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Universidade Federal de Goiás

UFGInclui recebe maior número de estudantes desde sua criação

Em 26/04/16 16:44. Atualizada em 28/04/16 17:59.

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UFGInclui recebe maior número de estudantes desde sua criação

Em 2016, a Universidade recebeu 84 indígenas e quilombolas, mais que o dobro de 2015

Texto: Angélica Queiroz | Fotos: Carlos Siqueira e Adriana Silva | Gráficos: Reuben Lago

 

Permanência foi pauta prioritária no Seminário de Avaliação do UFGInclui, de 2015, que reuniu professores, pesquisadores, estudantes e demais interessados no acesso e permanência de indígenas, quilombolas e surdos na UFG

Permanência foi pauta prioritária no Seminário de Avaliação do UFGInclui, de 2015, que reuniu professores, pesquisadores, estudantes e demais interessados no acesso e permanência de indígenas, quilombolas e surdos na UFG

 

Criado para democratizar o acesso à Universidade, o Programa UFGInclui tem crescido a cada ano. Em 2016, recebeu 84 estudantes indígenas e quilombolas, nas regionais Goiânia, Goiás, Catalão e Jataí, o maior número desde a sua criação, em 2009. Em 2015, foram 35. O UFGInclui prevê uma vaga extra em cada curso de graduação onde houver demanda indígena e quilombola, quando oriundos de escola pública, a partir da pontuação obtida pelo Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), bem como 15 vagas para candidatos surdos na graduação Letras Libras.

Coordenador de Inclusão e Permanência da Prograd/UFG e do UFGInclui, o professor Jean Baptista ressalta que esse foi o maior processo seletivo do programa, com 145 quilombolas e 75 indígenas inscritos. Para ele, esse crescimento se deve, principalmente, ao projeto “UFG nas comunidades”, com oficinas que esclarecem como ingressar na UFG, com envolvimento de professores e alunos. “Quando vamos às comunidades percebemos que muita gente ainda não sabe da existência do UFGInclui”, observa. Outro fator, segundo Jean Baptista, é a ajuda dos estudantes veteranos que viram porta-vozes do programa em suas comunidades e fora delas. “Eles viram multiplicadores e assumem o protagonismo do UFGInclui”, completa.

Pró-reitor de Graduação da UFG, Luiz Mello de Almeida Neto ressalta que a Universidade deve ser um espaço de diversidade e pluralidade. “A recepção desses estudantes é a expressão do compromisso da UFG com esses grupos que, tradicionalmente, foram excluídos e tiveram seus saberes e sua cultura também excluídos do universo acadêmico”, afirma. Para Luiz Mello, o UFGInclui colabora para a valorização de outros saberes, considerando não só o que esses estudantes têm a aprender, mas também o que eles têm a ensinar. “É um exercício riquíssimo para os outros alunos se estes forem abertos a aprender uma nova cultura”, ressalta.

 

Dados UFGInclui 2009 a 2016

 

UFGInclui 2016-1


Permanência ainda é desafio

Apesar da possibilidade de acesso, os estudantes ainda vivem muitas dificuldades para permanecer na Universidade. Uma das razões é a desinformação sobre seus direitos. Todos os indígenas e quilombolas que ingressam na UFG, assim como nas demais universidades brasileiras, têm direito a uma bolsa de 900 reais, paga, desde 2010, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Por desconhecer o auxílio, muitos estudantes demoram a requerer o direito e, por isso, além de todas as outras dificuldades de adaptação a uma nova cultura, a evasão foi muito grande nos primeiros anos de UFGInclui.

De acordo com Jean Baptista, a criação da União de Estudantes Indígenas e Quilombolas da UFG, que realiza reuniões mensais, revelou a complexa situação em que alguns desses estudantes estavam e começou a ajudar a mudar essa realidade. As demandas levantadas pelo grupo são repassadas à Coordenação de Inclusão e Permanência (CIP), que tem desenvolvido várias ações para garantir não só o acesso, mas também a continuidade desses estudantes na Universidade, em interlocução permanente com a Pró-reitoria de Assuntos da Comunidade Universitária (Procom).

Além de estar presente no ato da matrícula para informar aos estudantes sobre seus direitos e identificar casos que mais precisam de acompanhamento, a CIP realiza mediações em cursos de formação de novos professores, conselhos diretores e semanas pedagógicas, para tentar contribuir na formação de profissionais mais preparados para lidar com as especificidades dos alunos do UFGInclui. “Existe preconceito e, inclusive, profissionais que ainda são contra o programa. Mas a UFG é, acima de tudo, uma instituição de educação. Nosso papel é educar também a essas pessoas”, detalha Jean Baptista.

Na busca de atender a essas demandas, a Prograd criou, em 2014, o Espaço de Inclusão e Permanência, onde funciona também a coordenação, situado no segundo andar do Centro de Convivência, no Câmpus Samambaia. No espaço, há atendimento psicopedagógico, monitorias e, principalmente, acolhimento aos estudantes do UFGInclui, aos cotistas pretos e pardos, aos vinculados ao Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) e qualquer estudante que necessite de orientação e suporte acadêmico para superar suas dificuldades de aprendizado e de integração ao ambiente universitário da UFG. “O espaço é para todos, mas com ênfase na inclusão”, destaca Jean Baptista.

 

Programas de acompanhamento, rodas de conversa, núcleos livres,  tutorias e mentorias visam garantir a inclusão e permanência dos alunos do UFGInclui

Programas de acompanhamento, rodas de conversa, núcleos livres,  tutorias e mentorias visam garantir a inclusão e permanência dos alunos do UFGInclui


Estudantes “em casa”

O indígena Maykon Pepjaca Krikati, estudante do 3º período de Ciências Biológicas, ingressou na Universidade pelo UFGInclui. Ele veio da Aldeia São José, no Território Krikati, Sudoeste do Maranhão. O estudante conta que, quando chegou à Goiânia, se sentiu como um estranho no novo mundo e teve muitas dificuldades na cidade grande, onde, segundo ele, tudo é diferente. “Achava que não ia me dar bem com outras pessoas, mas encontrei gente disposta a ajudar. Senti-me acolhido. No Espaço todos são iguais e todos são ouvidos”, relata. Segundo ele, a equipe da CIP o ajudou muito com o suporte acadêmico, além de orientações relativas à solicitação de moradia estudantil e bolsa alimentação junto à Procom.

Um dos cerca de 50 membros da União de Estudantes Indígenas e Quilombolas da UFG, o estudante quilombola José Henrique Cavalcante, que cursa Relações Internacionais, afirma que a Universidade ainda tem muitas formas de exclusão, a começar pela linguagem, que não é a mesma da comunidade. Por esse motivo, o estudante elogia o trabalho da CIP e o Espaço de Inclusão e Permanência que, segundo ele, é o lugar mais diverso da UFG. “Nós ainda precisamos de muita coisa e aqui nossas lutas se encontram e achamos forças para lutarmos juntos”.

 

Espaço de Inclusão e Permanência oferece atendimento psicopedagógico, monitorias e acolhimento aos estudantes

Espaço de Inclusão e Permanência oferece atendimento psicopedagógico, monitorias e acolhimento aos estudantes


“Um lugar para se sentir à vontade na Universidade”

Saturnina da Costa, 27 anos, é estudante do PEC-G e cursa Ecologia e Análise Ambiental. Ela, que veio de Guiné-Bissau, também relata muita exclusão, preconceito por parte de colegas, técnicos da UFG e até professores. “Já sofri muito, mas agora não admito mais. Nem comigo, nem com ninguém. Sinto-me orgulhosa do que sou dentro da UFG, por tudo o que conquistei aqui e porque muita coisa está mudando”, afirma. Ela também diz que encontrou no Espaço de Inclusão e Permanência um lugar para se sentir à vontade na Universidade, interagir com outros grupos e fazer amigos. “Esse Espaço foi a melhor coisa que aconteceu na UFG. Quem estiver se sentindo só na Universidade, pode vir para cá que vai encontrar carinho”, conclui.

Ingressante pelo sistema de cotas, Jean Carlos Rodrigues estuda Nutrição e narra diversos casos de preconceito vivenciados na Universidade. “Existe um racismo ‘sutil’ quando somos abordados por seguranças por sermos negros. Temos que empoderar mais pessoas na Universidade e aprender a não deixar para lá”, ressalta. O estudante já participou de algumas monitorias no Espaço de Inclusão e Permanência e elogia o aspecto humanizado do local. “As monitorias servem para deixar a situação um pouco mais igual. Muitos professores esperam que todos tenham conhecimento nivelado. Vim de escola pública. Infelizmente não é assim”, relata. Jean Carlos reivindica a criação de um espaço parecido no Câmpus Colemar Natal e Silva, onde estuda, e nas regionais. “Nem todos tem condições de vir aqui para o Câmpus Samambaia e ficam sem ter a quem recorrer”, explica.


Histórico

Antes da aprovação da Lei de Reserva de Vagas (Lei 12.711/2012), que garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas instituições federais de ensino superior para alunos que cursaram o Ensino Médio integralmente em escolas públicas, estudantes de baixa renda e pretos, pardos e indígenas o Programa UFGInclui já beneficiava estudantes de escolas públicas, negros, quilombolas e indígenas. A partir do vestibular de 2013, o UFGInclui se adequou à lei e passou a abranger apenas quilombolas e indígenas de escolas públicas, além de estudantes surdos no curso de Libras. Os demais estudantes que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas e querem optar pelas cotas, agora são incluídos na Lei de Reserva de Vagas.

 

Para ler o arquivo completo em PDF clique aqui

 

 

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