ENTREVISTA: Juan Bernardino Marques Barrio - Contemplar o céu é preciso
ENTREVISTA: Juan Bernardino Marques Barrio
Contemplar o céu é preciso
Texto: Kharen Stecca | Foto: Carlos Siqueira
"O Planetário é uma constante fantasia, um sonho. É uma utopia. Não vou chegar no pote de ouro no final do arco-íris nunca, mas eu quero caminhar para lá. No nível coletivo, quero dar às pessoas o que acho fantástico, o que me faz feliz"
O Planetário da UFG, vinculado ao Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), completou, em outubro de 2015, 45 anos. O planetário mais antigo do Brasil, localizado no Parque Mutirama, é um marco tanto para a Universidade, quanto para a cidade de Goiânia. É um local onde conhecimento é gerado, mas também é um ponto turístico. Mais de 25 mil pessoas assistem por ano as sessões do Planetário que ocorrem todos os domingos e também com agendamento para escolas. Para falar um pouco sobre a trajetória desse espaço museológico, conversamos com o atual diretor do Planetário da UFG, Juan Bernardino Marques Barrio, que se dedica há 26 anos ao trabalho nessa Unidade. Confira a entrevista.
O que se destaca na história do Planetário da UFG?
O Planetário da UFG é o mais antigo em funcionamento no Brasil. Antes dele existiam apenas o Planetário do Ibirapuera, em São Paulo, e o da Escola Naval do Rio de Janeiro, ambos hoje fechados. Nós conseguimos ao longo desse período não parar de funcionar, exceto entre 1974 e 1977 quando, por problemas de infraestrutura física, houve um fechamento temporário. Uma característica do Planetário é que, nos últimos dez anos, entregamos para a sociedade mais do que atividades lúdicas e de extensão. Temos as disciplinas de graduação na Universidade e também um programa de pós-graduação de Mestrado e Doutorado em Educação em Ciências e Matemática. O Planetário tem sido sempre uma referência no país. Temos, hoje, quatro professores trabalhando no Planetário, o que não é comum. Todas as sessões do Planetário são ministradas por um dos professores. Fazemos questão disso, o que faz diferença porque sempre realizamos um diálogo com os alunos após a sessão. Hoje o Planetário também é a sede permanente da Associação Brasileira de Planetários, da qual sou o atual presidente e o professor Paulo Henrique Sobreira, o tesoureiro. Isso nos dá também outra perspectiva dentro dos planetários brasileiros.
O aparelho é o mesmo desde a criação do espaço?
O aparelho é o mesmo e isso é um de nossos luxos. Esse tipo de aparelho antigo tem maior facilidade de manutenção com uma qualidade de céu que os novos equipamentos não têm. No Planetário Móvel – uma estrutura inflável que pode ser levada para outros locais a fim de realizar exibições – que é digital, fazemos projeções de filmes produzidos. No fixo, como é o nosso no Parque Mutirama, temos um céu permanente, onde trabalhamos com esse céu e, com os projetores auxiliares, fazemos novos efeitos. Brinco dizendo que temos um fusquinha que funciona perfeitamente. Às vezes é preferível um fusquinha do que uma Ferrari que você não consegue dar manutenção. E isso é o que acontece com os equipamentos modernos: de alto custo, com upgrades constantes e caros.
Qual a influência do Planetário hoje para Goiânia e para a UFG?
Internamente o Planetário atende ao tripé da Universidade: ensino, pesquisa e extensão. Temos uma série de disciplinas na graduação para cursos como Física, Ciências Biológicas, Ciências Ambientais e Geografia, além dos Núcleos Livres, nos quais os alunos têm aulas no Planetário. Na extensão, atendemos uma quantidade significativa de estudantes da educação básica, cerca de 25 mil por ano. Atendemos os grupos de forma personalizada, por faixa etária e grau de escolaridade. Na área de pesquisa, temos vários projetos financiados pelo CNPq, que estão vinculados a projetos de pós-graduação. O Planetário tem uma função importante do ponto de vista institucional e continua sendo um espaço para a comunidade.
Quais os planos futuros para o Planetário?
Na área externa do Planetário temos um projeto, já aprovado pelo CNPq, de construir dois observatórios didáticos. Só depende da liberação do recurso. A infraestrutura física para a instalação será feita com recursos do próprio Planetário. Queremos construir uma pequena réplica de Stonehenge (ruínas da Inglaterra, que misturam conhecimento religioso com conhecimento astronômico, um símbolo da Astronomia antiga) e um Sistema Solar, ao longo do túnel do trenzinho no Mutirama. E também um laboratório didático de Astronomia e Astronáutica na parte superior do Planetário, que tem cerca de 450 metros de área, preservando a arquitetura do prédio.
O senhor está no Planetário desde 1989. O que significa, pessoalmente, o Planetário em sua vida?
Em 2003 fui convidado a ficar na Europa dirigindo um espaço museológico, um Espaço da Ciência com Planetário. Um espaço novo, recém-inaugurado, para morar a 200 metros do local de trabalho, e não aceitei. Preferi voltar para o meu canto. O Planetário é uma constante fantasia, um sonho. É uma utopia. Não vou chegar no pote de ouro no final do arco-íris nunca, mas eu quero caminhar para lá. No nível coletivo, quero dar às pessoas o que acho fantástico, o que me faz feliz. Eu me sinto bem e ofereço às pessoas algo que acho fundamental, o conhecimento, podendo entendê-lo sem muito misticismo, mostrando a beleza de olhar para o céu. Nos últimos 12 anos, desde que voltei do doutorado, acredito que crescemos muito, mas ainda temos muito pela frente. Meus sonhos pessoais acabaram me levando para o Planetário. Muitos espaços museológicos têm um pouco de personalismo e há críticas quanto a isso, mas eu acho que se alguém não dá sequência ao trabalho, ele é interrompido e morre. Espaços museológicos precisam disso e, enquanto puder, o Planetário é a minha casa. Ver as pessoas saírem de lá felizes é o que é importante. Eu já poderia aposentar, inclusive, mas vou esperar que me mandem embora!
Você pode participar enviando sugestões de temas e convidados pelo telefone: 3521-1311 ou jornalismo.ascom@ufg.br
Para ler o arquivo completo em PDF clique aqui
Nesta Edição
Fonte: Ascom UFG
Categorias: entrevista Planetário Juan Bernardino Marques Barrio 45 anos do Planetário