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Universidade Federal de Goiás

Escolas de portas abertas para a diferença

Em 18/11/14 09:35. Atualizada em 26/11/14 08:59.

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Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás 
ANO VII – Nº 69 – Novembro/Dezembro– 2014

Escolas de portas abertas para a diferença

Estudante do Programa de Pós-Graduação em Sociologia mostra a percepção de pessoas com deficiência intelectual sobre si, como estudantes de escolas municipais regulares em Goiânia

Texto: Serena Veloso 

Um dos grandes desafios do sistema educacional brasileiro é a preparação de professores e escolas para receberem alunos com deficiência intelectual. A mobilização, nos últimos anos, sobre a necessidade da promoção de uma educação inclusiva incentivou a abertura dos espaços escolares para pessoas com deficiência. Porém, suscitou também uma série de indagações sobre a permanência e a verdadeira inclusão desses estudantes na rede de ensino convencional. Contudo, qual é a visão desses alunos sobre o assunto? Como eles se percebem no ambiente escolar?

A professora e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFG, Reclane Ataíde, procurou analisar as consequências da sociabilidade de pessoas com deficiência intelectual em instituições regulares de ensino e a imagem que elas constroem de si como estudantes, a partir de um estudo realizado em 11 escolas municipais de Goiânia. A pesquisa intitulada Auto-representação de estudantes com deficiência intelectual: a imagem de si na escola pública regular em Goiânia foi premiada em primeiro lugar, na área de Ciências Humanas, no Prêmio SBPC/GO de Popularização da Ciência 2014. O trabalho foi orientado pelo professor Francisco Rabelo e defendido em fevereiro deste ano.

A professora entrevistou 20 alunos com deficiência intelectual, com idades entre 13 e 22 anos, matriculados nos três últimos anos do ensino fundamental, e também seus familiares. Na entrevista, foram abordados assuntos diversos referentes à escola, tais como: a opinião sobre o ambiente escolar, o papel do estudante, o relacionamento com os colegas, professores e funcionários e a percepção desse estudante diante de seus potenciais e suas dificuldades.

Para Raclene Ataíde, a noção de deficiência intelectual é instituída por consenso da sociedade. No entanto, apesar das características que são atribuídas a essas pessoas, algumas delas não se enxergam como tal. A professora acredita que a imagem que se constrói sobre esses sujeitos muitas vezes não condiz com a realidade, por exemplo, quando associados a comportamentos passivos, infantis e até mesmo assexuados. “Tive condição de perceber de modo mais realista como essas pessoas são de fato. Assim como as outras, há aqueles mais extrovertidos, muito tímidos, extremamente alegres e outros mais sérios”, apontou.

Desafios da inclusão – A falta de uma política no País para formação de professores que contemple as diferenças, a estrutura inadequada das escolas e a resistência dos outros alunos e familiares na aceitação da convivência com o deficiente intelectual são algumas das barreiras encontradas na promoção de uma educação que respeite essas diferenças. Para Raclene Ataíde, esses aspectos compõem os argumentos daqueles que são contrários à inclusão e que acreditam que a educação para o deficiente deve ser diferenciada, com escolas específicas voltadas para esse público.

No entanto, um dos pontos percebidos na pesquisa foi o interesse dos alunos com deficiência em permanecer na escola regular. Por meio de suas falas, a professora observou a motivação deles em estabelecer uma convivência com os demais colegas, além da confiança que mantinham nos professores e amigos. “Eles têm consciência de sua condição, de que há algumas limitações, mas, ao mesmo tempo, consciência de que estão desenvolvendo outras habilidades, como as de convivência social”, destacou Reclane Ataíde.

Inserção e qualificação – Apesar dos desafios que envolvem a inclusão do aluno com deficiência intelectual nas escolas, Raclene Ataíde acredita que o processo de qualificação dos professores e profissionais das instituições de ensino deve acontecer paralelamente à inserção desses estudantes nas escolas. “A própria convivência propicia o movimento de conhecimento, de qualificação. Mas isso de modo algum pode ser entendido como algo que desresponsabilize os sistemas de ensino, as universidades e as organizações classistas de promover processos de debate e de formação”, comentou.

Mesmo que o nível de aprendizado nem sempre se equipare em relação aos demais estudantes, para a professora e para a família desses jovens, a maior preocupação é que eles possam aprender aos poucos os conhecimentos sistematizados.

Vencendo os preconceitos – A pesquisadora também verificou questões como o enfrentamento de situações de isolamento e preconceito. Raclene Ataíde observou que alguns alunos com deficiência nem sempre participavam ativamente em momentos de recreação e de sociabilidade com os colegas. Ainda assim, muitos deles não relacionavam os conflitos que tinham com outros alunos à questão da deficiência. “Mesmo relatando essas situações de isolamento, eles não se colocavam como coitados, vítimas ou menosprezados. Pelo contrário: eles se valorizavam como estudantes”, afirmou.

A professora dará continuidade à pesquisa no doutorado, abrangendo os aspectos da vida cotidiana de pessoas com deficiência intelectual fora das escolas.

Categorias: Educacão pós-graduação sociologia deficiência intelectual inclusão

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