ENTREVISTA: Regina Pekelmann Markus "Profissionalismo da mulher na ciência e na inovação"
Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás
ANO IX – Nº 71 – Abril – 2015
ENTREVISTA: Regina Pekelmann Markus "Profissionalismo da mulher na ciência e na inovação"
Texto: Michele Martins | Foto: Laís Brito
Em 2015, as atividades do primeiro semestre da UFG foram abertas com a aula magna da professora Regina Pekelmann Markus, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP). A aula ocorreu em seis de março e foi acompanhada por professores e estudantes da graduação e pós-graduação. Ela apresentou dados sobre a Estratégia para Pesquisa e Inovação no País e apontou importantes conquistas, problemas e desafios. Regina Markus destacou pontos importantes para a consolidação das pesquisas dentro das universidades, considerando impactos econômicos, sociais e intelectuais, além de outros fatores que são relevantes para o incentivo da produção científica na graduação e na pós-graduação, como a liberdade acadêmica. Em entrevista ao Jornal UFG a professora também abordou o tema. Confira:
“Eu não sou melhor nem pior por ser mulher. Ser mulher é uma situação que independe de eu ser uma profissional.”
Como tem conciliando as atividades acadêmicas e de pesquisa?
Na USP, eu tenho um grupo de pesquisa que é um grupo de crono farmacologia, então eu também atuo na International Union of Pharmacology (IUPHA), aonde eu sou presidente de um dos comitês. Eu gosto de duas coisas: do laboratório e dos alunos. Eu não deixo de dar aula. Hoje eu dou aula na graduação para alunos de licenciatura da Biologia. Eu montei o curso super legal, que é o curso de fisiologia do Ensino Médio que é para entender o corpo humano independente de laboratório.
A senhora tem ministrado palestras sobre inovação. Como podemos entender esse conceito?
Na minha opinião, a inovação é uma consequência. Se observarmos os locais onde há mais inovação no mundo, veremos que o que eles mais preservam é a ciência básica. Precisamos da base para inovar e o Brasil não pode perder isso. Transferir isso para o público e alcançar um produto final, chamamos isso de inovação. Levamos muitos anos para poder conseguir um pouquinho de inovação. Existe inovação em humanidades? Bom, eu não sou das humanidades, nem da inovação. Eu sou do ensino e da pesquisa, mas estudei bastante para poder estar aqui, hoje, fazendo uma palestra sobre inovação. Eu acredito que as artes são o que há de mais inovador no mundo. Os artistas inovam antes que qualquer cientista. É esse conceito que precisamos ter. Inovamos a cada dia ao construirmos novidades em cima do nosso passado. Então é isso que o Brasil precisa... o Brasil precisa se orgulhar do passado. Eu não tenho dúvida nenhuma que os países que se orgulham do seu passado são realmente inovadores.
Como podemos analisar o cenário da pesquisa científica no Brasil atualmente?
Em outubro de 2014, antes das eleições a realidade me parecia muito menos problemática. Mas tem muita gente trabalhando para conseguir novas oportunidades. As universidades federais acabaram de passar por um momento de expansão. Houve contratação de gente muito boa e isso é a coisa mais importante. Outro dia fui a uma defesa de tese de um dos grupos de pesquisa mais produtivos do Brasil. Quando cheguei no laboratório, vi que era de chão batido... Eu fiquei um pouco constrangida e me perguntei: Como esses caras produzem o que produzem e publicam em revistas de altíssima qualidade? Participei primeiro de um seminário e, depois, fiquei respondendo a perguntas por mais de quarenta minutos. Mesmo depois da defesa da tese alguém falou “dá pra senhora vir aqui me ajudar?” eu disse “claro que dá”. Havia muito interesse daquelas pessoas.
“... o Brasil precisa se orgulhar do passado. Eu não tenho dúvida nenhuma que os países que se orgulham do seu passado são realmente inovadores”
Alguns estudos revelam que a participação da mulher no ensino e na educação costuma ser maior que a dos homens, mas em relação à liderança de grandes grupos de pesquisas, essa participação feminina deixa de ser tão grande. A senhora acha que o sistema acadêmico deveria mudar de alguma forma?
De forma alguma. Eu casei com 20 anos de idade, tive filho com 21 e trabalhei a vida inteira. Mas o processo é diferente para os dois lados. É questão de ter mais oportunidade? Na minha opinião todo mundo que ganhou oportunidade e não foi atrás nunca fez um bom serviço. Eu não sou melhor nem pior por ser mulher. Ser mulher é uma situação que independe de eu ser uma profissional. E se não houver mulheres para o mercado de trabalho e não souber equacionar a vida como mãe, então teremos problemas pela frente. Temos de dar para as mulheres possibilidades de poder chegar adiante. A mulher pode ser qualquer coisa dentro de suas capacidades físicas. Temos que nos respeitar. Eu acho que nossos jovens precisam aprender a respeitar as diferenças e gostar de ser diferente.
Para ler o arquivo completo em PDF clique aqui
*Coordenadora de Imprensa da Ascom
Nesta Edição