ENTREVISTA: Luciene Dias
Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás
ANO VII – Nº 69 – Novembro/Dezembro– 2014
Entrevista: Luciene Dias
Um espaço para ações afirmativas
Texto: Michele Martins | Foto: Adriana Cristina
"Queremos liberdade para atuar na condução de políticas de ações afirmativas na UFG"
Apesar dos avanços que a universidade tem registrado em relação à promoção de oportunidades de inclusão de uma parcela da população que permanece, por décadas, socioculturalmente marginalizada e sem acesso à educação superior pública, ainda é um consenso de que a efetiva inclusão ainda não ocorreu. De acordo com membros da comunidade acadêmica ligados diretamente a esses indivíduos, constatou-se que eles querem ser vistos e ouvidos. Esse posicionamento tem impulsionado estratégias de ação que superam os meros levantamentos quantitativos e estatísticos sobre programas como o UFGInclui. Nesse contexto, foi inaugurada em 30 de outubro de 2014 a Coordenadoria de Ações Afirmativas (CAAF), um novo espaço, cuja função é ouvir e dar soluções aos indivíduos em situação de vulnerabilidade que estão entrando na universidade. Em entrevista, a professora da Faculdade de Comunicação e Informação (FIC) e coordenadora da CAAF, Luciene Dias, informa sobre como são orientados os trabalhos dessa coordenadoria. Confira!
Como podemos avaliar as ações afirmativas efetivadas pela UFG até a criação da Coordenadoria de Ações Afirmativas?
A UFG demorou para perceber a importância das ações afirmativas, mas entrou com força quando entendeu a necessidade de estabelecer políticas específicas. Essas ações começaram com o projeto Passagem do Meio, que teve início há cerca de dez anos na Faculdade de Ciências Sociais (FCS), com o objetivo de preparar estudantes da graduação para ingressarem na pós-graduação. A partir desse projeto e para atender a uma demanda nacional de criação de um sistema de cotas para ingresso nas universidades, a equipe da Reitoria iniciou discussões sobre ações afirmativas.
A partir dessas discussões que surge o Programa UFGInclui?
Exatamente. Em 2008, foi criado o Programa UFGInclui, que, no ano seguinte, trouxe para diversos cursos da universidade estudantes negros, indígenas, quilombolas e estudantes de escolas públicas. Contudo, toda política de ação afirmativa implantada demanda acompanhamento diário, porque essas pessoas que passam a compor o universo acadêmico são aquelas as quais a instituição não estava acostumada lidar. É preciso trabalhar com essas diferenças no sentido de construir uma vida melhor na universidade. Porém, não sei se já conseguimos respeitar as diferenças. Isso é um processo. Outra demanda que temos buscado atender é a da qualificação. Estudantes que entram para cursos como Física têm alto índice de reprovação na disciplina Cálculo. Para resolver esse problema, o curso de Física criou uma disciplina específica, como uma introdução ao Cálculo, para que estudantes com dificuldades tenham condições de conduzir o curso de forma satisfatória.
Como foi idealizada a Coordenadoria de Ações Afirmativas?
Ela surgiu de um coletivo dentro da universidade, tendo como participantes diversos núcleos de pesquisa, de estudo, professores e professoras negras e pessoas que passaram pela universidade não como cotistas, porque isso ainda não existia. Esse coletivo realizou uma série de reuniões para tentar instituir uma proposta. Quando foi aberto o processo eleitoral para escolha do novo reitor da UFG, em 2013, membros desse coletivo, o qual também faço parte, apresentaram ao professor Orlando Amaral a nossa proposta e solicitaram que ele a incorporasse em seu plano de gestão. Assim que tomou posse, ele convidou o coletivo para conversar e criar a Coordenadoria de Ações Afirmativas vinculada à Reitoria. Essa demanda foi, portanto, social e não institucional.
Como é a estrutura dessa Coordenadoria?
A CAAF foi inaugurada no dia 30 de outubro, com sede no Centro de Convivência do Câmpus Samambaia. A reunião do Conselho Universitário (Consuni) aprovou a criação da CAAF em maio de 2014. Após a formação da equipe, vamos elaborar um estatuto e pensar em estratégias de ação. Todas as Pró-Reitorias estão vendo com bons olhos a criação da CAAF. Ninguém foi contra sua criação no Consuni, até porque ela não engloba só pessoas negras e pobres, mas também pessoas com deficiência, cada vez mais presentes na universidade. Temos um grupo muito bom e disposto a trabalhar. A estrutura tem servidores e bolsistas, além da coordenadora. A intenção é também instituir um conselho consultivo, para manter a ideia dos grupos de pesquisa, dos núcleos, das pessoas sensíveis da universidade. Queremos liberdade para atuar na condução de políticas de ações afirmativas na UFG.
Quem irá compor o conselho consultivo e quais serão as frentes de ação?
O coletivo que elaborou a proposta da CAAF não se destituiu, dessa forma, pessoas desse coletivo devem compor o conselho consultivo, mas ainda não temos os nomes. A CAAF deve agir para além do acompanhamento e permanência estudantil, não só em ações pontuais dirigidas aos estudantes, mas na política como um todo. Vamos pensar, por exemplo, o assédio moral dos servidores que é grande na universidade e também levantar áreas de pesquisa envolvidas com ações afirmativas na UFG.
O contato com a Coordenadoria de Ações Afirmativas pode ser feito pelo e-mail: caf.ufg@gmail.com
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