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Universidade Federal de Goiás

ARTIGO: Periódicos Predatórios: o lado negro do open access

Em 23/11/15 10:29. Atualizada em 25/11/15 08:29.

 

ARTIGO: Periódicos Predatórios:  o lado negro do open access

Texto: Daniel Brito* | Foto: Divulgação

 

Prof Daniel de Brito 

 

A comunidade científica vem debatendo melhorias na forma de divulgar suas descobertas. As revistas tradicionais, que cobram uma taxa para que o leitor tenha acesso aos artigos publicados, têm sido bastante criticadas. As revistas open access, onde os autores arcam com o custo de publicação, que é disponibilizada gratuitamente para o público, ganharam força. O número de editoras open access aumentou rapidamente. Em um mundo científico competitivo, este crescimento rápido e desregulado do sistema se mostrou um campo fértil para profissionais antiéticos, aproveitadores, pseudocientistas, e até mesmo criminosos.

 

Em 2013, um manuscrito com sérios erros de desenho amostral, análise de dados e interpretação de resultados, que seriam facilmente detectados por qualquer profissional, foi submetido para centenas de revistas do sistema open access. O manuscrito foi aceito na maioria delas, sem nenhum processo de revisão. Este é um exemplo, dentre uma quantidade crescente de evidências, que mostram que a maioria das editoras open access é fachada para aproveitadores que perceberam um mercado lucrativo em potencial. Eles estão interessados apenas em receber as taxas de publicação e nem um pouco preocupados com a qualidade da ciência publicada em suas revistas.

 

Existem revistas com corpos editoriais fantasmas ou que usam indevidamente o nome de pesquisadores conhecidos. Uma revista chegou a incluir um pesquisador falecido como seu editor chefe! As editoras tradicionais apresentam um volume grande de submissões e uma dificuldade de encontrar revisores. Isso faz com que o processamento de um manuscrito dure meses.

 

Uma das iscas muito usadas por revistas open access é alardear um tempo incrivelmente rápido de processamento (de poucos dias ou semanas). Na maioria dos casos não existe processo de revisão por pares, e o que limita o tempo de publicação é o quanto os autores demoram para pagar a taxa de publicação. Pesquisadores antiéticos aproveitam para inflar seus currículos, publicando manuscritos que seriam rejeitados em revistas sérias. Pseudocientistas encontraram o veículo perfeito e publicam pseudo-artigos (“comprovando” astrologia, criacionismo, homeopatia, OVNIs, etc), dando um falso status de comprovação científica para temas que não possuem nada de ciência. Estas revistas inclusive são palco de crimes, onde cópias de outros artigos, livros e/ou teses são publicados.

 

Como resultado destas práticas, as revistas open access estão recheadas de pseudociência, plágio e artigos de péssima qualidade. As consequências disso vão muito além de prejudicar o avanço da ciência. Um público leigo pode não saber distinguir entre uma revista confiável e uma fraudulenta, entre um artigo científico e um pseudocientífico. Isso fica evidente quando a mídia divulga notícias de resultados “científicos” encontrados nestas revistas.

 

Um exemplo é o aumento de casos de diversas doenças erradicadas ou controladas nos Estados Unidos (ex: sarampo) em virtude de movimentos anti-vacinação. Estes movimentos usam argumentos pseudocientíficos publicados em artigos falaciosos para relacionar vacinas com aumento nos casos de autismo em crianças. Um grande volume de pesquisas sérias demonstram que tal relação não existe e as vacinas são seguras. Um problema de saúde pública que existe apenas por uma educação científica falha, e reforçado por pseudociência sendo publicada e divulgada como ciência séria.

 

O processo tradicional não é perfeito e tem muito o que melhorar, mas é definitivamente mais cuidadoso com a qualidade da informação. O sistema open access possui revistas sérias (por exemplo, as do sistema PLoS), mas estas são uma minoria em um imenso mar de lama. No Brasil, mais de 200 revistas predatórias estão no sistema QUALIS da CAPES. Ao incluir tais revistas nos sistemas nacionais de avaliação, estamos prejudicando pesquisadores éticos e responsáveis, e beneficiando pesquisadores antiéticos e/ou de baixa qualidade, além de prejudicar o avanço e a credibilidade da ciência e das instituições de pesquisa brasileiras.

  

* Professor do Laboratório de Ecologia Aplicada e Conservação - Departamento de Ecologia, UFG

 

Para ler o arquivo completo em PDF clique aqui

 

Fonte: Ascom UFG

Categorias: artigo open acess Periódicos Opinião