
Método pioneiro detecta câncer pela cera de ouvido
Diagnóstico de risco oncológico foi desenvolvido por João Marcos Barbosa no doutorado em Química
Versanna Carvalho
A terceira e última entrevista com os pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) que receberam menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2025, o doutor em Química João Marcos Gonçalves Barbosa fala sobre a pesquisa que desenvolveu um diagnóstico de risco de câncer a partir da cera de ouvido. A tese Desenvolvimento e Aplicação de Diagnóstico de Risco Oncológico via Análise de Metabólitos Orgânicos Voláteis em Cerúmen foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ), sob orientação do professor Nelson Roberto Antoniosi Filho.
João Marcos Barbosa integrou Projeto Cerúmen, do Instituto de Química da UFG (Foto: Arquivo Pessoal)
Qual é o significado deste reconhecimento de uma tese para o autor, os orientadores, coorientadores, a unidade acadêmica e a UFG?
João Marcos Barbosa – Esse reconhecimento tem um significado muito especial em vários aspectos. Para mim, como autor, representa uma coroação de anos de dedicação imersiva à pesquisa, muitas vezes marcados por desafios pessoais e profissionais inerentes à trajetória acadêmica. Ter o trabalho reconhecido é uma forma de visualizar que, com muito esforço e dedicação, podemos, de fato, gerar impacto por meio da pesquisa científica. No aspecto de orientação é igualmente significativo. A tese e seu reconhecimento são frutos de um papel fundamental de orientação exercido pelo professor Nelson Roberto Antoniosi Filho, que abrange desde a concepção inicial da ideia, a confiança depositada no meu trabalho e abertura para discutir novas abordagens, e interpretações durante a construção do trabalho. Em resumo, esse prêmio se consolida como um reconhecimento à qualidade da orientação e ao compromisso do professor Nelson com a formação de novos pesquisadores. No âmbito da unidade acadêmica, essa menção honrosa evidencia o crescimento e o compromisso com a excelência do PPGQ em se estabelecer como uma referência no âmbito nacional e internacional de ciência e inovação. Por fim, acredito que tal prêmio reforça a visibilidade nacional e internacional da UFG. Tal reconhecimento demonstra que, mesmo em cenário de tantos desafios para a pesquisa no Brasil durante a execução da tese, tais como pandemia e cortes orçamentários, a UFG continuou a produzir conhecimento como forma de retribuição social.
Resumidamente, do que se trata a tese Desenvolvimento e Aplicação de Diagnóstico de Risco Oncológico via Análise de Metabólitos Orgânicos Voláteis em Cerúmen?
João Marcos – Tempo é um fator crucial no diagnóstico de câncer. Quanto mais precoce a manifestação oncológica é detectada no organismo, maiores são as chances de uma intervenção clínica que leve à remissão completa da doença tumoral. No entanto, os dados mais recentes apontam que mais da metade dos casos são detectados em estadiamento avançado da doença, o que diminui e muito a chance de um tratamento efetivo. Um dos grandes fatores por trás deste rastreio tardio, especialmente em países em desenvolvimento, é a falta de disponibilidade de diagnósticos clínicos acessíveis e de alta acurácia nos sistemas de saúde. Desta forma, minha tese teve como objetivo desenvolver um diagnóstico para rastreamento oncológico que tivesse como características um baixo preço, alta acurácia clínica e que fosse não invasivo, de forma a tornar mais viável uma futura transição da escala laboratorial para o sistema público de saúde. Uma das grandes inovações dessa pesquisa é o uso do cerúmen como a biomatriz de análise clínica na área oncológica. O cerúmen, apesar de ser uma matriz não convencional em estudos diagnósticos, possui um grande valor biológico, funcionando como um depósito de informações do metabolismo, que pode ser acessado de maneira fácil e não invasiva. Os metabólitos orgânicos voláteis fazem parte dessas informações do metabolismo que são armazenadas no cerúmen e carregam marcadores tumorais que podem ser analisados pelo método desenvolvido e descrito na tese para indicar, de maneira precoce, se um paciente está com algum indicativo inicial de risco oncológico.
De onde veio a ideia para esta tese?
João Marcos – A ideia para a tese veio do Projeto Cerúmen, idealizado e coordenado pelo professor Nelson Roberto Antoniosi Filho. Tal projeto busca desenvolver abordagens diagnósticas inovadoras utilizando o cerúmen para abordar doenças metabólicas, tal como já feito para diabetes, doenças oncológicas (descritas na tese), e se encontra em fase de desenvolvimento para outras doenças neurodegenerativas.
Dentro dos critérios observados no processo seletivo (I. Originalidade do trabalho; II. Relevância para o desenvolvimento científico, e/ou tecnológico/econômico, e/ou político/social, e/ou saúde e bem-estar, e/ou ambiental; III. Robustez e/ou reprodutibilidade da metodologia e análise de dados utilizados na tese; IV. Qualidade da redação, estrutura/organização do texto; V. Grau de inovação e/ou interdisciplinaridade da tese; e VI. Qualidade e impacto(s) de produtos oriundos da tese.), quais acredita que chamaram a atenção dos avaliadores na sua tese?
João Marcos – Acredito que alguns pontos dentro de cada critério foram necessários para o destaque da tese. Por exemplo: a proposta de utilizar o cerúmen como uma matriz biológica viável para o diagnóstico oncológico é pioneira. Trata-se de uma abordagem que abre novos caminhos e avança a fronteira do conhecimento na pesquisa oncológica. A relevância científica e social do trabalho é evidente no impacto direto que o método desenvolvido pode levar ao bem-estar e à saúde da população, já que envolve estratégias de diagnóstico precoces e acessíveis para uma das maiores causas de mortalidade do mundo, o câncer. Em relação à robustez científica, a tese contou com uma rede multidisciplinar de químicos, bioquímicos, médicos, estatísticos e outros profissionais para garantir o rigor metodológico e validar a proposta da tese, culminando na publicação de todos os capítulos da tese em revistas reconhecidas da comunidade científica. No que tange à inovação e à interdisciplinaridade, esta tese conectou áreas distintas, como a química, a oncologia e demais áreas da saúde pública em prol da resolução de um problema de alta complexidade: desenvolver um diagnóstico precoce inovador para doenças oncológicas, no qual a sua disponibilidade seja amplamente acessível e viável para a população brasileira.
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Fonte: Secom UFG
Categorias: Prêmio Capes de Tese Ciências Naturais IQ Especial Notícia 1