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Universidade Federal de Goiás

Por que quase ninguém quer ser professor?

Em 08/09/14 14:36. Atualizada em 24/11/14 14:13.

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Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás 
ANO VII – Nº 67 – Setembro – 2014

Por que quase ninguém quer ser professor?

Estudo da UFG revela que baixa procura por cursos de licenciatura ameaça o futuro da docência

Texto: Camila Godoy

Há algum tempo que a carreira de docência é desprestigiada por grande parte da sociedade. Esse posicionamento tem refletido no interesse e na procura pelos cursos de licenciatura da Universidade Federal de Goiás (UFG) que, preocupada com a baixa demanda, tem acompanhado os números de matrícula e o perfil dos estudantes das 57 licenciaturas oferecidas nas quatro Regionais da instituição – Catalão, Goiânia, Goiás e Jataí. O estudo, organizado pela Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), revela que o futuro da docência pode estar ameaçado.

De acordo com os dados levantados, a média de candidatos para cada uma das 2.484 vagas oferecidas oscilou de 1,24 a 6,20 nos últimos oito anos. No Processo Seletivo 2013/1, oito cursos de licenciatura não atraíram mais de um candidato por vaga e, em 2014/1, 11 deles não alcançaram essa concorrência. No Vestibular 2014/2, os números se repetiram e, dos 18 cursos de licenciatura ofertados, 11 não receberam mais de uma inscrição por vaga, todos na modalidade de Educação a Distância (EaD).

O estudo da Prograd também avaliou o grau de preparo e informação dos estudantes dos cursos de licenciatura que chegam à universidade, tendo como base as menores pontuações obtidas pelos classificados em cada etapa dos Processos Seletivos. No Vestibular 2012/1, na prova de 90 questões, cada uma valendo 1,0 ponto, a menor pontuação entre todos os concorrentes classificados nos cursos de licenciatura foi 14. Número muito inferior se comparado aos cursos mais concorridos, como Medicina, que foi 65, e Engenharia Civil, que foi 58. No Processo Seletivo 2014/2, a menor pontuação entre os classificados nos cursos de licenciatura foi cinco.

O problema com a qualificação não para por aqui. Dados da pesquisa apontam que cerca de 50% dos alunos dos cursos de licenciatura não têm o hábito de leitura contínua, lendo, no máximo, três livros por ano, 80% revelaram não ter conhecimento básico de Inglês e apenas 42% disseram ter escolhido o curso por acreditar em aptidão própria.

Ainda assim, mesmo com as vagas ociosas, no período de 2008 a 2012, foram criadas 438 novas oportunidades para cursar licenciatura na universidade. De acordo com o pró-reitor de Graduação da UFG, Luiz Mello, a instituição não pretende acabar com qualquer das graduações de licenciatura: “Pelo contrário, existe um grande esforço para diminuir a evasão nesses cursos e, com isso, garantir a formação de professores”.

 

Incentivos – Bolsas de incentivo, como Programa Bolsas de Licenciatura (Prolicen), Programa de Monitorias e Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), ligado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), tentam diminuir a evasão nos cursos de licenciatura. No entanto, mesmo com as iniciativas, a carência de profissionais só tem aumentado, principalmente em cursos como o de Física, Matemática e Química.

A estudante do 6º período do curso de Matemática, Hebony Carla Santana, conta que se interessou pela carreira docente depois de participar de uma palestra no Espaço das Profissões (evento organizado pela UFG, que promove o encontro de alunos de ensino médio com a universidade, ajudando-os a conhecer os cursos oferecidos pela instituição).

Entusiasmada com as disciplinas a serem cursadas e com as possibilidades para a carreira, em 2012, Hebony Carla Santana ingressou no curso de Licenciatura em Matemática. Ela explica que a graduação exige muita dedicação e que, para conseguir dar continuidade aos estudos, teve que abandonar seu emprego: “O apoio financeiro dos meus pais foi fundamental, mas as bolsas oferecidas na universidade são imprescindíveis para que alunos em condições semelhantes a minha consigam estudar”.

Apesar disso, para a coordenadora do curso de Licenciatura em Matemática, Elisabeth Cristina de Faria, o valor das bolsas oferecidas ainda é baixo e, consequentemente, não atrai muitos alunos. Ela afirma que a maioria dos estudantes de licenciatura são alunos que precisam trabalhar para se sustentarem, por isso, durante o curso, optam por empregos em outras áreas ou por estágios não obrigatórios. “Existem estudantes que logo no início do curso passam a dar aulas em plantões e reforços de escolas privadas, substituem professores na rede pública de ensino ou dão aulas particulares”, contou.

Elisabeth Cristina de Faria explica que muitos de seus alunos não conseguem conciliar seus empregos com a dedicação exigida pelo curso: “Para muitos estudantes, formar em quatro ou sete anos não importa, afinal, eles já estão trabalhando. Assim, infelizmente, eles não conseguem desfrutar da formação exigida pela licenciatura”.

 

Bolsas de incentivo à licenciatura

 

Desafios para a docência – Segundo Mirian Fábia Alves, chefe de Assessoria de Licenciatura da Prograd, o atual desprestígio da profissão de professor e a baixa procura pela carreira revelam uma crise nas escolas, na organização social, nos valores, na cultura e na ética social. “Há uma discrepância entre o discurso centenário de que o Brasil só vai melhorar por meio da educação e nossa construção histórica de desvalorização do professor”, argumentou.

Além da baixa remuneração, Mirian Fábia Alves lembra que a precariedade na infraestrutura de muitas escolas e o número elevado de alunos por sala de aula também têm contribuído para a crise na docência. “Os professores se deparam com turmas, por oito ou dez horas diárias, com 40, 50 alunos. Enfim, um trabalho extremamente estressante e pouco valorizado”, relatou a chefe de Assessoria.

O assessor de Assuntos Institucionais da Reitoria da UFG, Nelson Amaral, defende que a realidade de desvalorização dos professores só poderá ser transformada com o estabelecimento de planos de cargo e salários para a carreira, com a definição de remunerações compatíveis com outras profissões que exigem a mesma formação, e de infraestrutura adequada nas escolas: “Só dessa forma a profissão deixará de ser vista como última opção de carreira para os alunos”.

 

“E O SALÁRIO OH...”

Jordana Silva, estudante do 2º período do curso de Letras da UFG, está confiante na escolha de sua carreira: “Certas áreas são muito visadas e o curso de Letras fica para escanteio, assim, aproveitei que adoro Português e que o mercado oferece promissora carreira na rede privada de ensino”.

Apesar do otimismo da aluna, para a maioria dos profissionais da educação, as realidades dos ensinos público e privado são bem diferentes. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), o piso salarial dos professores efetivos da Secretaria de Educação de Goiás (Seduc) varia de R$ 1.285,04 a R$ 2.570,08, dependendo da carga horária. Para os profissionais contratados temporariamente, a situação é ainda pior. Esses profissionais recebem R$ 8,37 por hora/aula, sem direito ao bônus anual por produtividade e de participar de greves. Já na rede privada, algumas escolas chegam a pagar mais de R$ 40,00 hora/aula.

Categorias: Licenciaturas carreira docente PROLICEN

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