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Universidade Federal de Goiás
Andri Bakuzis

Pesquisadores criam superpartícula com potencial para diagnosticar e tratar câncer

Em 14/04/25 09:56. Atualizada em 14/04/25 09:57.

Desenvolvida na UFG, estrutura reúne técnicas de imagem e terapia térmica para atuar com precisão em tumores

 

Andri Bakuzis

Professor Andris Bakuzis, do Instituto de Física da UFG, destaca caráter multidisciplinar da pesquisa (Foto: Luiz Felipe Fernandes/Secom UFG)

 

Luiz Felipe Fernandes

Uma partícula minúscula que ao mesmo tempo identifica e combate o câncer: essa é a proposta de um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), que foi destaque na capa da revista científica ACS Applied Materials & Interfaces. O artigo apresenta uma nanopartícula que combina diagnóstico por imagem e terapia térmica, com potencial para tratar tumores como o melanoma (câncer de pele) e o glioblastoma (tumor cerebral).

"Podemos dizer que fizemos uma supernanopartícula", comemora o professor do Instituto de Física (IF) da UFG, Andris Bakuzis, um dos autores do estudo. Trata-se de uma estrutura com uma "casca" esférica fluorescente contendo partículas ainda menores à base de óxido de ferro (com propriedade magnética) no seu interior. Além disso, na membrana da partícula foram colocados fragmentos de células tumorais.

A escala nanométrica (nm) se refere a medidas extremamente pequenas – um nanômetro equivale a um bilionésimo de metro, cerca de 100 mil vezes menor que a espessura de uma folha de papel (veja infográfico). A nanopartícula do estudo tem cerca de 100 nanômetros.

O sistema desenvolvido na pesquisa recebe o nome de nanocarreador biomimético. Funciona como um "cavalo de Troia": após ser injetada no organismo, a nanopartícula é guiada mais facilmente até o tumor, justamente por conter células semelhantes em sua estrutura. A ideia é que essas pequenas estruturas carreguem com elas substâncias terapêuticas (como as utilizadas em quimioterapia, por exemplo) para atuar diretamente no tumor.

O estudo da UFG, no entanto, dá alguns passos a mais. O diferencial está na capacidade de localizar e ativar essas partículas, já dentro do corpo, de forma não invasiva, por meio de uma técnica clínica amplamente utilizada na medicina: a ressonância magnética, ou MRI (Magnetic Resonance Imaging), que funcionou como um "guia" para os cientistas. Isso é possível justamente pela propriedade magnética adicionada na estrutura, o que a torna um agente de contraste, possibilitando acompanhar sua jornada até o tumor.

O pesquisador da UFG explica em outras palavras: "Eu injeto a nanopartícula no corpo do paciente, ela vai para uma região específica, eu vejo no equipamento de imagem e depois, de fora, eu ligo algo. Esse 'algo' pode ser um campo magnético ou uma radiação eletromagnética que ativa somente as nanopartículas". Uma vez localizadas e ativadas, é iniciado o processo terapêutico, que, no caso do estudo, foi a terapia fototérmica (que usa o calor para destruir células tumorais).

Por ter o potencial de, ao mesmo tempo, localizar e tratar, um sistema como esse tem capacidade teranóstica – junção das palavras terapia e diagnóstico. Além disso, essas estruturas podem proporcionar uma tratamento mais eficiente e com menos efeitos colaterais, uma vez que atuam somente no alvo e com muito mais precisão.

 

Leia também: Evento destaca avanços em nanomedicina na UFG

 

Info escala nanométrica

Imagem: Gil Jesus/ND

 

Experimentos

A pesquisa demonstrou a eficácia do sistema em experimentos com camundongos. Foram testadas diferentes vias de administração da nanopartícula – intravenosa, intratumoral e intraperitoneal (dentro da veia, do tumor ou no abdômen, respectivamente). Em todos os casos, houve acúmulo significativo nos tumores. Segundo o professor, isso pode abrir caminho para estratégias ainda mais sofisticadas de entrega, inclusive com o uso de células do próprio sistema imune como transportadoras.

Além disso, o modelo biomimético oferece potencial imunológico, ao carregar proteínas específicas das células tumorais. "Essa nanopartícula pode, inclusive, ser pensada como uma plataforma vacinal contra o câncer, já que estimula o sistema imunológico a reconhecer o tumor", observa o pesquisador.

 

Leia também: Professora explica avanços proporcionados pelas nanopartículas

 

Info nanopartícula

Demonstração do uso de nanopartículas no combate ao câncer que ajudam a identificar o tumor e destruí-lo com calor (Imagem: Rocha et al., 2025)

 

Esforço conjunto

O estudo envolveu uma rede de colaboração multidisciplinar de pesquisadores de diferentes unidades acadêmicas da UFG – Institutos de Física e Ciências Biológicas (ICB) e Faculdade de Farmácia (FF) – e utilizou diferentes expertises e infraestruturas avançadas, como o Centro de Pesquisa Integrada em Nanomedicina (CNanoMed), coordenado por Andris, onde foi utilizado o aparelho de MRI.

Para o pesquisador, o trabalho é um exemplo de como ciência aplicada e ciência básica se complementam. "Este trabalho é uma coleção de cientistas de todos os graus possíveis", comenta. Andris ressalta também a importância do financiamento à pesquisa, já que muitos dos insumos e aparelhos utilizados no estudo não foram adquiridos somente para este projeto. "Quando esses grupos se encontram, eles podem fazer descobertas fantásticas", finaliza.

Acesse aqui o artigo completo "Near Infrared Biomimetic Hybrid Magnetic Nanocarrier for MRI-Guided Thermal Therapy".

 

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Fonte: Secom UFG

Categorias: Nanomedicina Tecnologia IF Destaque