Editorial: O povo na rua
Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás
ANO VII – Nº 60 – JULHO – 2013
O povo na rua
Texto: Anselmo Pessoa Neto| Foto: Carlos Siqueira
Anselmo Pessoa Neto*
As manifestações de junho no Brasil foram amplamente interpretadas e, mesmo assim, continuam a clamar por interpretações. Nós, leitores e intérpretes, temos que nos resguardar de pelo menos duas coisas: de uma certa subjetividade de qualquer interpretação e, por outro lado, da subestimação da força das ruas ou da alegação da “falsa consciência” das ruas. Dito isto, caberia de forma rápida apontar o que de evidente e incontestável podemos colher daquelas manifestações, que seriam: a) uma grande e clara insatisfação com os rumos da e com a política; b) uma percepção coletiva de que a economia atravessa um período de turbulência; c) o atraso e a vergonha que são, assim de forma genérica, os serviços públicos no Brasil.
As explicações quanto à forma como esses sentimentos coletivos se amalgamaram são várias. E todas são válidas, ressalvando isto ou aquilo, ao sabor do freguês. Mas o que atiça a minha vontade de entendimento são as não evidências. Por exemplo, não ficou evidente que o Brasil carece de rumo, da necessidade insofismável de um projeto. As manifestações não foram capazes de evidenciar essa falta. Mas eu quero ler assim: o povo na rua, por vias tortas, clama por um projeto para o Brasil. Mas não desses projetos que se apresentam nas eleições, feitos por marqueteiros, os quais são, em última análise, tradutores e formuladores de discursos do senso comum.
Somente uma classe política, que não fosse aquela acovardada e embebida de demagogia – em suma, aquela classe política corrupta porque demagoga, que viceja e cresce no Brasil dos holofotes midiáticos – seria capaz de elaborar e implementar. A revalorização da política será obra da própria política, se ela se colocar levantada do chão, maior e acima do eleitor que quer ser comprado.
A revalorização da política e, por conseguinte, a discussão dos rumos do Brasil em sentido estratégico passa pela superação da síndrome do eleitor e do eleito e pela afirmação do cidadão e da representação cidadã. O caminho é fácil? Não. E é por isso que a representação cidadã é a cada dia mais ocupada por arautos da (falsa) moralidade, que vão para a vida pública nus, mas travestidos de gente de bem e com discurso ensaiado com marqueteiro.
Quando a discussão de um projeto para o Brasil for retomada, perceberemos que ela é ainda mais difícil e complexa do que imaginamos. Mas os cidadãos conscientes (que não encontram nenhum gozo em se anunciarem como honestos) terão tomado a frente dessa construção. E os temas da política, da economia, da mobilidade, da sustentabilidade e da moralidade voltarão em um novo patamar e com outros objetivos. A luta continua.
*Pró-Reitor de Extensão e Cultura
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