Estudos preveem um cenário assustador para o Cerrado e a Mata Atlântica
Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás
ANO VII – Nº 58 – MAIO – 2013
Estudos preveem um cenário assustador para o Cerrado e a Mata Atlântica
País deve planejar a criação de unidades de conservação mediante as mudanças climáticas globais para evitar a extinção de espécies animais e vegetais
Texto e ilustração: Layane Palhares
O Brasil tem o compromisso de expandir sua área sob proteção legal por ser signatário da Convenção de Diversidade Biológica. No último acordo, sobre a Meta Global da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas (COP 10/CDB) de Aichi, em Nagoya, firmado em 2011, o Brasil comprometeu-se a proteger pelo menos 17% dos ecossistemas terrestres e 10% dos ecossistemas marinhos até 2020.
Dois estudos conduzidos ao longo dos últimos três anos pelo professor Rafael Loyola, do Laboratório de Biogeografia da Conservação da Universidade Federal de Goiás, apontam para a necessidade do país se dedicar ao avanço das Unidades de Conservação (UCs) para fazer frente aos efeitos das mudanças climáticas. Os estudos levantaram os impactos das mudanças climáticas para diferentes espécies de anfíbios e mamíferos do Cerrado e da Mata Atlântica e foram realizados em conjunto com o professor Ricardo Machado, da Universidade de Brasília (UnB), o doutorando do programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução (PPGEE-UnB), Frederico Faleiro, e com a doutoranda Priscila Lemes, do mesmo programa. Os estudos foram publicados nas revistas científicas Biological Conservation e PLoS ONE.
De acordo com as pesquisas realizadas, a melhor maneira de proteger a biodiversidade é por meio da criação de Unidades de Conservação. Entretanto, considerando as mudanças climáticas globais, mesmo as UCs poderiam deixar de proteger a biodiversidade nelas existente pois, uma UC climaticamente adequada hoje, pode deixar de ser daqui a 30 ou 50 anos. Em situações como essa, várias espécies são forçadas a migrar para outros locais climaticamente adequados ou enfrentar, no local onde vivem condições adversas, que podem levar à sua extinção.
Em geral, ao se definir uma área a ser protegida, são observadas suas características naturais e estabelecidos os principais objetivos de conservação. Segundo o professor Rafael Loyola, “a perda de boa parte dos anfíbios e mamíferos de um bioma pode ter consequências sérias sobre os chamados serviços ecossistêmicos. Por exemplo, os anfíbios são importantes por controlarem populações naturais de insetos e por limitar o crescimento de algas em riachos. Já os mamíferos, muitos deles são predadores, mantendo um balanço ‘saudável’ entre as espécies de um ecossistema, outros são herbívoros e controlam as espécies de plantas de um determinado lugar, vários são polinizadores (morcegos, principalmente) ou dispersores de sementes (porcos selvagens, lobo-guará, anta, etc), sendo essenciais para garantir a sobrevivência das plantas e produção de frutos”, explicou.
Impactos –As consequências dessas alterações do ambiente sobre os animais, em ambos os biomas, são os mesmos: um decréscimo acentuado de locais com clima adequado para as espécies, o que levaria a uma redução da distribuição geográfica das mesmas. Em alguns casos, como o dos anfíbios da Mata Atlântica, até 12% das espécies poderiam perder todos os locais adequados para sua sobrevivência. Os habitats em si não desapareceriam, mas se tornariam quentes ou secos demais, e para algumas espécies, nenhum lugar dos biomas ofereceria condições para a vida.
O Cerrado deve perder muito de sua cobertura original até 2080. Diante das mudanças climáticas e do desmatamento, apenas 20%, em média, da área de ocorrência das espécies conseguiria ser protegida, caso o Brasil se comprometesse a proteger 17% do bioma. Para propor novos locais para a criação de UCs, foram realizadas várias pesquisas que consideram não só as condições climáticas presentes nos locais onde as espécies vivem, mas também as distâncias que tais espécies poderiam percorrer em busca de locais adequados. Além disso, foram incluídas informações sobre onde estão os habitats remanescentes de Mata Atlântica e de Cerrado, de maneira que os novos locais são passíveis de conservação.
O professor Rafael Loyola explicou que para a escolha desses locais de maior importância para conservar a sobrevivência das espécies do Cerrado e da Mata Atlântica, foi usado o modelo global de circulação oceânico atmosférico (MCGA). Esse recurso, que é usado operacionalmente para previsão de tempo e, com as devidas modificações, baseado no mesmo modelo que já vem sendo usado na Austrália, Inglaterra e Canadá, também pode ser usado para a previsão de clima. “Com esse modelo conseguimos saber se as áreas propostas para a criação de UCs continuarão sendo climaticamente adequadas no futuro e, com esses resultados, podemos calcular se as espécies conseguiriam chegar até esses locais”, diz Rafael.
Para o Cerrado, o grupo foi ainda mais longe fazendo uma previsão, ano a ano, de perda de habitat na região. “Prever a perda de habitat é outro passo essencial, pois ainda que o clima de um local mantenha-se adequado no futuro, se aquele lugar for convertido em pastagem ou monoculturas, o que acontece muito no Cerrado, nenhuma ação concreta de conservação será possível. As espécies de grande porte são sempre as mais ameaçadas, pois ficariam isoladas. Encaixam-se nesse perfil a onça-pintada, a onça-parda, o lobo-guará, a anta e o tamanduá-bandeira”, observou Rafael Loyola.
O professor conclui que as pesquisas apontam para a necessidade de estudos mais densos e completos sobre a biodiversidade e sobre as ações que os governos, ONGs, setor privado e sociedade civil podem tomar: “O Brasil tem uma postura de liderança em negociações internacionais sobre a questão ambiental. É hora de pensar no futuro e fazer um grande plano nacional de adaptação do Sistema Brasileiro de Unidades de Conservação (SNUC – lei no 9.985, de 18 de julho de 2000) de acordo com as mudanças climáticas globais”, defendeu o professor.
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