De volta ao território Kalunga
Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás
ANO VII – Nº 69 – Novembro/Dezembro– 2014
De volta ao território Kalunga
Terceira edição do projeto de extensão Kalunga Cidadão da UFG leva serviços a comunidades quilombolas, localizadas no município de Cavalcante, em Goiás
Texto: Camila Godoy | Fotos: Carlos Siqueira
Mais uma vez a Universidade Federal de Goiás (UFG) rompeu os limites de seus muros e promoveu a terceira edição do Projeto Kalunga Cidadão, realizado no dia 27 de setembro. A ação mobilizou, aproximadamente, 140 pessoas entre estudantes, servidores docentes e técnico-administrativos da UFG, para a zona rural da cidade goiana Cavalcante. O Kalunga Cidadão, coordenado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI), aconteceu na comunidade Engenho II e desenvolveu ações comunitárias, oferecendo serviços gratuitos a cerca de 350 quilombolas Kalunga que vivem na região.
Milhares de quilombolas vivem na Comunidade Engenho II, zona rural do município de Cavalcante (GO)
A terceira edição do projeto foi o momento em que diversas unidades acadêmicas, que já atuam nas comunidades Kalunga em projetos de extensão e pesquisa, em parceria com a Prefeitura de Cavalcante, o Grupo Flor de Pequi e o Exército Brasileiro, uniram -se para promover atendimentos à saúde humana, palestras e oficinas sobre o Programa UFGInclui, educação ambiental, turismo, poesia e ciência. Também foram realizadas apresentações culturais, como teatro e brincadeiras de roda. Praticamente todas as atividades realizadas foram reivindicadas pelos moradores da região.
Além dessas ações, membros da Escola de Agronomia (EA) construíram uma horta na comunidade, da Faculdade de Direito (FD) fizeram atendimentos jurídicos e da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) promoveram vacinação, vermifugação, exames de sangue, ultrassom e cirurgias em animais domésticos.
Terceiro Kalunga Cidadão promoveu brincadeiras de roda, construção de hortas e atendimentos de saúde a animais domésticos de comunidades quilombolas
A estudante do 6º período do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFG, Lamara Barcelos, participou da oficina sobre Educação Ambiental, que ensinava as crianças das comunidades sobre a importância e os cuidados necessários com a água e proteção das matas, além da maneira correta de descartar o lixo e as possibilidades de reciclagem. A atividade faz parte de um projeto desenvolvido por estudantes da empresa júnior da UFG, Elo Engenharia, que visa encontrar técnicas para abastecer tal população com água, visto que a maioria das comunidades Kalunga fica localizada acima do nível dos rios e, sem energia elétrica, não consegue bombear a água até as casas.
COMO TUDO COMEÇOU...
Maria Clorinda Soares Fioravanti, pró-reitora de Pesquisa e Inovação da UFG e professora da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ), há anos se dedica ao estudo do gado Curraleiro, raça de bovino que foi trazida pelos portugueses, mas que se adaptou ao cerrado brasileiro. Ela conta que, assim como a maioria dos sertanejos, os Kalunga criavam esses bovinos, que foram praticamente dizimados, devido à preferência a outros tipos de raça, como a Nelore.
O trabalho de Maria Clorinda Soares é considerado de referência nessa área, por isso, quando o Ministério da Integração Nacional (MI) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) criaram um projeto para reintroduzir o gado Curraleiro na região quilombola, o nome da professora foi lembrado e ela foi convidada a dirigi-lo. “Desde então, os Kalunga começaram a ter uma relação muito forte com a UFG e a achar que podíamos resolver vários outros problemas. E eu não consegui ficar indiferente”, explicou.
A partir desse projeto, diversos outros foram propostos e desenvolvidos por pesquisadores da UFG, que se reuniram, em 2010, e decidiram fazer o primeiro Kalunga Cidadão. A primeira edição incluiu membros da Escola de Agronomia (EA), da EVZ, da Faculdade de Direito (FD), da Faculdade de Medicina (FM), da Faculdade de Nutrição (Fanut), da Faculdade de Odontologia (FO) e do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa).
Maria Clorinda Soares explica que os interessados em participar das próximas edições da ação precisam entrar em contato com a coordenação do programa, que terá a professora Maria Cristina Vidotte, da FD, à frente. Edições para 2015 e 2016 já estão confirmadas e previstas para acontecer nos municípios goianos de Monte Alegre e Teresina de Goiás.
QUEM SÃO OS KALUNGA?
Cerca de sete mil pessoas, remanescentes de quilombos, estão distribuídas em mais de 30 comunidades nas zonas rurais dos municípios goianos de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás. A região, de 253 mil hectares, é chamada de Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, e remonta a 1722, época em que os bandeirantes traziam negros escravizados para trabalharem nas minas de ouro. Parte desses escravos, buscando a liberdade, rebelou-se, fugiu e se escondeu entre serras e vãos, locais de difícil acesso, ainda nos dias de hoje, onde organizaram os famosos quilombos. Atualmente, o termo Kalunga designa um povo e toda uma microrregião da Chapada dos Veadeiros, no norte de Goiás.
Quase 300 anos depois da formação dos quilombos, as condições de vida no território pouco mudaram. Eles enfrentam problemas pela ausência de estradas, energia elétrica, assistência médica e escolas e lutam pela regularização de suas terras. Apesar do tamanho de seu território, apenas 30% da área é agricultável. Assim, a maior parte dos Kalunga sobrevive da agricultura familiar.
Programa coordenado por professora da UFG reintroduziu o gado Curraleiro nas comunidades Kalunga
Mesmo com as dificuldades, o sentimento entre a maioria dos moradores é de orgulho e alegria por pertencer àquela terra. A quilombola e estudante do 8º período do curso de Direito da UFG, Vercilene Francisco Dias, sonha em retornar para a região: “Meu maior incentivo para estudar sempre foi esse. Na maioria das comunidades, não há água, transporte, nem energia e eu luto para conseguir estudar e melhorar a vida deles”.
VOCÊ SABIA?
O Programa UFGInclui gera uma vaga extra em cada curso de graduação da UFG para estudante indígena e outra para quilombola, quando oriundos de escola pública. O acadêmico indígena ou quilombola que participa do UFGInclui também desfruta de uma bolsa permanência do Ministério da Educação (MEC), de 900 reais, bem como de acompanhamento acadêmico por parte da UFG.
Nesta Edição
Categorias: Comunidade Kalunga Kalunga Kalunga Cidadão Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação
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