Cursinho comunitário comemora 10 anos
Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás
ANO VII – Nº 54 – NOVEMBRO/DEZEMBRO – 2012
Cursinho comunitário comemora 10 anos
Projeto de extensão promove vivência prática aos estudantes de licenciatura e amplia a possibilidade de acesso à universidade
Texto: Ana Flávia Marinho | Fotos: Divulgação
Há 10 anos nasceu a ideia de um projeto de extensão diferente do habitual no Câmpus de Jataí (CAJ). Professores e graduandos preocupados com a formação dos estudantes do CAJ e interessados em ampliar as oportunidades de acesso à universidade, organizaram-se para criar um curso pré-vestibular destinado às pessoas que não pudessem pagar pelo serviço. Surgia o Cursinho Atitude.
Os primeiros coordenadores do cursinho, Aliny Ladd, Fernando Ladd e Paulo Xavier, na época alunos de Ciências Biológicas, dedicaram-se a planejar e a executar um projeto, cujo objetivo era aumentar a competitividade dos alunos de escolas públicas no vestibular. “Durante o desenvolvimento deste projeto, os acadêmicos que ministravam as aulas foram transformados por uma realidade que até então só era teoria nos bancos desta universidade. Eles tiveram de refletir sobre o processo de ensino e aprendizagem e sobre os significados de cidadania e inclusão social”, explica Aliny.
As aulas, ministradas por alunos de graduação do CAJ, tiveram um fator positivo. Dos 23 cursos de graduação do câmpus, 10 são de licenciatura, o que contribui para o interesse dos universitários pela docência. Apesar disso, bacharelandos também planejam e ministram algumas aulas do projeto.
O projeto começou modesto, apenas com aulas de Biologia. Após 10 anos, o Atitude conta com números significativos de aprovação no vestibular (dos 15 alunos que prestaram vestibular no meio do ano, 10 passaram) e com muitas histórias de sucesso alcançado por pessoas que não imaginavam cursar uma faculdade.
História – O Atitude inaugurou as atividades em maio de 2002. Inicialmente ele atendia apenas os funcionários terceirizados do câmpus. Mais tarde estendeu-se à comunidade geral sem condições financeiras de pagar um cursinho particular, e hoje o projeto recebe cerca de 80 pessoas por dia.
Um dos idealizadores do cursinho foi o professor de Agronomia da UFG, Helder Barbosa Paulino, que participou de uma iniciativa semelhante em Ilha Solteira (SP). “Quando cheguei em Jataí, quis retribuir”, explica, orgulhoso das conquistas do cursinho.
Em 2011 os organizadores aceitaram mais um desafio: receber os dois primeiros alunos com deficiência auditiva. O cursinho contribuiu para a formação escolar desses estudantes e hoje eles cursam Pedagogia e Engenharia Elétrica.
Durante as reuniões de planejamento, a escala dos professores é montada de forma a não prejudicar os horários de aulas. Inicialmente foram selecionados 25 graduandos de diversos cursos para lecionar, de forma voluntária, nove disciplinas.
Para a primeira turma, o processo de seleção recebeu 300 inscrições. Em virtude da falta de espaço, foram selecionados 70 alunos divididos em duas turmas. “A seleção dos candidatos sempre teve como premissa favorecer os alunos com menor poder aquisitivo, maior disposição para o estudo e vontade de vencer os obstáculos que porventura pudessem aparecer”, esclarecem Aliny e Fernando Ladd. A partir de 2004, foi possível selecionar 125 pré-vestibulandos, divididos em turmas noturnas e vespertinas.
Turma do Cursinho Atitude prepara-se para o próximo vestibular. Durante esses 10 anos, mais de 800 alunos já foram beneficiados pelo projeto de extensão
O cursinho – Rones de Deus Paranhos, hoje professor do Instituto de Ciências Biológicas em Goiânia, relembra os momentos passados desde a idealização do cursinho até a implantação. Ele participou do processo desde o inicio, sendo um dos primeiros professores e, mais tarde, coordenador do Atitude.
Rones relembra que muitos alunos que participavam do cursinho e eram aprovados no vestibular voltavam para dar aulas no Atitude. Aliny Ladd afirma que esse número chega a passar da metade, pois, segundo ela, “80% dos pré-vestibulandos que ingressam na universidade voltam ao cursinho como professores voluntários daqueles que agora desejam pleitear uma vaga no CAJ”.
A história da atual coordenadora do cursinho representa um caso de sucesso. Jéssica Cezário, hoje com 19 anos, foi aluna no ano de 2009. Ela frequentava as aulas pré-vestibular à tarde, estudava no colégio regular pela manhã e ainda trabalhava à noite. Aprovada para o vestibular de Psicologia, Jéssica retornou para o cursinho como coordenadora já em 2010. “Comecei com 17 anos, foi um choque. Depois que eu vi os meninos passando no vestibular foi muito prazeroso. É um prazer encontrar os alunos na universidade e saber que eu pude ajudar”, comenta, satisfeita com os resultados já obtidos.
Apesar de ser gratuito, a coordenadora explica que vários estudantes abandonam o cursinho, geralmente em busca de empregos. Por causa das desistências, além das duas turmas de 30 alunos abertas no início de ano, mais uma é aberta para o segundo semestre. Como as turmas são reduzidas, Jéssica afirma que as aulas são mais dinâmicas.
Resultados – O sucesso do Cursinho Atitude nos vestibulares chegou cedo, já no primeiro ano de existência. Dos 70 alunos que ingressaram, 40 prestaram vestibular, sendo 15 aprovados no CAJ, e dois no Instituto Federal de Goiás (IFG) de Jataí. O cursinho obteve o segundo índice mais alto de aprovação no CAJ no ano de 2003. “Após este sucesso, os acadêmicos que ministraram aulas no cursinho foram procurados por diversos cursos particulares preparatórios para vestibular, para ingressarem no quadro de professores”, relembra Fernando Ladd.
O prestígio que o cursinho conquistou não deslumbra Rones Paranhos. “O resultado maior é a possibilidade de inserção social. Os resultados não devem ficar restritos a um ranking de aprovação”, afirma. Mesmo não achando que o cursinho deixe todos os vestibulandos no mesmo patamar, Rones acredita que ele “proporciona uma competição mais igualitária”.
Comunidade FazArte oferece cursinho no Câmpus Samambaia
No Câmpus Samambaia é desenvolvido o FazArte, projeto que também atende alunos sem condições financeiras de pagar aulas particulares. Hoje o projeto de extensão oferece aulas complementares pré-vestibular, mas não foi sempre assim. Com início em 2005, o FazArte oferecia aulas para a área artística, uma iniciativa dos moradores da Vila Itatiaia e estudantes da UFG.
Mais tarde, alguns membros do FazArte reuniram-se para ministrar aulas de reforço no colégio estadual do setor. Já em 2007, tornou-se um projeto de extensão da UFG como cursinho pré-vestibular, com aulas na Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia (FACOMB). O cursinho abre semestralmente quatro turmas com 50 vagas. As admissões são feitas após análise de questionário socioeconômico, apenas para alunos que fizeram ou estejam concluindo o ensino médio em escola pública.
A coordenadora do projeto de extensão e professora da Facomb, Luciene Dias, ressalta que a comunidade FazArte começou como uma iniciativa totalmente independente. “Não somos nós que vamos para a comunidade, mas a comunidade que vem para a UFG”, afirma. Segundo ela, “o FazArte extrapolou os muros da universidade”.
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