Desnutrição e sobrepeso nas comunidades quilombolas
Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás
ANO VII – Nº 69 – Novembro/Dezembro– 2014
Desnutrição e sobrepeso nas comunidades quilombolas
Trabalho da Faculdade de Nutrição sobre alimentação de estudantes nessas regiões conquistou o segundo lugar no Prêmio Nacional Henri Nestlé
Texto: Angélica Queiroz | Fotos: Divulgação
Mestranda da Fanut concluiu que alimentação escolar de crianças e adolescentes de comunidades quilombolas é inadequada
Embora seja frequente a insegurança alimentar (risco de falta de alimentos) nas comunidades quilombolas no Estado de Goiás, muitas crianças e adolescentes apresentam sobrepeso. Essa contradição foi tema da dissertação da nutricionista Mariana de Morais Cordeiro, premiada na 4ª edição do Prêmio Nacional Henri Nestlé em Nutrição em Saúde Pública. O trabalho Excesso de peso em estudantes quilombolas e a insegurança alimentar em seus domicílios foi orientado pela professora Estelamaris Tronco Monego do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde, da Faculdade de Nutrição (Fanut), da UFG.
A estudante afirma em sua dissertação que, embora muitas crianças e adolescentes estejam acima do peso, isso não significa que elas estejam bem nutridas, porque nem sempre a alimentação oferecida a elas é saudável, com a presença, por exemplo, de muitos alimentos industrializados. “O alimento é oferecido para suprir a fome, sem a preocupação de nutrir. Isso é um problema”, explicou a autora do trabalho. Segundo Mariana Cordeiro, o prêmio foi um importante reconhecimento da pesquisa, principalmente por dar oportunidade à divulgação dessa realidade. “Queremos socializar cada vez mais esses dados para atentar às necessidades de mudança nas comunidades quilombolas”, afirmou.
Parceria entre UFG e comunidades continua
A dissertação apresentada por Mariana Cordeiro é, conforme ela explica, um recorte de um trabalho maior que vem sendo realizado pela Fanut desde 2010, por meio do Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar (Cecane) da UFG/Centro-Oeste. Dentro do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), foi desenvolvido pelo Cecane um projeto de pesquisa, do qual Mariana Cordeiro participou, para avaliar os aspectos relacionados à alimentação, saúde e qualidade de vida escolar dos quilombolas.
Mariana Cordeiro e professora Estelamaris Monego no Prêmio Nacional Henri Nestlé
A pesquisa foi realizada com a participação de líderes de 13 comunidades quilombolas do Estado. “Os quilombolas têm receio, porque já foram muito explorados por pesquisadores e não tiveram retorno. Por isso, tivemos o cuidado de desenvolver esse trabalho junto à comunidade”, explicou. Segundo a estudantes, foram realizadas reuniões com essas lideranças, que participaram da pauta da pesquisa, opinando e sugerindo alterações de acordo com as necessidades específicas de cada grupo. Dessa forma, as pesquisadoras conseguiram criar vínculos com a comunidade, viabilizando o estudo.
O trabalho envolveu entrevistas com os conselheiros e administradores da alimentação escolar, nutricionistas, educadores, estudantes, professores, diretores de escolas, manipuladores de alimentos e pais. Mariana Cordeiro conta que essas comunidades enfrentam diversas dificuldades quando o assunto é alimentação escolar. Entre elas, desinformação, problemas de logística e armazenamento de alimentos e número de nutricionistas insuficientes. “Muitos gestores não sabiam que tinham alunos quilombolas e outros não recebiam a verba destinada especificamente aos quilombolas porque as escolas não estavam cadastradas no censo escolar”, exemplificou.
Com base nos dados colhidos, as pesquisadoras apresentaram às comunidades propostas de intervenção, respeitando os hábitos alimentares locais, a diversificação agrícola, com foco na alimentação saudável. “Sugerimos mudanças nos cardápios, incentivando a produção agrícola familiar”, detalhou Mariana Cordeiro. Uma das principais contribuições do trabalho foi estreitar o caminho da comercialização dos alimentos da agricultura familiar para a alimentação escolar dos municípios. “As mudanças dependem de uma série de fatores e do envolvimento de diversos setores, mas a parceria do Cecane com essas comunidades continua e juntos eles estão superando as dificuldades”, concluiu a mestra.
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Categorias: desnutrição sobrepeso quilombolas Faculdade de Nutrição
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