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Universidade Federal de Goiás

Atlas propõe uso sustentável de madeiras

Em 24/02/16 10:24. Atualizada em 26/02/16 14:34.

topo Jornal UFG 76

 

 

Atlas propõe uso sustentável de madeiras

Pesquisadores mapearam a ocorrência de 364 espécies nativas em municípios de Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal, das quais 34 integraram o material 

Texto: Serena Veloso  | Fotos: Atlas Espécies do Cerrado

Pesquisadores e técnicos da UFG, USP e Rede de Sementes do Cerrado participaram do projeto

Pesquisadores e técnicos da UFG, USP e Rede de Sementes do Cerrado participaram do projeto

 

Cerrado é o bioma que possui 5% da biodiversidade de todo o planeta. Junto com a região da Amazônia, conserva espécies que podem ser utilizadas como matériaprima para produtos diversos. Dentre os recursos, a madeira é amplamente utilizada para diversos fins, como para construção civil, a produção de móveis e de carvão mineral. Entretanto, a exploração convencional da madeira disponível nestes biomas, legal ou ilegal, tem gerado grandes impactos ambientais.

Só na Amazônia, a derrubada de árvores e a transformação em madeira serrada para a construção civil produzem entre 6,5 e 24,9 toneladas de dióxido de carbono (CO²) por metro cúbico. Já no Cerrado, devido aos desmatamentos provocados principalmente pela agricultura e pela retirada de madeira para a produção de carvão, restam apenas 20% de sua cobertura vegetal original. Em ambos os casos, a extração ilegal estaria relacionada aos problemas vivenciados nos biomas.

Por isso, a exploração sustentável ainda é um desafio a ser enfrentado para reduzir os impactos nesses ambientes. Conscientes da situação dos biomas, pesquisadores e técnicos da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (USP) e da Rede de Sementes do Cerrado se reuniram em um projeto para identificar e determinar a qualidade de espécies do Cerrado e transição com a Amazônia para o manejo florestal sustentável. O resultado da iniciativa é um atlas inédito, que reúne informações sobre 34 espécies madeireiras dos dois biomas. O projeto teve início há dois anos e meio, com coordenação do Laboratório de Qualidade de Madeira e Bioenergia da UFG (LQMBio) e parceria da Embrapa Agrossilvipastoril de Sinop, no Mato Grosso, e do Jardim Botânico de Brasília.

De acordo com o coordenador do projeto e professor da Escola de Agronomia da UFG, Carlos Roberto Sette Júnior, a ideia inicial era suprir a carência de informações sobre espécies tanto do Cerrado quanto da Transição com a Amazônia com uso potencial como matéria-prima. Para o professor, o conhecimento sobre os recursos provenientes das florestas contribui para a definição do uso correto de cada espécie, segundo características que demonstram a qualidade dessas madeiras para determinadas finalidades. “Há espécies que são pouco conhecidas comercialmente e a ideia é que o projeto proponha usos madeireiros sustentáveis, por meio do manejo dos recursos florestais”, explica o coordenador.

 

O documento do Atlas está disponível para download gratuito no site do LQMBio

 

 Material extraído das espécies foi encaminhado para o LQMBio, onde foram feitas análises da qualidade da madeira

Material extraído das espécies foi encaminhado para o LQMBio, onde foram feitas análises da qualidade da madeira


Características da madeira

Entre as informações reunidas no Atlas consta, por exemplo, a descrição de características aparentes como a de alguns tecidos celulares, cor e textura, além de propriedades físicas, anatômicas e energéticas como a densidade aparente, dimensões celulares, teores de carbono e a presença de materiais voláteis e cinzas na composição. Também foram levantadas informações sobre os locais de ocorrência das espécies.

Alguns dos parâmetros utilizados para essa caracterização foram o dimensionamento da espessura, o diâmetro, a largura e o comprimento das fibras das árvores. Carlos Sette afirma que, apesar da utilização de técnicas sustentáveis para retirada de material para análise a partir de uma amostragem não destrutiva, ou seja, sem o corte das árvores, a quantidade de informações reunidas não permite definir certamente a destinação de uso de cada espécie pesquisada, mas dá um direcionamento para possíveis utilizações.

Dentre as espécies pesquisadas, o Carvoeiro, comum no Cerrado e que, devido as suas características energéticas, pode ser empregado como matéria-prima para produção de energia, como o carvão. Já a sucupira preta e a tanibuca são árvores que possuem maior afinidade para usos na construção civil. Até o pequizeiro pode ser aproveitado para esses fins. “Além de possuir um fruto que utilizamos na culinária, a madeira do pequizeiro tem características interessantes do ponto de vista do uso sólido para pisos, estruturas de telhado e na construção civil de maneira geral”, sugere Carlos Sette.
Fiscalização

O coordenador do projeto avalia que a identificação dessas espécies, além de possibilitar a construção de conhecimentos sobre usos sustentáveis da madeira desses dois biomas, também pode ser ferramenta eficaz para contribuir no trabalho de monitoramento e fiscalização das áreas onde são retiradas espécies madeireiras, sobretudo aquelas extraídas ilegalmente. Segundo Carlos Sette, poucos laboratórios no país são capacitados para fazer esse tipo de identificação, ferramenta necessária aos órgãos fiscalizadores para realizar apreensões efetivas a partir do reconhecimento de espécies cuja retirada é proibida. “Descrevemos algumas espécies e demos condições para que órgãos como o Ibama ou a Polícia Federal, ao apreender uma carga de madeira transportada nas rodovias, possam olhar para aquela madeira e chegar a uma definição de gênero e espécie”, comenta.

 

Conhecimento de espécies alternativas pode contribuir na exploração sustentável

A falta de planejamento para exploração dos recursos naturais da floresta sem que haja o manejo apropriado das áreas nativas é uma das causas dos desmatamentos nos biomas da Amazônia e do Cerrado e do desenvolvimento de uma cadeia produtiva sem a priorização da sustentabilidade. Segundo estimativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), entre 43% e 80% da produção madeireira amazônica é considerada ilegal. Além da extração ilegal, o consumo intensivo de determinadas espécies tradicionais, preteridas para a produção de materiais diversos, como é o caso do mogno, bastante procurado para fabricação de móveis, é uma das ameaças na preservação das florestas.

A mudança no perfil de exploração da madeira, com a inclusão na cadeia produtiva de espécies alternativas que possuem propriedades semelhantes às tradicionais, é apontada atualmente como uma saída para reduzir a predação de algumas espécies nativas e para tornar o uso da matéria-prima sustentável. Segundo Carlos Sette, os dados disponíveis no atlas contribuem para compreender o comportamento das espécies madeireiras e demonstram a diversidade contida nos dois biomas com potencial para serem incorporadas ao projeto de extração sustentável.

 

Para ler o arquivo completo em PDF clique aqui

 

Fonte: Ascom UFG

Categorias: LQMBio Atlas da Madeira pesquisa