Projeto da UFG instala fossa de bananeira em seis comunidades quilombolas
Povoado de Levantado, em Iaciara (GO), vai receber a fossa ecológica em dezembro
Equipe de pesquisadores do projeto SanRural apresenta fossa ecológica a moradores de Porto Leucádio (Foto: Divulgação SanRural)
EM SÍNTESE:
- Seis comunidades quilombolas em Goiás recebem fossas ecológicas, reduzindo riscos de contaminação do solo e das águas.
- O sistema, chamado Bacia de Evapotranspiração, usa bananeiras para transformar dejetos humanos em nutrientes para o solo.
- O projeto da UFG envolve moradores nas instalações e busca melhorar o saneamento em áreas vulneráveis de Goiás.
Carolina Melo
Um levantamento realizado em 115 comunidades rurais e/ou tradicionais de Goiás pelo projeto Saneamento e Saúde Ambiental em Comunidades Rurais e Tradicionais de Goiás (SanRural), da Universidade Federal de Goiás (UFG), revelou que 59,3% dos domicílios de 97 comunidades rurais goianas avaliadas utilizam fossas rudimentares – basicamente buracos escavados no solo para o descarte de dejetos. Em 6,6% das moradias não há banheiro.
Como resposta a essa realidade, a equipe de pesquisadores da UFG, coordenada pelo professor Paulo Sérgio Scalize, da Escola de Engenharia Civil e Ambiental (EECA), elaborou o projeto Informações de Comunidades Tradicionais e Ações de Saneamento (TradSan) e instalou em seis comunidades quilombolas a Bacia de Evapotranspiração (BET), conhecida popularmente como fossa de bananeira ou fossa ecológica.
A bacia de evapotranspiração é uma tecnologia social alternativa que pode fornecer melhorias para as comunidades que vivem num ambiente de vulnerabilidade em relação ao abastecimento de água e ao esgotamento sanitário, explica o professor. "A fossa de bananeira é um sistema fechado que permite o tratamento de água utilizada na descarga dos sanitários".
O sistema não produz efluentes e evita a contaminação do solo e das águas tanto superficiais quanto do lençol freático. Os resíduos humanos são tratados e transformados em nutrientes para as plantas e a água é liberada limpa por evapotranspiração.
"No entanto, pode ser necessária uma tubulação de saída para o encaminhamento de excedentes para uma vala de infiltração ou círculo de bananeiras", detalha o plano de trabalho produzido pelos pesquisadores.
A opção pela fossa sustentável foi avaliada entre os pesquisadores e as comunidades quilombolas, a partir da adoção de uma metodologia de escuta pelo projeto TradSan da UFG. Foi coletivamente, inclusive, que o grupo decidiu sobre o local de instalação da BET.
Participaram da oficina e da instalação da bacia de evapotranspiração as comunidades quilombolas Fazenda Santo Antônio da Laguna (município de Barro Alto), José de Coleto (Colinas do Sul) e Queixo Dantas (Mimoso de Goiás), além das comunidades quilombolas Rafael Machado (Niquelândia), Porto Leucádio (São Luiz do Norte) e comunidade dos Almeidas (Silvânia). A previsão é de que o Povoado Levantado, de Iaciara, receba a visita dos pesquisadores ainda no mês de dezembro.
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Da esquerda para a direita: impermeabilização interna da BET, instalação da tubulação de esgoto do vaso
sanitário para a BET, colocação dos pneus e tijolos, preenchimento com brita, areia e
solo, plantação das bananeiras e BET finalizada (Fotos: Divulgação SanRural)
Etapas
Para a instalação da BET foram realizadas duas oficinas nas comunidades. A meta foi reunir, em cada comunidade, ao menos um representante de cada moradia, com o maior envolvimento de moradores possível.
A primeira oficina foi pensada com o objetivo de promover o reconhecimento e acolhimento da história das comunidades envolvidas, de sensibilizar e conseguir a adesão à proposta do Projeto TradSan, assim como de mobilizar e engajar para a instalação da bacia de evapotranspiração.
Ao longo do primeiro encontro, os participantes decidiram sobre o domicílio e o local onde seria realizada a execução da BET, de acordo com os critérios do projeto. Entre eles, domicílio chefiado por mulheres, maior número de pessoas por moradia, e possuir instalação hidrossanitária com separação do esgoto fecal (do vaso sanitário) do restante (água cinza). Durante o encontro, também foram disponibilizados aos moradores filtros de barro para a purificação da água de consumo humano.
Já a segunda oficina, realizada em dois dias, foi para a construção da fossa de bananeira e o treinamento dos líderes comunitários para o cadastro na Plataforma de Territórios Tradicionais (PTT), que permite uma relação mais próxima das comunidades com o Ministério Público Federal (MPF). Os moradores participaram de toda a etapa da execução da fossa ecológica, por meio de mutirões, e sob a orientação técnica dos pesquisadores da UFG.
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Maquete é usada nas oficinas ministradas nas comunidades (Foto: Divulgação SanRural)
Equipe
A equipe de pesquisadores da UFG, coordenada pelo professor Paulo Sérgio Scalize e pela subcoordenadora e professora da UFG, Karla Emmanuela Ribeiro Hora, é composta pelos professores da Escola de Engenharia Civil e Ambiental (EECA) da UFG Humberto Carlos Ruggeri Júnior, Raviel Eurico Basso e Denilson Teixeira, pela engenheira ambiental Adivânia Cardoso da Silva, pelo engenheiro agrícola Kervens Lamarre e pelo graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária Vinicius Baroni Scalize.
Também fazem parte da equipe a professora da Universidade de São Paulo (USP) e museóloga Camila Azevedo de Moraes Wichers, o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e engenheiro químico Adriano Luiz Tonetti, e a professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) Nolan Ribeiro Bezerra.
O projeto TradSan é fruto da colaboração interinstitucional e internacional entre Fundação de Apoio à Pesquisa (Funape), UFG, Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH e MPF. O convênio foi firmado com o objetivo de contribuir para a implementação do Projeto Territórios Vivos com ações de multiplicação e implementação da Plataforma de Territórios Tradicionais (PTT) em Goiás.
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Fonte: Secom UFG
Categorias: Saneamento Ciências Naturais EECA