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Universidade Federal de Goiás

De volta à Era do Gelo

Em 13/04/15 11:24. Atualizada em 23/04/15 15:17.

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Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás 
ANO IX – Nº 71 – Abril – 2015

De volta à Era do Gelo

Texto: Serena Veloso  | Foto: Divulgação, Romam Uchytel, Carl D. Buell, dinopedia.wikia.com/wiki/soldicurus, Sandro de la Rosa

 

Há 50 mil anos, no período Quaternário Tardio, o planeta passou por diversas transformações que resultaram na extinção de espécies de grande porte, a chamada megafauna, em todos os continentes. As mudanças climáticas drásticas provocadas pela última glaciação, intercalada a períodos mais quentes e, por uma nova dispersão do homem do continente africano para diversos territórios, teriam sido algumas das causas do impacto sobre as espécies. O pesquisador Matheus Ribeiro, professor do curso de Ciências Biológicas da Regional Jataí da UFG, propôs-se a investigar o papel relativo do homem e das mudanças climáticas na extinção da megafauna da América do Sul.

 

A pesquisa resultou em uma tese desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, orientada pelo professor e pró-reitor de Pós-Graduação, José Alexandre Felizola Diniz Filho. A condução teórica e metodológica do estudo se deu em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), da University of Copenhagen, na Dinamarca, da Charles University, na República Tcheca, e do Museo Nacional de Ciencias Naturales, na Espanha. As áreas da Ecologia e da Paleoecologia foram integradas, tendência recente nos estudos internacionais que, segundo o pesquisador, tem conferido importantes avanços teóricos.


Apesar dos debates científicos sobre o assunto, focarem na América do Norte, Europa e Austrália, Matheus Ribeiro destacou que o maior número de espécies extintas em todo o planeta, no período Quaternário Tardio, concentrou-se na América do Sul, o que o motivou a estudar o continente. “Durante esse período, estima-se que mais de 100 espécies de animais de grande porte foram extintas em todos os continentes, desaparecendo cerca de 80% da megafauna sul-americana”, explicou o pesquisador.


Clima e humanos x megafauna

Para investigar os impactos climáticos e antrópicos no processo de extinção, Matheus Ribeiro modelou o nicho ecológico das espécies, ou seja, o conjunto de condições ambientais nas quais uma espécie é capaz de se manter viável. Em seguida, ele estimou a área do habitat dessas espécies e simulou, por meio de um software livre, os impactos da interação com os humanos (predadores) no processo de crescimento das populações extintas (presas). Depois disso, foram quantificados os efeitos relativos das mudanças climáticas e do homem sobre cada uma das espécies extintas na América do Sul.


A lista de animais pesquisada envolve todos os mamíferos de grande porte – com peso maior que 44 quilos, extintos no período – para os quais existem registros fósseis, o que compreende um total de 29 espécies. Estão incluídos animais como preguiças e tatus gigantes, mamutes, tigres-dente-de-sabre, proboscídeo (semelhantes aos elefantes), cavalos, toxodontes (semelhantes aos hipopótamos) e ursos.


A análise, inclui ainda, parâmetros básicos sobre as populações das presas e do predador, como tamanho populacional, taxa de crescimento e consumo do predador, utilizados em equações que interagem o crescimento de ambas as populações: humana e animal.

 

Extinção da megafauna no Pleistoceno
Extinção da megafauna no Pleistoceno

O mapa exemplifica, de maneira representativa, a relação entre efeito climático e a redução na área de distribuição das espécies da megafauna entre o Último Máximo Glacial, há 21 mil anos (área sombreada maior) e a transição da época do Pleistoceno para o Holoceno, há 11 mil anos (área sombreada menor), período que a maior parte da megafauna foi extinta.


Impactos sobre a sobrevivência das espécies

Evidências científicas apontam que a espécie humana teria surgido no Pleistoceno, uma das épocas do período Quaternário, convivendo com outros hominídeos que desapareceram na mesma época. “Uma vez que os humanos pré-históricos são considerados exímios caçadores da megafauna, o efeito antrópico foi quantificado a partir do tempo necessário de interação entre predador e presa para que cada espécie da megafauna fosse extinta”, comentou Matheus Ribeiro.


Em relação ao clima, foi observada a redução da área do habitat dessas espécies no período entre a última glaciação, há 21 mil anos, e a transição do Pleistoceno para o Holoceno, há 11 mil anos, quando teve início o período interglacial, com o aquecimento da Terra e recuo das geleiras.


A partir dos dados levantados, o pesquisador concluiu que as extinções ocorreram nos locais onde o clima era mais adequado para a sobrevivência das espécies, pouco tempo após os humanos chegarem à América do Sul e caçá-las. No entanto, a influência dos efeitos climáticos nos riscos de extinção foi menor se comparada aos resultados da interação humana. A ação do homem em populações reduzidas, devido às questões climáticas, tornou menos propensa à sobrevivência da megafauna na América do Sul.

 

Tigre-dente-de-sabre: Smilodon populator
Tigre-dente-de-sabre:

Smilodon populator foi a única espécie de tigre-dente-de-sabre a sobreviver na América do Sul até o final do Pleistoceno, sendo considerado um dos maiores felinos que já existiu. A espécie era conhecida por seus longos caninos e chegava a pesar cerca de 300 quilogramas. Predava outros grandes animais como tatus, preguiças-gigantes e proboscídeos. O mamífero era encontrado em todo o continente sul-americano, da Patagônia à Amazônia, dos Andes à Mata Atlântica.

 

Preguiça-gigante
Preguiça-gigante:

Existiram várias espécies de preguiças-gigantes na América do Sul. Eremotherium e Megatherium foram dois gêneros comuns e são bem representados no registro fóssil. Eremotherium vivia ao norte da América do Sul, na região tropical e pesava cerca de três toneladas. Já Megatherium era maior, chegava a pesar quatro toneladas e se distribuía ao sul do continente, da Patagônia até Bolívia, Perú e região centro-sul do Brasil. Atualmente, outras espécies de preguiças ainda habitam a América do Sul, mas não possuem o tamanho corporal das extintas.

 

Tatus-Gigantes
Tatus-Gigantes:

Os tatus-gigantes também foram um grupo de mamíferos bastante diverso. O maior e mais comum deles pertenceu ao gênero Doedicurus, que tinha como características a carapaça dura para defesa de seus predadores e uma bola de espinhos na ponta do rabo. Chegava a medir quatro metros de comprimento e pesava mais de uma tonelada. Habitavam toda a América do Sul e tinham preferência tanto por ambientes fechados (florestas) como abertos (Cerrado e Pampa).

 

Proboscídeos
Proboscídeos:

Os proboscídeos foram animais semelhantes aos elefantes modernos, reconhecidos por possuírem apêndice nasal em forma de tromba. Cuvieronius e Notiomastodon são considerados, atualmente, os gêneros mais comuns que habitaram o continente sul-americano no Pleistoceno. Cuvieronius pesava cerca de quatro toneladas e tinha preferência por ambientes mais frios, como as cordilheiras. Mas o maior animal já existente na América do Sul foi Notiomastodon. Habitante de biomas mais quentes (Amazônia, Cerrado), a espécie pesava cerca de seis toneladas.


Tese é premiada pela Capes

Concluído em 2013, o trabalho de Matheus Ribeiro ganhou reconhecimento na comunidade científica com a conquista do Prêmio Capes de Teses 2014, na área de Biodiversidade. A premiação é concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) às melhores teses de doutorado dos cursos de pós-graduação que integram o Sistema Nacional de Pós-Graduação. Para os vencedores são concedidas bolsas de pós-doutorado por até três anos para desenvolvimento de pesquisa científica em instituições de renome.

 

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