Regional Goiás: Primeiro estudante transexual ingressa no curso de Filosofia
Regional Goiás: Primeiro estudante transexual ingressa no curso de Filosofia
Depois de conquistar o direito ao uso do nome social, Nicolas Dias sonha com a cirurgia de mudança de sexo
Texto: Weberson Dias | Foto: Weberson Dias
O estudante participa de grupos de apoio a pessoas trans de todo o país
Pela primeira vez a Regional Goiás vai receber um aluno transexual. O estudante, Nicolas Augusto Oliveira Dias, 22, foi aprovado para o curso de licenciatura em Filosofia na Regional Goiás e solicitou a utilização do nome social durante a matrícula. O estudante diz que o sentimento é de satisfação por escrever parte de sua história na UFG.
“Sinto-me honrado em representar não só os homens, como também as mulheres trans, que lutam todos os dias para terem direitos, respeito, inclusão e visibilidade na sociedade. Espero que eu seja o primeiro de muitos que ainda conseguirão realizar o ‘sonho’ de ingressar em uma universidade federal e ser tão bem recepcionado como fui”, assegurou o estudante, que afirma ter sido bem recebido na instituição. “A todo momento me trataram no pronome masculino e utilizando meu nome social”.
A diretora da Regional Goiás, professora e militante na área de gênero e sexualidade, Maria Meire de Carvalho, vê com bons olhos a chegada de um aluno transgênero e assegura que vai fazer um acompanhamento contínuo durante todo o percurso do estudante na Regional, inclusive com a garantia institucional do nome social. “Um pequeno número de transgêneros consegue chegar ao Ensino Superior, porque ainda nas primeiras fases dos ensinos fundamental e médio, momento em que eles estão se empoderando, nem sempre a instituição escolar consegue fazer o acompanhamento, ocorrendo a evasão”, lembrou.
Para o Coordenador de Graduação da Regional Goiás, Álison Cleiton de Araújo, a matrícula de estudantes transexuais traz para a Universidade novos saberes e vivências. “A presença deles reforça a concepção de uma universidade plural, democrática e pautada no respeito pela diversidade, além de demonstrar os avanços políticos no reconhecimento da identidade de gênero e na garantia de um direito conquistado pelos segmentos sociais que lutam e ‘sabem a dor e a delícia de ser o que é’”, declara. A chefe da Unidade Acadêmica Especial de Ciências Humanas, professora Geovanna Ramos, também vê a inclusão de estudantes trans na UFG como um importante passo. “Demonstra que a universidade está cada vez mais democratizada”, analisa.
Perfil
Nicolas Augusto sofreu preconceito e dificuldades no processo de reconhecimento, apesar do apoio familiar. “Desde criança sempre me senti diferente dos outros, pois nunca me vi como menina. Na minha cabeça eu era um garoto, sempre me portei como tal. Não sentia ser aquilo que me falavam que era, mas durante 20 anos preferi guardar isso só para mim”, lembra.
Medo e confusão fizeram parte do processo de aceitação pessoal do estudante. “Eu travava uma luta comigo mesmo por não me aceitar como era. Tinha medo do que poderia acontecer, da rejeição. Com muita luta, aos poucos fui me conhecendo, me aceitando e me entendendo. Há dois anos procurei ajuda psicológica. Hoje tenho certeza do que sou. A maior barreira para aceitação, ou, pelo menos, o respeito, é a falta de informação”, relata Nicolas, que participa de grupos de apoio a homens e mulheres trans de todo o Brasil e, desde 2015, tenta ingressar no Projeto Transexualismo (TX), do Hospital das Clínicas da UFG para tentar a sonhada cirurgia de mudança de sexo.
Nome Social
Na UFG, o uso do nome social – modo como a pessoa é reconhecida, identificada e denominada na sua comunidade – passou a ser regulamentado e garantido à transexuais e travestis por resolução do Conselho Universitário (Consuni), em maio de 2014. A decisão assegura a possibilidade de uso e de inclusão do nome social nos registros oficiais e acadêmicos a servidores, estudantes e usuários da UFG, cujos nomes de registro civil não reflitam sua identidade de gênero.
Para o coordenador de Inclusão e Permanência da UFG, professor Jean Baptista, a aprovação no Consuni por unanimidade comprova a maturidade que a discussão alcançou na Universidade. Segundo ele, a UFG tem hoje 14 estudantes que utilizam o nome social, cada uma com uma história diferenciada. “Vejo a inclusão de pessoas trans na Universidade como um passo importante para o reconhecimento e promoção da diversidade no interior da UFG e fora dela”, destacou o coordenador, acrescentando que, até 2015, a UFG já formou duas transexuais mulheres.
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