O caminho entre uma cesárea, um parto em casa e o trabalho de doula
Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás
ANO VII – Nº 67 – Setembro – 2014
O caminho entre uma cesárea, um parto em casa e o trabalho de doula
Texto: Kharen Stecca | Foto: Sílvia Helena Ferreira
Existe uma cultura no Brasil de que o parto é sinônimo de dor e deve ser rápido. No entanto, para algumas mulheres, que conseguem informações e apoio, parto não precisa ser sinônimo de problema, mas um rito de passagem, uma experiência sublime que muda completamente sua visão de mundo.
Aline Willik, jornalista, é uma dessas mães que por meio do parto se transformou. Antes de engravidar de sua primeira filha, hoje com sete anos, a jornalista já tinha certeza que queria ter seus filhos por parto na água: “Li um livro sobre o parto na água e a ideia de meu filho não sofrer, não chorar no parto passou a ser prioridade para mim”. Porém, suas expectativas não se concretizaram no primeiro parto. Com 40 semanas, após um exame que avalia a vitalidade do bebê, Aline Willik foi levada a uma cesárea que, após muitos anos, entendeu não ter sido necessária, mas conveniente ao sistema. “Confiei na médica. Em geral, todos confiamos tanto nos médicos, que duvidar parece estranho”, relatou.
Cinco anos depois, na gestação do segundo filho, ao se consultar com a mesma obstetra, percebeu que poderia ser levada novamente a uma cesárea. Então, ela começou a buscar por um parto natural: “Queria uma médica, que atendesse por plano de saúde e fizesse parto humanizado e na água. Quando disse isso na internet, as pessoas riram. Porque isso não existe”. Quando conheceu um médico indicado nos grupos das redes sociais, Aline Willik fez uma sabatina e percebeu que havia encontrado um aliado. Descobriu também que o parto na água em Goiânia é clandestino. “As maternidades de Goiânia não têm local próprio para isso e, formalmente, também não é possível ter um bebê fora do centro cirúrgico. O parto na água acontece na surdina nas maternidades”, explicou. O medo de que essa clandestinidade não permitisse que tivesse o parto na água fez com que ela decidisse ter seu parto em casa.
Com a ajuda de uma enfermeira obstetriz e uma doula voluntária, que só conheceu no trabalho de parto, Aline Willik teve seu segundo filho em casa, na água, com marido e filha presentes. Foi a partir dessa experiência e também da relação estabelecida com a doula que a atendeu voluntariamente, que ela decidiu ajudar mulheres a terem seu parto humanizado.
“É um trabalho de formiguinha. Cada mulher que se empodera e tem o seu parto respeitado é uma vitória para o movimento do parto humanizado. Foi pela vontade de ajudar mais mulheres a ter essa experiência que decidi ser doula”, relatou a jornalista, mãe e, atualmente, doula.
Para se capacitar, Aline Willik fez um curso em uma empresa de Brasília ligada à Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento (Rehuna). Ela conta que em Goiânia existem apenas os cursos das maternidades e que as doulas são formadas para atender dentro delas. No entanto, Aline Willik, que conhece diversas doulas que trabalham em maternidades, explica que elas acabam vendo determinadas condutas que caracterizam violência obstétrica e por isso, optou pelo curso fora das maternidades.
Momentos marcantes como doula
Para Aline Willik, um dos primeiros partos na água, acompanhado por ela, foi a experiência que mais lhe marcou: “Encontrei a Natália no Facebook, querendo um médico humanizado pelo Ipasgo. Expliquei a ela que não existia esse médico e como ela poderia fazer para ter um parto humanizado. Ela trocou de médico com 38 semanas de gestação, pagou o parto particular com dificuldades e eu fui sua doula voluntariamente. Como não tive tempo de trabalhar alguns conceitos com ela durante a gestação, o que chamamos de empoderamento, a Natália me chamou muito cedo. Estava com a bolsa rompida, o que faz com que as contrações sejam mais fortes. Ela começou a sentir contrações a uma hora da manhã, chamou-me às oito da manhã e eu fiquei com ela até seu bebê nascer. A bebê só encaixou no final, depois da dilatação total. A cada contração ela vocalizava e não gritava. A bebê dela, como o meu, não chorou ao nascer. Ver a emoção dela ao ver que a bebê não havia chorado me marcou”.
Aline Willik, como jornalista, protagonizou uma série sobre o parto humanizado na TV Brasil Central. “Para a série, acompanhei um parto normal e uma cesárea. Na cesárea, a mãe não vê o que acontece com o bebê depois que ele nasce. A equipe coloca uma cânula no bebê, a criança, que está sem ar, é chacoalhada, sacudida. A mãe só vê o bebê quando ele chora e não todo esse procedimento. Porém, não há interesse em desmistificar isso. O parto cesariano é interessante para o sistema – médico, plano de saúde, hospital – só não é interessante para a mãe e o bebê,” disse.
Nesta Edição
Categorias: parto humanizado doula parto Saúde
Arquivos relacionados | Tamanho | Assinatura digital do arquivo |
---|---|---|
67 P6-7 | 1003 Kb | f74d29b55de21793df369c281b433b51 |