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Universidade Federal de Goiás

Artigo: Os apostilados como ferramenta de ensino de leitura em Língua Portuguesa

Em 17/04/13 16:07. Atualizada em 24/11/14 14:13.

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Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás 
ANO VII – Nº 57 – ABRIL – 2013

Os apostilados como ferramenta de ensino de leitura em Língua Portuguesa

Texto: Sílvio Ribeiro da Silva* | Fotos: Arquivo pessoal

 Professor Sílvio Ribeiro da Silva - Jataí

 


Nos tempos atuais, o sistema de apostilado tem substituído bastante o livro didático (LD), principalmente na rede particular de ensino. Isso vem acontecendo porque o apostilado é considerado mais prático e dinâmico. No que se refere ao ensino do português, por exemplo, cabe fazermos uma pergunta: a maneira como o sistema de apostilado trabalha os eixos de ensino na disciplina Língua Portuguesa vem sendo feita de maneira eficiente, de modo a desenvolver os letramentos do aluno?


Os apostilados se diferem do livro didático porque, em geral, apresentam características como autoria conjunta, coletânea de abordagens que se estabelece pela pluralidade de concepções dos seus autores, confecção destinada a um público específico e reestruturação de acordo com os norteamentos institucionais.


Por mais que o professor seja o grande responsável pela formação do aluno em sala de aula, não há dúvida de que o material didático utilizado por esse aluno exerce forte influência no aprendizado. Segundo o Guia do Programa Nacional do Livro do Ensino Médio (BRASIL, 2008), em momento algum o material didático substitui o professor ou suas experiências pedagógicas. No entanto, pode ser um bom referencial para ampliar os trabalhos em sala de aula.


O material didático (apostilado) adotado pelas escolas da rede privada de ensino não passa por nenhum tipo de avaliação oficial antes de ser usado em sala de aula. Pelo fato desse material refletir no trabalho real desenvolvido pelo professor, indicando ainda a concepção de ensino da rede/sistema que o elaborou, é que se torna importante analisar a apresentação de propostas de ensino a serem efetivadas nas escolas.


Em estudo realizado em 2011, contemplado com bolsa PIBIC/CNPq, analisei a forma como dois dos sistemas de apostilados mais adotados na cidade de Jataí Goiás abordam o ensino de leitura e interpretação de textos escritos. Por uma questão ética, chamarei os referidos de sistema A (Sa) e sistema B (Sb).


Em linhas gerais, o material do Sa deixa de apresentar atividades voltadas para o desenvolvimento de capacidades implicadas na leitura proficiente, como o resgate de aspectos relevantes das condições de produção do texto, o reconhecimento do gênero e/ou do tipo de texto em jogo, por exemplo. Por outro lado, são comuns atividades que exploram a compreensão global, a localização de informações explícitas, a inferência de informações implícitas. Ocorre, ainda, certo desfavorecimento de experiências significativas de leitura pela total ausência de definição de objetivos para as atividades apresentadas. É comum a falta de inserção do texto em seus contextos sócio históricos de produção, bem como uma baixíssima exploração dos recursos linguístico-textuais que promovem a construção da textualidade.


Em se tratando do material do Sb, é comum a apresentação de atividades de vestibular, mescladas com atividades do próprio sistema. Assim, percebe-se que o material apresenta variação entre trazer uma proposta própria para o ensino da leitura e apresentar atividades de vestibular elaboradas por diferentes universidades brasileiras. É bastante corriqueiro observar ausência de seleção temática dos textos apresentados, bem como nenhum tipo de exploração de valores semântico-pragmáticos do vocabulário. Em relação a ambos os sistemas, acontece ausência da articulação que deve existir entre os eixos oralidade, leitura, escrita e análise linguística.


Para concluir, ressalto que o material didático sozinho não consegue efetivar uma prática de ensino eficiente, tendo em vista que o papel do professor é extremamente relevante nesse processo. Além disso, tem uma grande responsabilidade pela interação do aluno com o material textual e discursivo apresentado, promovendo o conhecimento a partir dessa interação. Se o material didático for excelente, mas o professor não conseguir desenvolver uma prática de ensino eficiente com o mesmo, os resultados não serão positivos. Alguns pesquisadores afirmam que um material didático qualificado não produz efeitos positivos se o professor não souber ensinar os objetos apresentados por ele. Evidencia-se, assim, a necessidade de investir na formação do professor, para que ele saiba o que fazer em sala quando se deparar com desafios que fazem parte do processo e para que saiba ampliar a abordagem didática apresentada pelo material a fim de desenvolver os letramentos do aluno em qualquer um dos eixos de ensino de Língua Portuguesa.

* Professor de Linguística Aplicada no curso de Letras/ Câmpus Jataí

Fonte: Ascom UFG

Categorias: artigo ensino leitura

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