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Universidade Federal de Goiás

Diversidade nas colações de grau

Em 26/04/16 16:44. Atualizada em 28/04/16 15:28.

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Diversidade nas colações de grau

Cerimônias garantem acessibilidade e protocolo especial para atender diferentes necessidades 

Texto: Luiz Felipe Fernandes | Fotos: Carlos Siqueira

 

Benvinda e Morgan, da África, levaram bandeiras de seus países para a colação

Benvinda e Morgan, da África, levaram bandeiras de seus países para a colação

 

Esse ano a Universidade Federal de Goiás (UFG) é responsável por 27 cerimônias de colação de grau dos estudantes que concluíram seus cursos no segundo semestre de 2015. Até o fim de maio serão realizados 15 eventos em Goiânia, cinco em Catalão, cinco em Jataí e dois em Goiás. Entre os milhares de novos profissionais das mais diversas áreas de conhecimento, estão aqueles para os quais a conquista do diploma de graduação têm um significado ainda mais especial: os que tiveram de vencer os obstáculos impostos por ambientes hostis às diversidades daqueles que convivem com alguma deficiência e os que deixaram seus países de origem para estudar no Brasil. Além da realização pessoal, a presença destes formandos reforça o papel da Universidade como espaço de inclusão e diversidade.

Na Regional Goiânia, o Centro de Eventos Professor Ricardo Freua Bufáiçal, no Câmpus Samambaia, garante a acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida com rampas de acesso aos camarins e ao palco. Além disso, a Fundação Rádio e Televisão Educativa e Cultural (RTVE) monta uma estrutura de transmissão simultânea dos intérpretes em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Na colação de grau do curso de Letras (que inclui a habilitação em Libras) o juramento também é feito oralmente e por sinais.

Na reta final do curso de licenciatura em Ciências Biológicas, em 2015, Sara Marina Laviola sofreu um acidente de moto que a deixou tetraplégica. No retorno aos estudos ela teve o apoio do Núcleo de Acessibilidade da UFG e da coordenação do curso para superar os obstáculos que surgiram. Sara conta que as principais dificuldades estão nas barreiras arquitetônicas, que dificultam a locomoção, e atitudinais, que atribuem a pessoas com deficiência a imagem de dependência ou baixa capacidade intelectual. Com a colação de grau, Sara diz que seus planos estão sendo reconstruídos. “Pretendo ingressar em um mestrado e, quem sabe, retornar à Universidade como docente”.

 

box "Cerimonia democratica"

 

Exceção

Concluinte do curso de Direito da UFG, Raquel Robles de Souza lamenta o baixo número de pessoas com deficiência no Ensino Superior. Ela possui uma deficiência de origem genética e progressiva denominada distrofia muscular do tipo cinturas e, por isso, se locomove com cadeira de rodas. Apesar de não ter enfrentado problemas no acesso à Universidade, Raquel tem consciência de que é uma exceção. “O Censo de 2010 do IBGE apontou que, naquele ano, apenas 6,7% das pessoas com deficiência possuíam o ensino superior completo. Esse é um dado que merece uma maior reflexão. É um sinal de que as pessoas com deficiência são segregadas da sociedade e não possuem as mesmas oportunidades de participação, como de conseguirem ingressar em uma universidade pública”.

Sem contar o preconceito que, segundo a bacharel, é vivenciado cotidianamente. “É impossível, ou ao menos extremamente improvável, uma pessoa com deficiência frequentar um espaço todo pensado para pessoas sem deficiências sem lidar com discriminações. De uma forma geral, as pessoas sem deficiências já possuem grande dificuldade em lidar em pé de igualdade com uma pessoa com deficiência sem se sentirem superiores a elas. Acrescente-se a isso uma estrutura arquitetônica que impossibilite um cadeirante de frequentar e utilizar todos os ambientes disponibilizados para os demais alunos e é claro que haverá preconceitos”.

Raquel foi aprovada na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) antes mesmo de colar grau. Agora, pretende passar em um concurso que possibilite ganhar prática jurídica, já que alguns cargos disputados por bacharéis em Direito exigem três anos de experiência na área. Sua maior meta, entretanto, é trabalhar em algum projeto em prol das pessoas com deficiência. “É a coletividade a qual pertenço, trata-se de quem eu sou e de quem eu quero ver um crescimento cultural e social”, ressalta.

 

Morgan Tshipamba, da República Democrática do Congo, comemorou a conquista com amigos da comunidade africana

Morgan Tshipamba, da República Democrática do Congo, comemorou a conquista com amigos da comunidade africana

 

Do mundo para a UFG

As colações de grau da UFG também garantem protocolo diferenciado quando há concluintes estrangeiros. Caso haja interesse, o formando pode levar a bandeira de seu país e encaminhar ao cerimonial o hino, cuja execução é incluída no roteiro da cerimônia. Na colação de grau do curso de Engenharia Elétrica, no dia 14 de abril, foi executado o hino da República Democrática do Congo em referência ao concluinte Morgan Tshipamba. Com o sonho de estudar no Brasil acalentado desde o Ensino Médio, ele chegou do país africano em 2008 e, no ano seguinte, começou a estudar na UFG.

Morgan sabia da dificuldade que teria para aprender Português (a língua oficial da República Democrática do Congo é o Francês), mas o clima seco de Goiânia também surpreendeu. “Saí de uma cidade onde chove oito meses por ano”, conta. Infelizmente, ele também teve de lidar com o preconceito. “É uma realidade daqui, mas que nunca me desanimou a alcançar o que vim buscar”. Em compensação, Morgan afirma ter feito bons amigos e destaca a estrutura e a qualidade de ensino da UFG que o permitiram se tornar engenheiro eletricista. “Deixar a casa e vir para cá me fez crescer bastante, hoje tenho uma visão diferente e bem mais ampla do mundo”. Selecionado para o mestrado, Morgan ficará mais dois anos em Goiânia.

Concluinte do curso de Letras-Inglês, a angolana Aida Rafael se diverte ao falar das diferenças culturais e geográficas entre seu país e o Brasil, começando pelo clima quente, passando pelo hábito de comer arroz e feijão todo dia, a diferença no sotaque português e até o costume de dividir a conta. “Na Angola, quem convida paga a conta”, explica. Assim como Morgan, ela veio para a UFG por meio do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), destinado a estudantes de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais. Antes de voltar para Angola, Aida vai tentar o mestrado. “Avalio a experiência como super positiva, agregou demais a minha vida como pessoa e como estudante. Estudar em uma faculdade federal e com professores totalmente capacitados e prontos a ajudar não tem preço, é simplesmente incrível”, relata.

 

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Categorias: universidade Edição 78