Vacina contra a tuberculose pode sair dos laboratórios da UFG
Vacina contra a tuberculose pode sair dos laboratórios da UFG
Proteína que resultou no registro de uma patente tem apresentado resultados satisfatórios e deve virar vacina
Texto: Alex Maia | Fotos: Carlos Siqueira
O Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG), vem trabalhando há 14 anos para a obtenção de uma vacina capaz de prevenir a infecção pela micobactéria (Mycobacterium tuberculosis) causadora da tuberculose. Nos laboratórios do IPTSP, professores e alunos de graduação, mestrado e doutorado dos cursos de Biomedicina, Farmácia, Medicina Veterinária e Ciências Biológicas, trabalham juntos para o desenvolvimento da vacina a partir de bactérias inofensivas ao ser humano. Os testes já realizados obtiveram resultados satisfatórios em animais, o que deixou pesquisadores otimistas.
“O serviço de saúde disponibiliza a BCG (Bacillus Calmette-Guérin) que protege as crianças até os dez anos de idade, mas estamos desenvolvendo uma vacina que continua protegendo quem já foi vacinado para recuperar o que chamamos de memória imunológica”, explica a coordenadora da pesquisa, Ana Paula Kipnis. Neste trabalho, juntamente com sua equipe, a pesquisadora testa a eficácia de uma nova proteína quimérica, obtida pela combinação de diversas proteínas. Essa novidade resultou no registro de uma patente e os bons resultados dos estudos despertaram o interesse internacional.
Uma empresa australiana de biotecnologia está trabalhando em conjunto com os pesquisadores para formular a vacina a partir da proteína patenteada pela UFG visando a produção e comercialização em larga escala. “Testamos em vários modelos até ter a certeza da eficácia da proteína. Fomos convidados por uma empresa australiana para fazer uma formulação usando um produto próprio dessa empresa, o que proporcionaria a produção em larga escala”, detalha Ana Paula Kipnis.
Na fase atual, a equipe do IPTSP realiza testes em animais com a combinação entre a vacina e a fórmula da empresa. A coordenadora do projeto lembra que estão sendo feitos testes em animais e que a produção em larga escala depende do sucesso desses testes. “Estamos aplicando a mistura em camundongos e analisando se os resultados serão próximos ou similares aos que tivemos quando só testamos com a nossa vacina, para posteriormente testá-la em humanos", completa.
Professores e alunos trabalham no desenvolvimento do medicamento
Reforço à BCG
Professor da Faculdade de Medicina e pneumologista do Hospital das Clínicas da UFG, Marcelo Rabahi conheceu a pesquisa e elogiou a iniciativa. “A tuberculose é um problema de saúde pública e qualquer iniciativa para melhorar o tratamento, o diagnóstico ou a prevenção, é sempre bem-vinda. Essa proposta é de um valor imenso para a saúde”, destaca o professor. Ele explica a diferença entre a BCG, vacina usada atualmente para combater a doença, e a vacina desenvolvida pelo IPTSP: “A BCG protege contra as formas graves da doença, mas ela não tem uma proteção eficaz contra a forma habitual que é a tuberculose pulmonar, responsável pela transmissão da doença. O que a vacina desenvolvida pelo IPTSP faz é reforçar a BCG e proteger contra todas as formas da tuberculose”.
A paciente do Hospital das Clínicas, a dona de casa, Maria do Socorro Nunes, também se animou com a possibilidade de uma vacina contra a Tuberculose. Ela já presenciou casos da doença na família e acredita que o novo medicamento é uma “ótima” notícia para quem já conviveu com a doença. “Apesar de existir o tratamento, uma vacina seria ótima para todo mundo. Já vivenciei esta situação com meu marido e sei o quanto a doença é ruim”, afirma.
Estudos e testes da pesquisa foram realizados nos laboratórios do IPTSP-UFG
Doença ainda preocupa
O Ministério da Saúde estima que um terço da população mundial esteja infectada, embora nem todos venham a desenvolver a doença. Anualmente são notificados cerca de nove milhões de novos casos em todo o mundo, levando mais de um milhão de pessoas a óbito. No Brasil, a Tuberculose é um sério problema da saúde pública, com profundas raízes sociais. A cada ano são notificados aproximadamente 70 mil novos casos e 4,6 mil mortes em decorrência da doença. A enfermidade afeta principalmente os pulmões, mas pode se espalhar para outros órgãos. O país ocupa o 17º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de Tuberculose no mundo.
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Categorias: Saúde IPTSP tuberculose