notáveis. Entre eles, uma borduna (arma indígena) do século XIX, admirada pela técnica artesanal em sua confecção, destacando-se o acabamento com três camadas de plumas de arara-vermelha e uma ponta de osso, provavelmente de onça ou veado.
Outros itens relevantes incluem flechas de técnica apurada e tembetás de quartzo do século XIX – pequenos ornamentos labiais usados pelos Iny Karajá – que reforçam a importância desses objetos na construção social do grupo e nas trocas com outros povos da região, como os Tapirapé e os Kayapó.
A missão contou com o apoio da Secretaria de Relações Internacionais (SRI) da UFG, da Embaixada da Alemanha no Brasil, da Embaixada Brasileira em Berlim, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Secretaria de Relações Exteriores da Alemanha (Berlim) e do Centro de Excelência Santo Domingo para Pesquisa Latino-Americana (SDCELAR) do Museu Britânico.
Participaram da missão o antropólogo e diretor do Museu Antropológico da UFG, Manuel Ferreira Lima Filho, e o antropólogo pós-doutorando do MA/UFG/CNPq, Rafael Andrade, integrantes dos projetos "Materialidades" e "Kuaxiru", ambos financiados pelo CNPq.
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Diretor do Museu Antropológico da UFG, Manuel Ferreira de Lima Filho (à dir.), lidera estudos sobre a arte plumária dos Iny Karajá (Foto: MA/UFG)
Arqueologia compartilhada
Segundo o diretor do Museu Antropológico, a missão fez parte de um projeto cujo objetivo é estudar as materialidades do grupo Iny Karajá. Manuel explica que a pesquisa é realizada na perspectiva da arqueologia compartilhada, ou seja, a partir de demandas do próprio grupo estudado, "que quer entender a sua ocupação em tempos coloniais e pré-coloniais". O projeto é coordenado pelo arqueólogo do MA/UFG, Diego Mendes, que pesquisa o tema em seu doutorado na USP.
Em outras frentes de pesquisa lideradas pelo professor Manuel, os temas abrangem a importância dos pássaros na confecção dos artefatos plumários e na construção social do corpo Iny Karajá, de modo especial o gênero masculino.
"Estamos estudando todos os objetos plumários de sete coleções, sendo três internacionais e quatro nacionais, e estamos nesse momento escrevendo um livro em parceria com os Iny Karajá sobre os pássaros inseridos dentro da ontologia do grupo, e numa perspectiva intercultural, com os alunos indígenas", detalha o diretor.
Fonte: Museu Antropológico
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