Seminário discute desafios a serem superados na inclusão dos estudantes
Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás
ANO VII – Nº 62 – SETEMBRO – 2013
Seminário discute desafios a serem superados na inclusão dos estudantes
Participantes do evento alertam necessidade de acompanhamento pedagógico para estudantes com dificuldades e de mais recursos para assistência estudantil que garantam sua permanência
Texto: Kharen Stecca | Foto: Carlos Siqueira
Desde 2009, com a implementação do Programa UFG Inclui, que foi precedido por uma ampla discussão da comunidade universitária, a universidade recebe um grande número de estudantes com perfis diferentes do que recebia desde sua criação. O ensino superior público, que sempre foi elitista, com raras exceções, passou a receber alunos de escolas públicas, negros, indígenas e quilombolas, pessoas que sem as ações afirmativas de inclusão na universidade, não teriam acesso ao ensino superior, em especial em cursos de grande demanda.
Cinco anos se passaram desde que o processo se iniciou na UFG. Já é possível encontrar estudantes que foram selecionados pelo programa no mercado de trabalho. Para discutir os números e as experiências de cada unidade com esses alunos, a Pró-reitoria de Graduação (Prograd) realizou nos dias 25 e 26 de setembro o Seminário UFG Inclui 2013, convidando ao debate professores, técnico-administrativos e estudantes para discutir os resultados dos primeiros quatro anos do programa, que já tem dados finalizados. O tema do seminário foi Ações Afirmativas: inclusão e permanência. A intenção foi discutir o que é preciso para que o aluno selecionado pelas cotas tenha condições de se manter no curso e permanecer na universidade.
A palestra de abertura foi realizada pelo coordenador do Núcleo de Apoio Pedagógico, da Pró-reitoria de Graduação da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Adilson Pereira dos Santos. O professor coordena as Ações Afirmativas naquela universidade e fez um panorama do desenvolvimento dessas ações no país, mostrando as experiências de universidades pioneiras dessas ações, como a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade de Brasília (UnB).
No primeiro dia do evento, foi feita a análise dos dados gerais do Processo Seletivo e também do Programa de Assistência Estudantil. A presidente do Centro de Seleção da UFG, Luciana Freire, mostrou amostras de dados de cursos de alta e baixa concorrência no vestibular. Sobre as notas dos estudantes no Processo Seletivo, o que se percebe é que há pouca diferença entre as notas dos cotistas e dos optantes do sistema universal. Essa diferenciação só é maior nos cursos de alta demanda, como Medicina. Nestes cursos, segundo ela, é evidente a necessidade das cotas para garantir o acesso de estudantes de escolas públicas, negros, quilombolas e indígenas.
Outro curso que tem, no Programa UFG Inclui, a definição do perfil de seus alunos é o de Letras: Libras, que reserva 15 vagas para surdos no curso. A adesão é maciça de estudantes surdos e a evasão entre os cotistas é muito baixa. No entanto, sem a reserva de vagas, os números de estudantes com a deficiência não seriam os mesmos, segundo o coordenador do curso Hildomar José de Lima.
O professor Dijaci Oliveira coordenou a mesa que teve a participação de Carlianne Gonçalves, que pesquisou o programa, e do pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária, Júlio Prates, que mostrou a evolução dos recursos em assistência estudantil
Pesquisa mostra perfil dos estudantes cotistas
A professora da Faculdade de Educação da UFG, Gina Glaydes Guimarães de Faria, apresentou o trabalho realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicologia, Educação e Cultura (NEPPEC). Segundo ela, os estudos indicam um bom desempenho dos estudantes, mas uma preocupação com sua permanência na universidade. São estudantes egressos de camadas populares, cujos pais não fizeram faculdade, e que precisam de auxílio financeiro para se manter em seus cursos, além de depender de serviços como restaurante universitário, bolsa alimentação e biblioteca. Apesar das dificuldades, a professora acrescenta que eles são mais dedicados e procuram mais os professores para atendimento extraclasse. Uma das constatações do estudo, que apareceram também nos pôsteres dos cursos, é que a dificuldade tende a ser superada ao longo dos semestres. Para complementar as discussões da tarde, o estudante Leonilson Roch a dos Santos, da Faculdade de Direito, deu seu depoimento em relação ao programa. Ele, que ingressou na universidade como cotista em 2009 e foi um dos participantes da pesquisa do NEPPEC, acredita que o acolhimento desses estudantes precisa ser repensado, porque dependendo da forma como é feito, pode tornar mais difícil a inserção do aluno cotista na universidade.
A assistência estudantil é essencial para a permanência dos estudantes de baixa renda na universidade
Demandas não atendidas por assistência estudantil ainda é grande
O pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária (Procom), Júlio Prates, fez uma análise da assistência estudantil na UFG. Ele explicou que há uma imensa demanda não atendida das ações estudantis. "A bolsa permanência só consegue atingir estudantes que têm renda menor que R$ 234 per capita. Há um universo para ser atendido acima dessa renda até 1,5 salário mínimo per capita". Por outro lado, a Procom consegue atender a praticamente todos os solicitantes da bolsa alimentação que comprovam a necessidade do auxílio. Hoje, a UFG tem 4.107 alunos na Bolsa Permanência, 274 bolsas moradia no interior e 314 vagas nas Casas do Estudante Universitário em Goiânia e 847 bolsas permanência, divididas entre os câmpus do interior e Goiânia.
Segundo Júlio Prates, hoje os recursos do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) para todo o país são de cerca de R$ 500 milhões. Para atender toda a demanda seria necessário triplicar esses recursos. Mesmo assim, a evolução na área foi enorme. Em 2008, quando os recursos do PNAES começaram a chegar às universidades, a UFG recebeu quatro milhões de reais para assistência estudantil. Em 2013, o valor chegou a quase R$ 14 milhões.
A partir de 2008, houve um crescimento maior dos recursos com a implementação do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES)
Estudantes de escola pública ainda têm pouco acesso
Na mesma mesa que discutiu a assistência estudantil, participou a estudante egressa da Faculdade de Letras da UFG, Carlianne Paiva Gonçalves. A estudante, que realizou pesquisa sobre o UFG Inclui em seu mestrado, apontou que há alguns questionamentos sobre o acesso que precisam ser vistos pela universidade. Para ela "a informação chega aos estudantes do ensino médio, mas é preciso entender o porquê de alguns optarem por não ingressar por cotas". Quanto à questão da permanência, ela destacou que a universidade precisa ir além dos dados duros e investigar qualitativamente os estudantes ingressantes pela reserva de vagas.
Sobre o acesso à UFG, a pró-reitora de Graduação, Sandramara Matias Chaves, ressaltou que em 2012, 59 mil estudantes concluíram o ensino médio. Desses, cerca de 30 mil se inscreveram na UFG, 10 mil de escola pública e o restante de escolas privadas. Há uma imensa quantidade de pessoas que não se inscrevem para o Processo Seletivo da UFG, ou por desconhecimento ou por acreditarem que não têm capacidade de ingressar na universidade. Apesar da democratização do acesso com as ações afirmativas, ainda é preciso repensar as ações de divulgação não só do Processo Seletivo, mas do sistema de reserva de vagas, tentando assim ampliar o acesso dos estudantes a universidade.
Diversos cursos apresentaram a análise dos dados enviados pela Pró-reitoria de Graduação referente ao desempenho dos estudantes do Programa UFG Inclui. O destaque ficou com os cursos do interior, com grande participação no seminário e na sessão de pôsteres
Cursos analisaram dados, como notas, evasão e frequência, dos estudantes
Para a discussão, todos os cursos receberam os dados da Prograd sobre o desempenho dos estudantes nos Processos Seletivos e também nas disciplinas do curso. Cada coordenação realizou estudos desses dados que foram apresentados em pôsteres e apresentações orais realizadas no segundo dia do evento. Foram apresentados 62 pôsteres, com ampla participação dos câmpus do interior.
O que ficou claro nos dados é que os estudantes de escola pública têm desempenho praticamente igual ao dos estudantes do sistema universal, mas quando é feita a estratificação dos estudantes negros de escola pública, há uma diferenciação um pouco maior das notas. O número de reprovações em disciplinas é maior entre os alunos cotistas em muitos cursos, como é o caso do curso de Nutrição. Por outro lado, a evasão entre cotistas é menor. Diversos participantes das plenárias levantaram a necessidade de pensar em uma melhor recepção desses estudantes na UFG, de um acompanhamento com monitores e tutores para superar falhas de sua formação básica e, além disso, de estruturar melhor os cursos para que possam fazer o acompanhamento desses estudantes que devem aumentar nos próximos anos na UFG.
Outro dado importante, levantado pela professora Eliana Moraes, do Câmpus Jataí, é que na análise dos dados daquele câmpus, estudantes que se envolvem em projetos como Programa de Bolsas de Licenciatura (Prolicen) ou bolsas do Centro de Línguas se saem melhor no curso. Outra necessidade levantada por ela e outros participantes é a divulgação dos programas de bolsa, já que os alunos nem sempre conhecem os programas existentes na UFG, sejam programas de bolsas de pesquisa ou de assistência estudantil.
Após a discussão dos dados na plenária, foi ressaltado a importância deste tipo de evento para despertar na comunidade universitária a necessidade de se preocupar com a questão pedagógica; e isso vale tanto para alunos ingressantes por reserva de vagas quanto pelo sistema universal. Em alguns cursos como os de Engenharia em geral, o problema com conteúdos básicos se mostra evidente nos dois grupos de alunos. No entanto, não existem análises mais profundas desse fenômeno, que mostrem os motivos desses resultados.
Um outro ponto fortemente levantado foi a definição da universidade quanto a assumir o nivelamento dos alunos com dificuldades. Essa necessidade foi levantada por diversos professores, mas segundo o professor Osni Silva, do Instituto de Física e participante da comissão de acompanhamento do UFG Inclui, esse é um problema que não tem uma solução fácil, já que a UFG já tentou algumas vezes fazer esse nivelamento e o resultado não foi como o esperado. Segundo ele, os cursos de Física e de Nutrição, por exemplo, já tentaram fazer esse reforço e não tiveram adesão dos estudantes. A experiência levantada pelo professor Osni Silva, torna ainda mais importante a necessidade de conhecer qualitativamente as necessidades desses estudantes. A pró-reitora de Graduação, Sandramara Matias Chaves, demonstrou seu apoio e incentivo para que professores e estudantes façam essas análises dentro da UFG, trazendo luz aos questionamentos levantados pelo seminário.
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