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Universidade Federal de Goiás

Estudante surda ingressa no programa de pós-graduação em Ciências da Saúde

Em 03/06/13 17:01. Atualizada em 24/11/14 14:13.

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Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás 
ANO VII – Nº 58 – MAIO – 2013

Estudante surda ingressa no programa de pós-graduação em Ciências da Saúde

A conquista da professora da Faculdade de Letras, Renata Rodrigues, representa mais uma etapa na inclusão de pessoas com deficiência na UFG

Texto: Erneilton Lacerda | Fotos: Carlos Siqueira

Costuma-se falar que grandes mudanças começam com pequenos gestos. Não no caso de Renata Rodrigues de Oliveira, de 37 anos. Sua atitude de não desistir diante dos obstáculos pode ser considerada um grande gesto que está fazendo a Universidade Federal de Goiás (UFG) viver um momento histórico. Renata tornou-se, desde o dia 27 de abril, a primeira estudante surda de um programa de pós-graduação da instituição, ao ingressar no mestrado de Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina. A tendência agora é que outros estudantes deficientes sejam estimulados por essa conquista e ocupem o espaço da universidade.
Renata Rodrigues
Mesmo com as dificuldades, Renata explica que nunca pensou em desistir de fazer mestrado

Há dois anos a professora efetiva na área de Libras, na Faculdade de Letras da UFG, Renata Rodrigues, tentou o mestrado três vezes em outro estabelecimento de ensino, mas foi reprovada. Em entrevista ao Jornal UFG, auxiliada pela intérprete Núbia Flávia, ela diz que “sempre houve uma barreira muito grande, que era a dificuldade de comunicação. As portas para mim, infelizmente, não foram abertas.” Mesmo assim, ela não desistiu. Ao ser informada da existência de um projeto de pós-graduação voltado à área da surdez na UFG, não teve dúvidas: iria tentar novamente.

Na seleção da UFG, a maior dificuldade para Renata Rodrigues foi a prova de língua inglesa. “Minha língua materna é libras e o português é a minha segunda língua. Então, na verdade, o inglês representa uma terceira língua”, declara. Entretanto, dessa vez, deu tudo certo. “Certamente a minha entrada no mestrado pode fazer com que o espaço para os surdos seja ampliado nos programas de pós-graduação da UFG e de outras instituições. Foi um esforço enorme e uma vitória maior ainda, então, quero compartilhar com as pessoas que tenham alguma deficiência como eu.”

Agora a mestranda irá estudar a qualidade de vida da população surda, considerando diversos fatores nessa avaliação. “Estudarei, por exemplo, os impactos na qualidade de vida de um surdo, se essas pessoas têm uma família de ouvintes ou se tem na família outras pessoas na mesma condição auditiva.” Desta forma, a mestranda tem a expectativa de contribuir na criação de futuras ações que proporcionem à população surda melhores condições de vida.

O professor emérito da Faculdade de Medicina da UFG, Celmo Celeno Porto, foi quem aceitou orientar o projeto de Renata Rodrigues e garante que o seu contato com ela o fez repensar, inclusive, seu relacionamento com os alunos. “Precisei aprender e ainda aprendo muitas coisas em meu convívio com a Renata. Acredito que os colegas de mestrado dela também vão ganhar muito mais em seu aprendizado.”

Para o professor, a conquista não é somente dela, mas também das pessoas com deficiência e da própria Universidade Federal de Goiás. “A situação especial inovadora e ousada trazida pelo ingresso de Renata no Mestrado representa um ponto de inflexão na universidade, com o qual novas possibilidades de inclusão social deverão ser pensadas e postas em prática.”
estudantes  deficientes na Pós-Graduação
Neuma Chaveiro, Renata Rodrigues, Celmo Porto e Núbia Flávia comemoram a conquista que abrirá portas para estudantes deficientes na Pós-Graduação da UFG

A co-orientadora de Renata, professora Neuma Chaveiro, da Faculdade de Letras da UFG concorda com o professor Celmo Celeno Porto e acrescenta que “a universidade está mostrando que é possível, sim, incluir os estudantes surdos. A dificuldade é exclusivamente a de comunicação. Quando isso é solucionado, com a presença de um intérprete, esse estudante surdo pode estar em qualquer lugar da universidade.”

Durante todas as atividades acadêmicas Renata Rodrigues é acompanhada por um intérprete. A UFG disponibilizou dois intérpretes que traduzem para ela as aulas das disciplinas e as conversas com o orientador, entre outras atividades vinculadas ao projeto de pós-graduação, como o acompanhamento de defesas de teses e dissertações dos colegas do programa.

Há muitas chances da história de Renata Rodrigues inspirar outras pessoas com algum tipo de dificuldade, segundo Neuma Chaveiro. “Precisamos utilizar exemplos como o de Renata para mostrar que os obstáculos podem ser superados. A Universidade Federal de Goiás está aberta às diferenças e está disposta a acolher qualquer pessoa”, disse a professora.
 
Inovação – A UFG, em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), traduziu para Libras o instrumento de avaliação da qualidade de vida da OMS, o WHOQOL (World Health Organization Quality of Life) e desenvolveu um software desse instrumento em Libras. A professora Neuma  Chaveiro destaca que “o WHOQOL avalia o impacto da surdez na qualidade de vida das pessoas surdas que se comunicam pela língua de sinais, valorizando os aspectos culturais e linguísticos da comunidade surda”.
Assim que receber a aprovação da OMS, que detém os direitos sob o instrumento, o software estará disponível nos sites (http://www.medicina.ufg.br/qualidadedevida) e (http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol.html). Será de livre acesso para a comunidade científica, o que significa que novas pesquisas poderão ser realizadas.

Categorias: inclusão pós-graduação

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